![]() Shocker: 100 Mil Volts de Terror
Original:Shocker
Ano:1989•País:EUA Direção:Wes Craven Roteiro:Wes Craven Produção:Barin Kumar, Marianne Maddalena Elenco:Michael Murphy, Mitch Pileggi, John Tesh, Heather Langenkamp, Peter Berg, Jessica Craven, Camille Cooper, Richard Brooks, Sam Scarber, Ted Raimi, Keith Anthony-Lubow-Bellamy, Virginia Morris, Emily Samuel, Peter Tilden, Bingham Ray |
Shocker foi uma tentativa de Wes Craven de emplacar uma nova franquia. O imenso sucesso de Freddy Krueger em seu longa original permitiu a realização de mais três filmes na década de 80, sendo que apenas A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors, 1987) teve seu nome como produtor executivo. Craven voltaria a se envolver com o assassino dos pesadelos no aniversário de dez anos do filme original, escrevendo o roteiro e comandando O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (Wes Craven’s New Nightmare, 1994). Depois da realização de obras “menores” como o filme para a TV Um Frio Corpo Sem Alma (Chiller, 1985), A Maldição de Samantha (Deadly Friend, 1986) e, o melhor deles, A Maldição dos Mortos-Vivos (The Serpent and the Rainbow, 1988), Wes Craven resolveu apostar as fichas em mais um assassino sobrenatural.
Com orçamento estimado em US$5 milhões de dólares, Shocker: 100 Mil Volts de Terror arrecadou um total mundial de US$16 milhões. Não é um fracasso absoluto, mas se comparar com A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984), que conquistou vinte e quatro vezes mais, não deixa de ser – desculpe o trocadilho – chocante. No entanto, isso se deve à falta de originalidade do roteiro de Craven, copiando a si mesmo ao envolver pesadelos “reais“, e a ideia de um assassino que sobrevive à cadeira elétrica, visto também em Duro de Prender (Prison, 1987), Sombra da Morte (Destroyer, 1988) e A Casa do Espanto III (The Horror Show, 1989). Craven associou o fracasso de seu filme à censura que teria cortado pelo menos treze cenas antes de permitir uma classificação mais branda. Contudo, os problemas também estão relacionadas ao próprio argumento.
O filme tem uma primeira metade muito boa, com um ritmo até interessante. O atleta Jonathan Parker (Peter Berg) teve um pesadelo envolvendo um terrível serial killer de famílias, com mais de trinta vítimas em seu currículo sangrento e nenhuma pista. Os residentes dos subúrbios de Los Angeles estão em pânico com a ameaça de serem atacados enquanto dormem – notou semelhanças? -, mas a busca pelo monstro pode estar perto do fim, depois de Jonathan ter uma visão de sua mãe adotiva e a irmã sendo mortas durante a noite. Ele vai ao local quando a polícia já cercou com as fitas de isolamento, somente para confirmar sua premonição.
Ele tenta convencer o pai adotivo, o tenente Don Parker (Michael Murphy), de ter identificado o assassino, sabendo inclusive onde ele trabalha e reside. Mesmo não acreditando em um “simples pesadelo“, a polícia vai ao local e vários agentes são mortos pelo agora conhecido Horace Pinker (Mitch Pileggi), que ainda consegue fugir. Irritado com Jonathan, ele decide que sua próxima vítima é sua namorada Alison (Camille Cooper), assassinando-a em sua própria casa, em um palco de sangue, ameaça escrita na parede e o cadáver na banheira.
Tomado pelo desejo de vingança, Jonathan resolve dormir em busca da próxima localização de Horace, encontrando-o em mais uma tentativa de assassinato. A incompetente polícia mais uma vez cerca o local, mas o assassino só é preso na intervenção do próprio rapaz. Como acontece somente na ficção, entre a prisão, julgamento, condenação e aplicação da pena capital é questão de meses. Logo, Jonathan estará presente para acompanhar a execução ao lado do pai, sem saber que o assassino realizou experimentos de magia e rituais que irão permitir sua sobrevida mesmo com a carga elétrica passando pelo corpo.
A partir de então, Horace passa a saltar entre corpos para perpetuar sua vingança contra Jonathan e continuar fazendo vítimas. Na sequência mais divertida do filme, ambientada num parque, Jonathan é perseguido pelo policial Pastori (Vincent Guastaferro), possuído pelo espírito de Horace – a identificação que se trata do criminoso é por ele ser manco -, e depois por outras pessoas do local, incluindo a pequena Sally, na hilária interpretação de Emily Samuel. A trilha incidental dá um toque especial à sequência, que envolve até mesmo um maratonista, vivido pelo filho de Wes Craven, Jonathan.
Se até essa sequência o filme prendia a atenção do infernauta por “absurdos aceitáveis“, na segunda metade Craven resolve partir para a galhofa assumida, perdendo sua força. Aparece o fantasma de Alison, soltando um raio pelo corpo e dando dicas de como enfrentar o vilão, e este e Jonathan invadem os programas de TV e lutam entre canais e filmes. A própria ideia da correntinha da garota ter um poder sobre o inimigo já me incomodou, e com as sequências de confrontos, uso de controle remoto para controlar Horace, e personagens saltando em câmeras e televisores, todo o meu interesse se afundou no lago do parque.
É claro que a proposta já exige boa vontade, mas estava divertido, mesmo não sendo inovador, quando havia apenas mudanças entre corpos e Jonathan tentando enfrentar o assassino, com a ajuda de colegas da escola, como Rhino (Richard Brooks), e o treinador Cooper (Sam Scarber), que facilmente aceitaram a situação sobrenatural indicada por ele.
Como se percebe, Shocker copiou muitas ideias de A Hora do Pesadelo e partiu para o mesmo tipo de humor das continuações, soando bobo e um slasher distante de estimular novos filmes. Há algumas participações especiais como a de Heather Langenkamp (a Nancy de A Hora do Pesadelo), Ted Raimi (irmão de Sam Raimi), ambos como vítimas, e ainda Kane Roberts, guitarrista do Alice Cooper, e o próprio Wes Craven. A trilha sonora é bem agradável, com musicas de Alice Cooper e até uma versão interessante de Megadeth para a “No More Mr. Nice Guy“.
Se tivesse mantido o mesmo estilo da primeira metade, Shocker teria uma aceitação melhor. Há quem tenha preferido essa segunda parte até, sem o estilo thriller de perseguição a um serial killer sobrenatural. Contudo, Craven parecia não conseguir se afastar o suficiente de Freddy Krueger, e suas tentativas de fomentar uma nova franquia iriam persistir até 1996, na primeira aparição de Ghostface.