![]() Drácula 3000
Original:Dracula 3000
Ano:2004•País:EUA, Alemanha, África do Sul Direção:Darrell Roodt Roteiro:Darrell Roodt, Ivan Milborrow Produção:Frank Hübner, Brad Krevoy, David Lancaster, David Wicht Elenco:Casper Van Dien, Erika Eleniak, Coolio, Alexandra Kamp, Grant Swanby, Langley Kirkwood, Tom Lister Jr., Udo Kier |
Se o seu medidor de tranqueiras envolvendo Drácula somente apita para o filme de Dario Argento, é porque seu gosto é muito refinado para certas pérolas do cinema que estão por aí. E nem me refiro aos gárgulas alegres que acompanham um conde perfumado do filme de Luc Besson e nem a outros filmes de produtoras picaretas que somente exploram o nome do vampiro criado por Bram Stoker. A obra em questão tem no elenco nomes como Casper Van Dien, Udo Kier, Alexandra Kamp e até Erika Eleniak, estrela da série S.O.S. Malibu, e vem na esteira do sucesso de Drácula 2000 e sua primeira continuação, Drácula: A Ascensão (2003), embora não estejam relacionados.
Drácula 3000 também segue outra tendência, muitas vezes é apenas uma piada nas meses da estúdios de produção: lançar qualquer figura icônica literalmente ao espaço. Fizeram isso com o Duende (O Duende 4: No Espaço, 1996), Pinhead (Hellraiser 4: A Herança Maldita, 1996), Jason Voorhees (Jason X, 2001) e até Emanuelle (Emanuelle in Space, 1994) e a famosa casa assombrada de Amityville (Amityville in Space, 2022). Poderia ser interessante se fosse algo como Jason X, com o vampiro sendo enviado ao espaço para tentar conter sua maldição, mas Drácula 3000 resgata de maneira descaracterizada personagens e lugares existentes no imaginário literário.
Tudo começa quando a nave Mother III encontra outra abandonada no espaço intitulada Demeter (!!), oriunda do planeta Transilvânia (!!) do sistema solar de Carpatos (!!). O Capitão Abraham Van Helsing (Dien) e sua auxiliar, Aurora Ash (Eleniak), colocam a estagiária Mina Murry (Kamp) para investigá-la assim que acoplam, mas logo os demais, como o usuário 187 (Coolio), o Professor Arthur Holmwood (Grant Swanby) e o fortão Humvee (Tom Lister Jr., rosto fácil da luta livre e de várias obras como Mestre dos Desejos 2, Jackie Brown e O Quinto Elemento, falecido em 2020) resolvem também explorar o ambiente abandonado. Somente encontram o corpo do capitão Varna (Kier), um esqueleto com a boca arreganhada, segurando um crucifixo e amarrado à cadeira. Assim que o encontram alguém deduz que ele amarrou a si mesmo – como perceberam isso? Como alguém consegue amarrar as próprias mãos a uma cadeira?
E sobre o crucifixo, o “genial” roteiro de Ivan Milborrow e do diretor Darrell Roodt deixa os personagens confusos sobre o que seria. Um dia diz que é um símbolo de adição, o que indicaria que o capitão é matemático – é sério! Van Helsing afirma que duzentos anos antes existia religião e crença em Deus, o que faz a Aurora questionar o significado de Deus. Isto é, daqui mil anos não vai existir religião e ninguém vai estudar História; e pior: em vários momentos, quando perseguido por algum vampiro, alguém solta expressões como “Meu Deus“, mesmo não sabendo do que se trata.
Se há preocupação com crenças, o roteiro não se preocupa em dar qualquer aspecto futurista a uma produção ambientada em 3000. Roupas normais como regatas, calça jeans, tênis e camisas servem à produção como um computador com a tela vagabunda dos anos 2000 e o sistema de pesquisa da época em que a internet ainda engatinhava. Se quer mostrar um futuro provável, fizesse uso de comunicação com a inteligência artificial da nave, transmissão em hologramas como fez Jason X, armas mais estilosas… enfim, explorem a criatividade de produções lançadas nas décadas de 50 a 90, teletransporte, luvas que soltam lâminas, sei lá.
O “rapper” 187 até inventa uns nomes para algumas drogas, mas é um personagem tão intragável que, depois que se transforma em vampiro, só piora. Mina desaparece e sem explicação aparece vampirizada, com maquiagem dos anos 80; o Drácula, aqui chamado de Conde Orlock (Langley Kirkwood), em referência a Nosferatu (1922), usa uma capa antiquada e parece uma pessoa fantasiada em uma festa onde servem ponche e toca música eletrônica. Resta a Udo Kier o único esforço interpretativo, aparecendo em registros de sua nave, com suas cenas gravadas à parte.
Além de irritante por tudo o que representa, Drácula 3000 tem um dos finais mais idiotas do cinema, quando Aurora, depois de ter se revelado uma androide policial disfarçada, diz ter sido antes uma sexbot, apenas para concluir de maneira pavorosa um filme que nem, como o vampiro imortal, nem deveria ver a luz do sol.
Está no youtube para quem quiser se arriscar!