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Reality+
Original:Reality+
Ano:2014•País:França
Direção:Coralie Fargeat
Roteiro:Coralie Fargeat
Produção:Didier Hoarau, Jérôme Lateur, Katia Sourzac
Elenco:Vincent Colombe, Aurélien Muller, Vanessa Hessler, Aurélia Poirier, Samuel Trépanier

Imagine se fosse possível implantar em seu corpo um chip que lhe permitisse criar uma nova aparência para si mesmo a partir de um acervo de rostos, corpos e até vozes dentro do tal padrão vigente de beleza. Todas as outras pessoas equipadas com esse chip veriam-no com esse novo visual e vice-versa. Mas existe uma inconveniência: ele só funciona 12 horas por dia.

Muitos curtas-metragens de início de carreira acabam sendo balões de ensaio para futuros longas de seus realizadores. Não chega a ser o caso aqui, mas nos 22 minutos de Reality+ a diretora e roteirista francesa Coralie Fargeat trabalha vários dos temas que seriam revisitados dez anos depois em seu enorme sucesso A Substância (The Substance, 2024): a ditadura da beleza, a busca pela manutenção de uma aparência jovem, superficialidade, crise de identidade e os riscos da biotecnologia mal aplicada.

Além disso, é possível notar no corpo da obra de Fargeat sempre um “cutucão” no cinema de massa americano. Em Vingança (Revenge, 2017), ela reimagina os filmes de ação dos anos 1980 e 1990, só que colocando no lugar de um Schwarzenegger ou Stallone uma garota de uns 50 quilos, concedendo a ela o mesmo poder de regeneração permitido aos personagens vividos por esses brucutus. Em A Substância, Fargeat vai full Hollywood e escala para sua protagonista uma estrela do cinema mainstream, traçando assim um paralelo com a carreira da própria Demi Moore para falar de como as mulheres são colocadas de lado pela indústria do entretenimento ao atingirem certa idade. Já Reality+ se passa em uma Paris na qual tantas pessoas usam o chip que as ruas da cidade mais parecem aqueles filmes americanos onde todo mundo é irrealmente bonito, e – extremo da padronização – na qual é possível esbarrar com alguém igualzinho a você.

A característica do chip de funcionar apenas 12 horas por dia adiciona à história um clima de conto de Cinderela, para quem as 12 badaladas do relógio significavam voltar à sua “versão abóbora”. Ainda que sugerido, esse tom de conto de fadas futurista mantém-se ao longo de todo o curta, que carrega uma doçura que contrasta com os violentos e (literalmente) viscerais trabalhos seguintes da cineasta. Aqui, o body horror se manifesta em momentos pontuais, como nas cicatrizes de quem resolve burlar as regras do chip, e mesmo subjetivos, como em um pesadelo do protagonista.

O design de produção ajuda a dar vida a esse mundo através de detalhes simples, elegantes e eficientes, como a interface do chip e os outdoors holográficos que o anunciam pela cidade. Não é preciso muito mais do que isso para nos vender o conceito, e acaba provocando em nós aquela sensação incômoda, porém bem-vinda para a narrativa, de que esse futuro se encontra mais presente do que gostaríamos. É uma daquelas produções que ajudam a confirmar ser possível a realização de uma ficção científica convincente mesmo em um formato de orçamento tradicionalmente restrito como o curta-metragem.

Em suma, Reality+ é uma dica certeira para quem quer conhecer mais do universo fílmico da grande realizadora que Fargeat tem se mostrado, ao mesmo tempo que se sustenta por si só brilhantemente.

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