![]() Sociedade Secreta 3
Original:The Skulls III
Ano:2004•País:Canadá Direção:J. Miles Dale Roteiro:Joe Johnson Produção:Neal H. Moritz, John Pogue Elenco:Clare Kramer, Bryce Johnson, Barry Bostwick, Steve Braun, Karl Pruner, Dean McDermott, Maria del Mar, Len Cariou, Brooke D'Orsay. Shaun Sipos |
Sociedades secretas sempre fizeram parte das grandes universidades americanas, mesmo com as inúmeras tentativas de aboli-las. São grandes fraternidades compostas por estudantes e professores que buscam a realização de ideais que possam modificar sua comunidade – ter voz ativa no espaço acadêmico -, ou o país – através se associações políticas (que até deram início a grandes partidos); e até movimentos a favor da natureza. Apesar de serem conhecidas pelo público – seria impossível manter o segredo já que envolvem jovens em processo de formação de opinião -, tais sociedades prezam pela discrição através de duras leis de silêncio. Quando não há sigilo, o grupo muda o nome e as regras e, na pior das situações, se extingue.
Fazendo uso desse argumento e também do fato de ter sido membro da sociedade “Skull & Bones” enquanto estudava na Universidade de Yale, o roteirista John Pogue desenvolveu o enredo do filme Sociedade Secreta (The Skulls, 2000), de Rob Cohen, explorando a influência política de um poderoso grupo de estudantes e seu reitor, através de métodos que envolvem estranhos rituais de iniciação e até assassinato, quando “segredos” tornam-se ameaçados por curiosos. Mesmo com as interessantes cenas do confronto entre um novato – que pretende desvendar a morte de um amigo – e alguns associados que levam realmente a sério o lema “Um Skull está Acima de Tudo“, esse primeiro filme é bem qualquer coisa, com mais furos no roteiro do que cenas de tensão que justifiquem uma espiada.
Dois anos depois, viria o direto para o vídeo Sociedade Secreta 2 (The Skulls 2, 2002), dirigido por Joe Chappelle, uma quase refilmagem do primeiro, tendo inclusive um personagem que passa pelo processo de iniciação e tenta denunciar uma outra morte acobertada. O terceiro filme foi lançado no ano seguinte, sem as aberrações narrativas do roteirista John Pogue, dando lugar ao experiente Joe Johnson, de episódios de séries de TV.
Sociedade Secreta 3 apresenta a jovem Taylor Brooks (Clare Kramer, de Carta para a Morte e Buffy, A Caça-Vampiros), no prólogo, correndo em uma floresta sinistra durante uma noite nebulosa, enquanto algumas informações sobre os Skulls são passadas para o público, evitando assim que o filme só possa ser visto por pessoas que já viram as outras partes. O passeio da garota é interrompido por seu irmão, Sam Brooks (Toby Proctor), que pede que ela não tenha medo dele. Ela estranha a presença dele ali e foge desesperadamente pela floresta, até encontrar uma cripta, com a data de nascimento e morte do rapaz. Antes que possa expressar alguma reação, aparece novamente Sam e tira seu capuz, deixando evidente a abertura sangrenta que possui na parte de trás da cabeça. Taylor grita e acorda de seu pesadelo.
Esse começo, típico de um filme de horror, é justificado pela saudades que a garota tem do irmão, que teria se suicidado quando tentava entrar para os Skulls. Logo depois, ela aparece sendo interrogada por dois policiais que querem desvendar um assassinato (quem morreu e quem matou, só será revelado no final) e a possibilidade do envolvimento da jovem no crime. Com o recurso do flashback e com a narração da protagonista, o filme volta alguns meses para o momento em que ela decidiu entrar para a sociedade, com o objetivo máximo de provar para seu pai sua capacidade de assumir seu legado. Mas, a Sociedade, até então, não permitia a associação de mulheres.
Perspicaz, Taylor estuda as leis da universidade e encontra brechas que possam ser utilizadas como argumentos para a inclusão de garotas no grupo. Mesmo contrariando a vontade de seu namorado, que praticamente tinha entrada certa nos Skulls, e com os olhares maldosos de Nathan Lloyd (Barry Bostwick), um associado de conduta duvidosa, Taylor consegue a aprovação do reitor e passa a realizar os estranhos rituais de iniciação. São quatorze dias de provas duras de resistência e lealdade, mas Taylor se esforça ao máximo para ingressar no seleto grupo, sobrevivendo, inclusive, aos mais bizarros testes: logo a primeira prova exige que o novato morra e renasça para a sociedade. Assim, eles são obrigados a tirar a roupa, tomar uma droga e entrar num caixão; para horas depois acordarem enterrados num bosque desconhecido com o objetivo de retornar ao campus antes que o cronômetro seja zerado – uma variação do começo do segundo filme.
Contrariando a expectativa, essa sequência não traz a protagonista como uma detetive que busca informações que comprovem o ligamento da sociedade a algum assassinato. Ela quer apenas provar para seu pai que é tão capaz quanto seu falecido irmão, porém os Skulls a envolvem em um terrível crime, cujos indícios apontam diretamente para ela. O charme da produção está exatamente em tentar descobrir o assassino, a vítima e quem são as pessoas que estão ajudando a protagonista e quem está tramando contra ela. Enquanto Sociedade Secreta permitia identificar os “heróis” daqueles que com índole questionável, o terceiro filme explora os Skulls como uma seita maligna que, para alcançar o poder, é capaz de matar e chantagear. A ideia de não saber em quem confiar, algo que faltou nos anteriores, transmite ao infernauta uma sensação de desespero, com a personagem envolta em uma conspiração.
Com um ritmo mais lento do que os primeiros, mas mais intrigante e curioso, Sociedade Secreta 3 sofre por ser a parte 3 de dois filmes abaixo da média. Pode ser que muitos nem sequer se interessem pela proposta, imaginando uma continuidade direta, como se houvesse a necessidade de assistir aos dois primeiros. E o longa ainda traz uma boa reflexão sobre caminhos a seguir: atender aos desejos do pai ou fazer o que é preciso? A quem precisamos provar nossa capacidade? E ainda permite a discussão sobre os valores femininos em grupos masculinos, uma vez que as personagens mulheres nos filmes anteriores somente serviam aos homens, seja pela curiosidade pelo grupo ou vontade de estar com alguém que já faça parte dele.