![]() Tron: Uma Odisseia Eletrônica
Original:Tron
Ano:1982•País:EUA, Taiwan, UK, Japão Direção:Steven Lisberger Roteiro:Steven Lisberger, Bonnie MacBird Produção:Donald Kushner Elenco:Jeff Bridges, Bruce Boxleitner, David Warner, Cindy Morgan, Barnard Hughes, Dan Shor, Peter Jurasik, Jackson Bostwick, David S. Cass Sr., Gerald Berns |
Os Anos 80 são referenciados como a época de ouro dos slashers, da popularização das fitas de VHS, do surgimento de grandes franquias de horror e do terrir. É também o período de evolução dos jogos eletrônicos, dos videogames e dos efeitos de CGI. O ponto de encontro dos jovens deixou de ser os cinemas drive-ins para fliperamas, com desafios e concursos. Assim surgiram produções fantásticas que exploravam a ideia de conexão e realidade virtual, com a expansão dos computadores e do mundo digital: o segmento “The Bishop of Battle“, da antologia Pesadelos Diabólicos (Nightmares, 1983), a bagaceira O Mestre do Jogo (The Dungeonmaster, 1984), o posterior Passageiro do Futuro (The Lawnmower Man, 1992), inspirado em um conto de Stephen King, e o pioneiro dos efeitos digitais, Tron: Uma Odisseia Eletrônica (Tron, 1982).
O conceito de um filme ambientado em um universo virtual surgiu em 1976, quando o animador de desenhos Steven Lisberger conheceu o jogo Pong, através da empresa de informática MAGI, e ficou encantado com o arcade ao ponto de imaginar um filme partindo dali. Ele via a entrada nesse mundo virtual como algo similar a Alice no País das Maravilhas, e desenvolveu um curta de 30 segundos para tentar vender a ideia pelo seu estúdio particular, Lisberger Studios. Dentro de suas perspectivas, era uma tendência natural uma vez que os videoclipes já estavam trabalhando na chamada animação retroiluminada, com visual de discoteca e o uso de cores e neon. Quando Lisberger começou a criar a ideia, abrindo um estúdio na costa oeste em 1977, uma reportagem da Variety atraiu a atenção do cientista de computação Alan Kay, que sugeriu que o desenho à mão fosse substituído por efeitos em computador para dar uma ideia ainda realística dentro da proposta.
Enquanto o roteiro começava a nascer pelos rascunhos de Bonnie MacBird, houve dois caminhos a serem seguidos: um seria uma opção mais cômica, com Robin Williams no papel principal em uma espécie de Uma Cilada para Roger Rabbit (Who Framed Roger Rabbit, 1988) e outra traria um viés religioso e sério, a despeito dos aspectos científicos. Felizmente a escolha partiu para uma terceira via, mesmo com o envolvimento da Disney – Warner Bros., Metro-Goldwyn-Mayer e Columbia Pictures recusaram o conceito a partir dos storyboards. Conseguiu o financiamento da Information International Inc. e pode desenvolver a animação com o apoio da Wang Film Productions. O orçamento ficou estimado em US$17 milhões de dólares, e teve uma arrecadação moderada nos cinemas, alcançando um bruto de US$33.
Recebeu grande maioria de críticas positivas, enaltecendo aspectos criativos e o enredo, além dos bons efeitos especiais. O longa recebeu indicações ao Oscar de Melhor Figurino e Melhor Som, mas ficou de fora dos Melhores Efeitos Visuais, considerado na época uma “trapaça” ao desenvolvidos em estúdio – bons tempos! E, apesar de só ter uma continuação em 2010, o filme inspirou o cinema e videoclipes, músicas, livros, quadrinhos e até parques temáticos. Foi realmente um divisor de águas das influencias CGI no cinema de horror e de ficção científica, ainda que mal utilizado a partir do final dos anos 90.
