![]() O Estranho Amor dos Vampiros
Original:El extraño amor de los vampiros
Ano:1975•País:Espanha Direção:León Klimovsky Roteiro:Juan José Daza, Juan José Porto Carlos Pumares Produção:Isaac Hernández Elenco:Emma Cohen, Carlos Ballesteros, Viky Lussón, Rafael Hernández, Mary Paz Pondal, Barta Barri, Lorenzo Robledo, Manuel Pereiro, Roberto Camardiel, Tota Alba |
Disponível nas prateleiras mais inferiores do Youtube, esse Estranho Amor dos Vampiros é um interessante exemplar de filme e bom representante da produção espanhola de horror da década de 1970. A obra, no entanto, entrega pouco em sangue e violência, se concentrando principalmente num romance impossível, nos moldes de Drácula, do Francis Ford Coppola, ainda que com mais luz e menos pompa – ainda que não se compare, na verdade, apenas se inspire.
O filme abre com a morte prematura de Marian (Amparo Climent), que foi acometida por um mal misterioso que rodeia o pueblo em que vive. Filha da aristocracia local, Marian passa por um estranho ritual antes de ser enterrada: tem uma estaca de madeira cravada no peito, um costume para com aqueles que morrem do mesmo mal que Marian, um mal que é sempre percebido a partir de duas marcas no pescoço da vítima.
A irmã de Marian, Catherine (Emma Cohen), por sua vez, sofre de uma doença terminal, e está literalmente “dando trabalho” a todos os criados. Sua disposição muda com a chegada de um tal conde Rudolph de Winberg (Carlos Ballesteros), numa madrugada, em busca de abrigo. Rudolph admite ser descendente dos antigos proprietários do castelo que existe nas proximidades do pueblo, uma construção secular, naquele momento, em ruínas, mas origem de toda a boataria sobre vampirismo que existe na região.
De fato, Rudolph é o vampirão que comanda o local, e cai de amores por Catherine, que prontamente se apaixona por ele, esquecendo momentaneamente a própria doença. A partir deste momento, o filme segue uma trilha romântica, não no sentido Julia Roberts, mas no sentido Goethe mesmo, ou algo nessa direção, em que Catherine confronta os seus para seguir o amor de Rudolph, que por sua vez deixa um rastro de corpos drenados pelo caminho.
Acho que o elemento mais curioso sobre este filme é a não existência de textos em português sobre ele. Sob o título estadunidense de The Night of The Walking Dead, é possível achar alguma informação sobre, mas as notas são raras, mesmo nas páginas espanholas.
Diante do excesso de Dráculas e afins que bombardearam as produções das décadas de 1960 e 1970, O Estranho Amor dos Vampiros se sai bem pela boa produção, trilha diferenciada, narrativa consistente e cativante na medida. Rudolph é sedutor e estranhamente respeitoso (mais que o Drácula do Coppola) na medida certa pra encantar qualquer pessoa, e Catherine está longe de ser uma Mina, sendo mais forte e independente, o que não reduz seu encanto pelo vampirão. A questão de sua doença e a iminência de uma morte também pesam nesse arrebatamento salvador.
Os cenários também são belíssimos, ainda que limpinhos demais, pra uma sociedade ainda medieval. A maior parte da ação se concentra no casarão da família de Catherine, e nas ruínas do castelo de Rudolph, que apesar de estar aos pedaços, ainda guarda um interior charmoso e encantador, o covil perfeito para os monstros.
Apesar da ausência de violência explícita ou um suspense mais evidente, apenas uns poucos ataques e mordidas mais evidentes (fora os momentos no cemitério, todos ótimos), o filme ainda rende uma ou outra cena boa com essas características.
Numa festa concedida por Rudolph aos seus asseclas e com a Catherine como convidada de honra, por exemplo, um ex-pretendente da aristocrata é capturado, preso e pendurado por uma corda e servido como alimento aos bebedores de sangue no ápice da confraternização. Catherine assiste a tudo, meio apavorada, meio encantada, mas conivente – até por ter no acontecimento uma vingança pessoal contra o ex. Muito interessante. A aparição da irmã de Catherine vampirizada na varanda de seu quarto também é arrepiante – é impossível não lembrar d’A Hora do Vampiro aqui.
O Estranho Amor dos Vampiros é uma produção leve, requintada, romântica em certa medida, bem representada, e com final trágico e poético. Recomendada aos bebedores de sangue, completistas de plantão, e aos curiosos por produções fora do eixo.