
![]() Nas Terras Perdidas
Original:In the Lost Lands
Ano:2025•País:EUA, Alemanha, Canadá Direção:Paul W.S. Anderson Roteiro:Paul W.S. Anderson, Constantin Werner, George R.R. Martin Produção:Paul W.S. Anderson, Dave Bautista, Jeremy Bolt, Milla Jovovich, Robert Kulzer, Jonathan Meisner, Constantin Werner Elenco:Milla Jovovich, Dave Bautista, Arly Jover, Amara Okereke, Fraser James, Simon Lööf, Deirdre Mullins, Sebastian Stankiewicz, Eveline Hall, Nicolas Stone |
É ponto pacífico que Paul W.S. Anderson faz o mesmo filme desde 2002, com pequenas variações em sua estrutura. Além de contar com Milla Jovovich, sempre com a mesma expressão de modelete de Milão, o cineasta parece preso ao recurso de Matrix de explorar a ação em slow motion, entre outros cacoetes cinematográficos. Assim são a longa franquia Resident Evil e produções aparentemente isoladas como Os Três Mosqueteiros (2011), Pompeia (2014) e Monster Hunter (2020). Ainda que você não curta o estilo, pelo menos sabe o que irá encarar, como aquele lanche esquecível e desnecessário de qualquer fast food de fim de semana. Dessa forma, eu já imaginava que Nas Terras Perdidas (In the Lost Lands, 2025) fosse um Resident Evil 9 gourmet, com Jovovich com lança-foguetes, lâminas tortas e a habilidade de chutar o traseiro de monstros diversos, até alcançar os créditos finais e descobrir que estava enganado. E isso não é um elogio ao filme.
Nessa nova empreitada, o roteiro de Anderson e Constantin Werner tem a base do argumento a partir de um conto de George R.R. Martin, nome responsável pelo universo Game of Thrones. Ter a referência não significa que verá algo extraordinariamente épico em cena, mas Anderson pensou no filme dessa forma. Trabalhou com uma fotografia absoluta em chroma key para apreciadores de 300 (2006) e Sucker Punch (2011), que já sabem que o longa pode ter sido filmado inteiramente em estúdio e os personagens ficam com cara de sonso, olhando para a tela, seja em um trem saltando de um vale ou em cenários com nomes de lugares como o de um mapa de tesouro, faltando apenas o X. Soa cafona como um suco de frutas artificial ao tentar emular um mundo pós-apocalíptico de graphic novel.
A gênese de Nas Terras Perdidas se desenvolveu em 2015, quando Constantin Werner adquiriu o direito de adaptar três contos de George R.R. Martin: “The Lonely Songs of Laren Dorr“, “In the Lost Lands” e “Bitterblooms“, tendo Milla Jovovich já no papel da bruxa Gray Alys, enquanto Justin Chatwin atuaria como Boyce. Felizmente, os deuses do cinema impediram que esse desastre fosse realizado, e o projeto foi engavetado até 2021, com o envolvimento de Paul W. S. Anderson. A realização estava prevista para acontecer o mais tardar no ano seguinte, com o cineasta descrevendo o futuro filme como um “faroeste pós-apocalíptico” – na verdade, virou apenas um Mad Max feito com um computador moderno, incluindo seus exageros artificiais.
As filmagens tiveram início em novembro de 2022 e perduraram até fevereiro do ano seguinte entrando em um longo processo de pós-produção, já com a entrada do fortão simpático Dave Bautista no lugar de Chatwin. Previsto para estrear em setembro de 2024, a Vertical, que adquiriu os direitos de distribuição – afetada pelos deuses cinematográficos -, adiou para janeiro de 2025 e depois para março. Como não deram ouvidos às entidades que regem o Cinema, o filme foi até o momento bem mal nas bilheterias: conquistou até o momento quase US$ 5 milhões de dólares para um custo de US$ 55, com apenas 25% de críticas positivas no Rotten Tomatoes – gostaria realmente de entender como Nas Terras Perdidas conseguiu qualquer avaliação que não seja uma que defenestre seus realizadores e os impeça de adaptar mais trabalhos do escritor.
Tem início com Boyce (Bautista) se dirigindo ao público, como Milla Jovovich fez em Contatos de 4º Grau, para dizer que a narrativa não é um conto de fadas e não terá um final feliz. Guerras consumiram o planeta, transformando-o em um imenso deserto “habitado por criaturas deformadas“, apelidado de Terras Perdidas. O que restou da humanidade se concentra em uma única cidade, governada pelo Senhor Supremo (Jacek Dzisiewicz) e pela Igreja com os comandos do Patriarca (Fraser James). Nesse contexto, a feiticeira Gray Alys (Jovovich) está sendo enforcada sob as ordens da Executora (Arly Jover) até que utiliza o poder da ilusão para distrair o carrasco e escapar. Boyce também é apresentado em combate, usando como arma uma cobra de duas cabeças.
Enquanto a Executora monta uma milícia para perseguir a bruxa fugitiva, Grady volta a sua rotina de atender pedidos, em um abrigo cuidado por uma cega (Eveline Hall). Ela atende a Rainha (Amara Okereke), esposa do Senhor Supremo, que pede um lobisomem até a próxima Lua Cheia, e também Jerais (Simon Lööf), com planos de buscar o fracasso do império. Como Grady jamais recusa um pedido, ela se organiza para uma missão nas Terras Perdidas em busca do licantropo em seu covil no Rio das Caveiras, habitat de um tal de Sardor, convocando Boyce como guia em troca de valores. Ele já adianta uma fala clichê de produções de terror épicas: “Ninguém nunca retornou de lá.”
E, a partir de então, começa a “jornada do herói“, com a dupla atravessando lugares no mapa com dizeres exagerados, fugindo em um bonde ou a cavalo do grupo da Executora. Durante o percurso, encontram conhecidos de Boyce como Ross (Sebastian Stankiewicz) e Mara (Deirdre Mullins) e enfrentam uns demônios-árvores, com o auxílio da ilusão desenvolvida por Grady. A narrativa cria uma grande expectativa pelo confronto final entre a Executora e a protagonista, e até em relação a Igreja e a Rainha, mas tudo transparece facilitações do roteiro. Até o encontro com o lobisomem digital fugido de Teen Wolf é sem graça e pouco empolgante.
Com um visual artificial desinteressante, jorrando tela verde e chroma key em todos os frames, absolutamente nada se salva em Nas Terras Perdidas. Designer de Produção de cansar os olhos, figurino brega, sequências de ação de despertar bocejos…até o carisma de Bautista é ofuscado pela falta de química com Jovovich. Era para ser um casal, intencionar um romance que se desenvolve pela missão, mas não flui bem sob os olhares de seu marido diretor. O roteiro tenta ser inteligente, mas é só mais um produto estúpido de Anderson, que não conseguiu fazer o básico: um filme de entretenimento.
Passe bem longe das Terras Perdidas! Não pelos perigos de monstros indizíveis que não irão aparecer ou pela perseguição da Igreja, mas pelo risco de você dormir antes dos créditos. Ao final, fica uma vontade extrema de encontrar por aí a bruxa do mantra “Eu não recuso ninguém” e pedir para desver esse novo trabalho de Paul W.S. Anderson, embora isso organicamente irá acontecer.