Se não tem Robin Williams, Tron traz o protagonismo de um Jeff Bridges bem carismático, atuando como Kevin Flynn, um engenheiro de software que trabalhava para a ENCOM até que o o vice-presidente executivo sênior, Ed Dillinger (David Warner), tomou seus jogos para si e o tirou da empresa. Para tentar provar o golpe, ele, como experiente jogador de fliperama, pretende invadir o sistema com um programa chamado CLU, mas enfrenta barreiras impostas pelo Programa de Controle Mestre (MCP), uma inteligência artificial que assumiu o controle da empresa no mundo real e virtual, apropriando-se ilegalmente de programas pessoais, comerciais e governamentais para aumentar sua capacidade.
Na ENCOM, o programador Alan Bradley (Bruce Boxleitner) e sua namorada, a engenheira Lora Baines (Cindy Morgan), que desenvolveu um laser capaz de desintegrar temporariamente a matéria para posteriormente reintegrá-la, unem-se a Kevin planejando invadir a empresa, desmascarar Ed Dillinger e incapacitar o Controle Mestre através do programa de defesa TRON, porém, na invasão, o sistema digitaliza o desenvolvedor, levando-o ao mundo virtual. E aí tem início o fascinante universo dos programas supervisionados pelo Controle Mestre para treiná-los para os confrontos a partir de seus usuários do mundo real. Ali Kevin encontra os “avatares” de Alan e Lora, e fica amigo de Ram (Dan Shor), percebendo as influências de Dillinger. Em vez de simplesmente eliminar a ameaça presente em seu universo, o Controle Mestre sugere que ele seja morto durante os jogos.
Assim, Kevin se vê envolvido em jogos de arremesso de raios a partir de discos e uma disputa da chamada Light Cycle em que motocicletas correm por uma arena e devem evitar colidirem com as barreiras, enquanto tenta eliminar o oponente. Quando Kevin, Alan e Lora são colocados na disputa, eles encontram uma fuga do cenário para tentar alcançar o computador central e introduzir o programa TRON, sendo perseguidos em diversos ambientes por torres virtuais e soldados.
Tron faz jus ao subtítulo ao conduzir o espectador a uma verdadeira odisseia eletrônica. Ainda que os efeitos hoje possam ser considerados ultrapassados – basta compará-los à continuação Tron: O Legado -, impressionam pela criação de um mundo tecnológico fascinante condizente com a época. Eles escalam montanhas digitais, plataformas em neon, e correm por ambientes que representam a imagem que tínhamos de uma realidade virtual, com roupas “futurísticas” compostas de raios iluminados que se alteram pela energia. Os recursos digitais exploram ideias de combates entre usuários e o computador de maneira criativa, como se colocassem o espectador em um jogo de computador ou fliperama do período.
E é impressionante o quanto o longa se mostra visionário para o cinema e desenvolvimento tecnológico. Filmes como O Exterminador do Futuro (Terminator, 1984) e Avatar (2009) são frutos dessa mistura de ficção científica e tecnologia, antecipando o que hoje é uma realidade considerada temerária: a exploração da inteligência artificial. O Controle Mestre se mostra um oponente capaz de afetar programas menores e influenciar os humanos, buscando se expandir para ampliar seus alcances. Para sorte de Kevin e dos demais, mesmo com todo o seu domínio, ele ainda mantém um caráter íntegro de não simplesmente eliminar as ameaças, mas colocá-las em sua arena de disputa.
Divertido e um passeio fascinante por um universo alternativo, Tron envelheceu bem. Continua cativante e único, bem feito e impressionante. Sem refilmagens, em 2010 foi feita a sequência Tron: O Legado, seguida pelo curta Tron: The Next Day (2011) e pela série animada Tron: A Resistência (Tron: Uprising, 2012-2013). Em outubro deste ano deve chegar aos cinemas o terceiro filme oficial, Tron: Ares, de Joachim Rønning, estrelado por Jared Leto e o retorno de Jeff Bridges, trazendo para a nossa realidade as torres digitais e perseguições distantes das grades da Light Cycle. São amostras da força narrativa desse universo de confrontos entre tecnologia e usuários.