
![]() Bom Menino
Original:Good Boy
Ano:2025•País:EUA Direção:Ben Leonberg Roteiro:Ben Leonberg, Alex Cannon Produção:Kari Fischer, Ben Leonberg Elenco:Shane Jensen, Arielle Friedman, Larry Fessenden, Stuart Rudin, Hunter Goetz, Anya Krawcheck, Indy, Max |

Há quem acredite que os animais enxergam espíritos. Da mesma forma como pressentem tsunamis e desastres naturais, aquele olhar para os cantos perdidos das moradias e latidos e miados para lugar algum denunciam presenças sobrenaturais, incapazes de serem vistas por seres humanos. E há quem também pense neles como seres protetores, hábeis em afastar influências negativas e lençóis brancos. Foi com essa perspectiva que Ben Leonberg resolveu desenvolver o experimental Bom Menino (Good Boy, 2025), que está chegando hoje aos cinemas brasileiros sem muito alarde, consciente que seu produto independente pode não agradar a todos os públicos, mesmo aqueles que são fãs de doguinhos.
De acordo com as curiosidades que envolvem a produção, o longa demorou três anos para ser realizado. Leonberg usou seu próprio cachorro, um Duck Tolling Retriever da Nova Escócia, chamado Indy, e precisou de paciência nas tomadas sem estressar o bichinho durante os 400 dias em que trabalhou na realização do filme, sem uso de efeitos visuais para dar mais veracidade e um tom mais assustador. É sem dúvida um produto experimental pelo seu próprio desenvolvimento, partindo do ponto de vista do animal, escondendo os rostos humanos, obscurecido pela fotografia escura – uma ideia também trabalhada em Veneno para as Fadas (1986) – e que também serviu para despertar uma entidade que habita a casa do falecido avô de Todd (Shane Jensen).

Sofrendo de doença pulmonar crônica, o rapaz sai de Nova York para uma casa rural isolada, levando consigo seu cãozinho Indy, contrariando os alertas de sua irmã Vera (Arielle Friedman), que acredita que o local possa ter contribuído para a morte do avô. Desde a chegada, o cão já percebe que não estão sozinhos e que sombras, esgueirando-se dos cantos e uma figura humanoide envolta em gosma preta, parece habitar o local. As conversas entre Todd e a irmã, além do vizinho Richard (Stuart Rudin), ajudam na montagem de um quebra-cabeça com peças do passado e do presente: o avô, interpretado pelo rosto de produções de horror B, Larry Fessenden, também tinha um cachorro, Bandit (Max), que está desaparecido.
Pistas são pinceladas na narrativa de Leonberg e Alex Cannon, enquanto Indy, além de atormentado pelo que presencia, também sofre com pesadelos aterrorizantes. A doença de Todd afeta o discernimento do rapaz que acaba agindo de maneira estúpida ao prender o cãozinho ou deixá-lo pra fora de casa. Desesperado para ajudar seu dono, mas sem a ousadia de General (o gato de Drew Barrymore em Olhos de Gato, 1985), cabe ao infernauta torcer para que nada de ruim aconteça com Indy, mesmo com suas boas intenções. Aliás, quando o filme teve sua exibição inicial em março, uma das maiores pesquisas feitas no Google envolvendo a produção trazia a pergunta sobre se o cachorrinho sobreviveria ao final. Só vendo mesmo para acompanhar a jornada sobrenatural de Indy.

Apesar de funcional pela proposta, Bom Menino talvez funcionasse melhor com uns vinte minutos a menos, com a duração abaixo de um média-metragem. Para alcançar a duração de um longa é preciso ter paciência para acompanhar longos momentos em que nada acontece, acompanhando apenas o passeio do animal pelos ambientes, com o olhar assustado de um Scooby Doo, mas com a intenção de resolver o mistério. O trabalho de câmera e edição de Leonberg é bastante eficiente para que a perspectiva do animal e os diálogos dos humanos permitam que o público entenda o que está acontecendo. Imagino uma imersão maior à proposta – e ainda mais experimental – se a fotografia utilizasse a visão do cachorro realmente e as falas não fossem facilmente compreendidas à exceção dos comandos ao animal e a referência a seu nome.

Contando com a boa “atuação” de Indy e uma atmosfera melancólica, Bom Menino vale como experimento para os fãs de horror, de cinema em geral e para quem não se importa em ver um cãozinho aterrorizado por uma presença macabra durante todo o filme. Para todos estes, pode valer o biscoito e o abanar de rabo, na expressão de diversão garantida.





















