![]() The Surrender
Original:The Surrender
Ano:2025•País:EUA, Canadá Direção:Julia Max Roteiro:Julia Max Produção:Mia Chang, Lovell Holder, Julia Max, Robert J. Ulrich Elenco:Colby Minifie, Kate Burton, Chelsea Alden, Vaughn Armstrong Riley Rose Critchlow, Mia Ellis, Lola Prince Kelly, Sophia Konstantine Segal, Richard B. Larimore, Hal Perry |
A perda de uma pessoa já é por si só um processo ritualístico, desde a organização do velório, funeral e inventário até os caminhos dolorosos da aceitação. Esse percurso envolve duas temáticas que os filmes de horror resolveram abraçar nos últimos anos: a perda e o ritual. Na verdade, são argumentos já trabalhados no cinema desde sempre, mas, nos últimos anos, eles estão retornando em grande produtividade: Fale Comigo e Faça ela Voltar, ambos dos Philippou, Midsommar, Hereditário, a refilmagem e o prelúdio de Cemitério Maldito e tantos outros. Como se nota, não há como fugir da religiosidade, ainda que nem sempre envolva bruxaria. The Surrender é mais um exemplo interessante, propondo um ritual que não apenas pode trazer alguém de volta como há a necessidade de você ir buscá-lo. Tem como não ser assustador?
A estreante Julia Max chegou com o pé na porta do SXSW ao tratar do luto por um viés sombrio. Abre as cortinas com uma imagem grotesca de uma criatura humanoide se alimentando de uma pessoa, detalhando o som das mastigadas e alguns vestígios de uma pele alaranjada, manchas escuras e um rasgo acompanhando a coluna. Embora não esteja pronta para voltar por feridas psicológicas não cicatrizadas, Megan (Colby Minifie) reencontra a mãe Barbara (Kate Burton) para ajudá-la a cuidar de seu moribundo pai Robert (Vaughn Armstrong). O ajudar envolve respeitar a rotina estabelecida por Barbara, com coquetel de medicamentos, algumas doses de morfina e um saquinho com dentes deixados no “balde de merda“, embaixo da cama. “Desde quando você começou a acreditar em vodu?“, ela questiona, recebendo como resposta: “Eu sempre tive um lado espiritual“.
Arrancando os próprios cabelos e ignorando parte das recomendações da enfermeira Nikki (Mia Ellis) para seguir sua própria planilha confusa, Barbara tem um propósito ainda mais aterrorizante. Megan aos poucos percebe vestígios na parede, ouve sons de batida e enxerga o que seu pai já havia anunciado: “Eles estão observando.” Quando a fatalidade acontece, Barbara dá continuidade ao que ela já planejava anteriormente, convocando a sua casa uma espécie de xamã para a realização de um ritual para trazer Robert de volta à vida. Toda a atmosfera se constrói como parte de um pesadelo recorrente de Megan, em pequenos flashes das ações de seu pai no passado, e o processo de resgate do falecido, numa jornada claustrofóbica e assustadora.
Realizado em poucos ambientes e centralizado nas ações da mãe e da filha, explorando a interpretação excepcional de Colby Minifie, The Surrender castiga o infernauta na apresentação de um terceiro ato bastante surpreendente, sem doses de morfina e muito body horror. E pode enganar quem imagina o lugar-comum da volta de alguém com uma personalidade diferente, modificada pela morte interrompida. É como uma amostra do The Further, da franquia Sobrenatural, sem uma Lin Shaye para servir de guia. Poucos cenários e bons efeitos fazem de The Surrender um dos filmes mais apavorantes de 2025, com a fórmula necessária para despertar um certo incômodo no Dia dos Pais!