Monster Hunter (2020)

3.6
(5)

Monster Hunter
Original:Monster Hunter
Ano:2020•País:Alemanha, EUA, Japão, China
Direção:Paul W.S. Anderson
Roteiro:Paul W.S. Anderson, Kaname Fujioka
Produção:Paul W.S. Anderson, Dennis Berardi, Jeremy Bolt, Robert Kulzer, Martin Moszkowicz
Elenco:Milla Jovovich, Tony Jaa, Ron Perlman, T.I., Diego Boneta, Meagan Good, Josh Helman, Jin Au-Yeung, Jannik Schümann, Nanda Costa, Nic Rasenti

Alice enfrenta graboides, aranhas gigantes e dragões em Resident Evil 7. Claro que este não é um derivado da franquia sutilmente inspirada numa série de games de horror sobre um tal T-Vírus que, com a influência de uma inteligência artificial da multinacional Umbrella, transformou as pessoas de Raccoon City em zumbis comedores de carne humana, entre outras mutações. A confusão se estabelece quando se percebe que a adaptação da franquia de games Monster Hunter tem o comando do mesmo Paul W.S. Anderson e o protagonismo óbvio de Milla Jovovich, que embora seja uma mulher muito bonita, é uma atriz de um papel só. Não é culpa somente dela, os papéis que lhe são oferecidos, em sua maioria, são extremamente físicos, envolvendo soldados e guerreiras.

Segundo o site Punchdrunkcritics, a intenção de Anderson de se envolver numa adaptação de Monster Hunter começou em 2012, quando ele esteve em viagem no Japão e se apaixonou pelo jogo. Desde então, enquanto ainda realizava os filmes da série Resident Evil, ele já mantinha um contato constante com a Capcom. Foi somente em 2016 que os direitos sobre a realização foram adquiridos em um negócio acordado com o produtor da empresa, Ryozo Tsujimoto. Com os rabiscos do roteiro sendo escrito desde então, mas sofrendo inúmeras mudanças, desde ambientação ao protagonismo, em 2018, finalmente o longa recebeu sinal verde. Passou-se a anunciar elenco, gravações e os monstros que fariam parte do filme introdutório, com a perspectiva de desenvolvimento de uma nova franquia.

Com as filmagens concluídas no final de 2018, a partir de então o filme entrou em fase de pós-produção, com uma prévia de lançamento em 4 de setembro de 2020. Devido à pandemia do Covid-19, houve uma nova previsão de estreia para 23 de abril, mas a Sony optou por levá-lo aos cinemas nos EUA em 18 de dezembro. Com quase um milhão e meio de investimento em marketing (a título de comparação Mulher Maravilha 1984 gastou U$17 pela Warner Bros.), até o momento Monster Hunter conquistou quase U$29 milhões no box office pelo mundo, o que se pode considerar até bom dentro da realidade atual, com os cinemas se habituando às restrições sanitárias e o medo de boa parte da população.

Dentro desse cenário, será que o filme está sendo bem recebido pelo público e crítica? Em um equilíbrio de avaliações positivas e negativas, pode-se dizer Monster Hunter está sendo considerada uma produção mediana. E bem isso mesmo. Longe de ser uma bomba, o filme tem boas sequências de ação e grandiosos efeitos especiais, e um elenco interessante, com a participação bem pequena da atriz brasileira Nanda Costa, além do sempre bem aceito Ron Perlman. Há alguns pecados relacionados à direção ora acelerada ora em slow motion de Anderson, algo já visto na franquia Resident Evil, e uma trilha sonora eletrônica com sintetizadores que às vezes destoa do que está acontecendo em cena.

O longa abre em um mundo alternativo, onde um grupo de caçadores, à bordo de uma embarcação, tenta se aproximar de uma torre iluminada por raios, até serem atacados por um monstro subterrâneo que eles chamam de Diablos. No mundo real, uma equipe de soldados americanos, liderados pela capitã Natalie Artemis (Jovovich), está em uma missão no deserto em busca do pelotão Bravo. Ao encontrarem os veículos destruídos, mas sem sinal de corpos, eles tentam fugir de uma imensa tempestade de areia, mas são engolidos e consequentemente conduzidos a uma outra dimensão, vista como um longo deserto com carcaças de dinossauros e o iminente ataque da mesma criatura que aparecera discretamente no começo do filme.

Eles são ajudados pelo nativo Hunter (Tony Jaa, experiente lutador de artes marciais e o astro da franquia Ong-bak), um dos sobreviventes do naufrágio do prólogo, mas muitos deles caem diante de aranhas gigantes chamadas Nerscyllas, que possuem venenos que podem adormecer partes do corpo e também introduzir ovos ao estilo Alien. Artemis quer encontrar um meio de alcançar seu veículo, com as armas, para depois chegar à tempestade e, assim, conseguir voltar para o seu mundo, contudo, para isso, precisará atravessar o deserto do Diablos e se comunicar com o estranho, para que juntos possam traçar um plano de combate. Além dessas criaturas, ainda outras irão aparecer para atrapalhar seu sucesso como os herbívoros Apceros e o terrível Rathalos, isso sem falar no gato Palico, o chef Meowscular, personagem do quinto jogo da série, Monster Hunter: World.

Para uma apreciação adequada, é importante que o infernauta saiba o que irá ver na tela. Na adaptação, os personagens são bastante resistentes, sobrevivendo a diversos capotamentos de veículos e até uma queda de avião, sem uma fratura sequer. Existem aqueles “voos” exagerados durante os embates, os que são brutalmente feridos, mesmo na perna, e depois irão correr como se estivessem numa maratona, além dos que saltam por cipós, andam pelo corpo dos monstros e preparam armas caseiras rapidamente. O roteiro de Paul W.S. Anderson quer realmente transportar para a tela grande uma sensação de estar diante de um live action, como se se fosse uma nova fase do jogo Monster Hunter. E isso pode incomodar os que preferem isolar os universos.

E há umas bobagens também difíceis de serem digeridas: como toda a luta entre Hunter e Artemis, como se o público já não soubesse como ela irá terminar; o momento em que a garota é presa pelos caçadores, mesmo sabendo que ela foi a responsável por trazê-lo vivo ali, precisando que ela fuja somente para encontrar o tal gato. Também nota-se uma grande referência aos graboides de O Ataque dos Vermes Malditos, envolvendo até mesmo a necessidade de evitar qualquer vibração no solo para impedir um ataque. Só esqueceram de explicar porque quando Artemis e os soldados chegaram a esse mundo andaram tranquilamente por muito tempo no deserto sem que o Diablos apareça. Hunter resolve atirar flechas no grupo para avisar da existência da criatura, sendo que seria muito mais prático se ela atirasse no solo em uma distância relativa segura para que o monstro se revelasse.

Como não joguei a franquia, não posso dizer se a adaptação está plausível e se há muitas referências aos personagens e situações. Avaliando apenas como filme, parece realmente um derivado de Resident Evil, faltando apenas zumbis para incomodar os personagens. Talvez, pelo fato de não alcançar o sucesso esperado e pelo custo da produção, Monster Hunter fique apenas no primeiro, o que seria a melhor ideia do projeto. Não sei se vale a pena retornar a esse mundo de criaturas diversas, um gato cozinheiro e saltos forçados ao som de música eletrônica.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Monster Hunter (2020)

  • 24/02/2021 em 03:19
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    Realmente não é culpa dela fazer sempre os mesmos papéis , mas faz porque quer. Milla Jovovich já tem muito dinheiro, deveria focar mais em papéis melhores ✌

    Resposta

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