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Maníaco do Parque
Original:Maníaco do Parque
Ano:2002-2009•País:Brasil
Direção:Alex Prado
Roteiro:Solange Queiróz
Produção:Alex Prado
Elenco:Cláudio Mello, Franklin Fiuza, Cleber Armeloni, Giovana Meredig, Jorge Martins, Edgar da Silva, Daiane Brito

Em 2024 foi lançado Maníaco do Parque de Mauricio Eça, um filme que teve bastante repercussão nas mídias. Mas o que muitos não sabiam é que essa não foi a primeira adaptação da história de Francisco de Assis Pereira. Na verdade, o primeiro longa do Maníaco do Parque foi um filme independente dirigido por Alex Prado. O longa foi filmado em 2002, sendo exibido a partir de 2009, e teve seu roteiro baseado em relatos que o próprio Francisco fez ao diretor, enquanto estava preso.

A história todos já conhecem. Após vivenciar infância e adolescência traumáticas, o motoboy Francisco de Assis Pereira dá início a uma série de assassinatos contra jovens moças. Após enganar suas vítimas com a história de que trabalhava em uma agência de modelos, o maníaco conseguia convencer e atrair as mulheres até uma mata fechada, onde eram estupradas e mortas.

O contraste inegável entre este exemplar e o filme de 2024 é também seu ponto mais forte. Enquanto a versão de Eça peca na falta de terror, a obra de Prado está recheada de elementos gore, com muitas cenas de violência e sangue, além de nudez, sexo e até mesmo aparições diabólicas. Se por um lado, o filme de 2024 é um suspense policial, inteligente, super produzido e que adicionou diversos elementos fictícios para preencher lacunas na história do maníaco do parque, a produção dos anos 2000 é essencialmente um filme de terror trash – independente e de baixo orçamento – baseado em relatos do próprio Francisco, ainda que longe de representar os fatos com total veracidade. Pode-se dizer que os dois são opostos que acabaram se complementando.

Entretanto, mesmo considerando as limitações de se produzir um filme de terror independente no Brasil, o longa tem vários defeitos. Uma das principais falhas é que muita coisa acontece em um curto período de tempo, com um excesso de cortes e cenas rápidas que deixam o espectador até um pouco tonto. Por exemplo, nos primeiros 15 minutos, centrados na infância e adolescência de Francisco, vemos o garoto ser rejeitado pela primeira namoradinha, acusado de furto, abusado sexualmente por duas vezes, sofrer um acidente de bicicleta, ser atacado no cemitério e baleado. Após entrar na vida adulta do maníaco, vemos uma sucessão de mortes que tornam o filme cansativo e até mesmo confuso, ao se misturar com os crimes cometidos por outro motoboy, que também estuprava mulheres no mesmo período em que Francisco atacava. Além disso, não dá para esquecer das atuações pastelonas o do enredo fraco, com falas que beiram à comédia, característicos do subgênero que representa. O final também deixou a desejar, com uma lição moral excessivamente explícita e desnecessária que o tornou mais didático do que deveria.

Mas o que mais me incomodou foi a narrativa construída em cima dos traumas passados vivenciados por Francisco. Provavelmente por ser baseado nas versões do próprio assassino a respeito de si mesmo, o longa parece tentar a todo momento justificar os atos criminosos cometidos pelo maníaco do parque e explicar os motivos pelos quais um garoto comum se tornou o monstro que conhecemos. Diferentemente da obra de Eça, que optou por conferir protagonismo às mulheres, aqui, de certa forma, quem acaba sendo colocado como vítima é o próprio Francisco. As justificativas são várias, incluindo: preconceito social, histórico de violência sexual, um acidente de bicicleta que, aparentemente, provocou uma lesão neurológica grave, além de uma série de desilusões amorosas e o mais chocante – e inédito – relato de que quando adolescente teve seu pênis mutilado por uma amante enquanto faziam sexo no cemitério, em cima de um túmulo, em um tipo de ritual satânico.

O filme tem algumas curiosidades e até mesmo uma suposta maldição. Alex Prado é um diretor veterano, pioneiro dos bang-bang brasileiros e um nome importante da Boca do Lixo, polo cinematográfico paulistano e reduto de filmes independentes nacionais. Segundo relatos na internet, durante a produção, o diretor Alex Prado descobriu um tumor no cérebro, forçando uma pausa de 6 anos, além disso, Cleber Armeloni, que interpretou Francisco na infância, morreu em um acidente de trânsito após as filmagens. De acordo com o canal do Youtube onde o longa está disponível, destinado a apresentar os trabalhos do cineasta Carlos Sabugo, o filme não foi lançado devido a problemas judiciais.

O Maníaco do Parque de Alex Prado acabou apresentando um resultado abaixo das expectativas, mas que merece ser conferido por dois motivos. Primeiramente pela sua importância histórica – por ser oficialmente o primeiro longa inspirado em um dos mais notórios serial killers do Brasil – e representatividade do cinema marginal, mas também por entregar todo o terror que faltou no filme de 2024.

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