![]() Prenda a Respiração
Original:Hold Your Breath
Ano:2024•País:EUA Direção:William Joines, Karrie Crouse Roteiro:Karrie Crouse Produção:Lucas Joaquin, Alix Madigan Elenco:Sarah Paulson, Amiah Miller, Alona Jane Robbins, Annaleigh Ashford, Ebon Moss-Bachrach, Arron Shiver, Bill Heck, Frances Lee McCain, Courtney Cunningham, James Healy Jr., Nathan Gariety, Ethan Woodall, Joanne Marie |
Senhor, pedimos que mantenha
as tempestades afastadas.
Acalme a poeira.
Produzido pelo canal americano Hulu e disponível no Brasil pelo Disney+, Prenda a Respiração (2024), ou Hold Your Breath no título original, é um suspense com alguns elementos de horror escrito pela cineasta Karrie Crouse (roteirista da série Westworld, 2020) e dirigido pela própria em parceria com William Joines (em sua estreia na co-direção de longas-metragens).
A trama acompanha Margaret Bellum, uma mãe dedicada que cria sozinha suas duas filhas em uma fazenda isolada no interior de Oklahoma, durante a década de 1930. Seu marido partiu para a Filadélfia em busca de trabalho e jamais retornou, deixando-a com o peso da responsabilidade familiar. A filha mais nova, Ollie, desenvolveu problemas auditivos após contrair escarlatina – a mesma doença que tirou a vida de sua irmã caçula, Ada. Arrasada pela perda, Margaret passou a sofrer episódios de sonambulismo, cuja frequência e intensidade são controladas pelo uso de fortes medicamentos.
Não bastassem todas as dificuldades, a região árida onde vivem é frequentemente assolada por violentas tempestades de areia, que podem causar doenças respiratórias graves, especialmente em crianças, e até levar à morte aqueles que não conseguem se proteger. Paralelamente, espalha-se um boato sobre um andarilho que estaria cometendo brutais assassinatos próximos a comunidade, deixando todos os moradores em alerta.
E é nesta conjuntura caótica e instável que surge Wallace, um pregador que pede abrigo após uma tempestade. Inicialmente, Margaret se recusa ajudá-lo, mas muda de ideia quando o desconhecido cura sua filha mais velha, que também estava doente. Seria Wallace apenas um religioso em busca de refúgio, um pastor capaz de operar milagres ou o serial killer que vem aterrorizando a vizinhança? A pequena Ollie tem certeza que ele é o “Homem Cinzento”, um personagem de um livro que sua mãe costumava ler para ela. Nas histórias, esse homem matava a família e acabava engolido por uma tempestade de areia – mas retornava como uma entidade sobrenatural que possuía suas vítimas quando elas inalavam a poeira das tempestades.
Apesar do ritmo irregular e por vezes demasiado lento, Prenda a Respiração (2024) é uma obra cinematográfica que se destaca por inserir o espectador em um cenário árido, hostil e quase inabitável. A atmosfera é muito bem construída, o som abafado e a paleta de cores amarela e desbotada estimula um sentimento melancólico e por vezes claustrofóbico, em um universo no qual os personagens parecem aprisionados em um pesadelo interminável.
O valor simbólico deste cenário e de toda a arenosidade é evidente. Esta terra inóspita onde vivem os personagens é uma espécie de espelho para a devastação emocional da protagonista. Mas os fantasmas e demônios enfrentados por ela não se resumem ao suposto assassino ou a agressividade da natureza; são terrores e medos interiores, fomentados por condições externas quase desumanas.
A frente do elenco está a ótima Sarah Paulson, quase repetindo o papel de mãe atormentada que viveu em Fuja (2020). Seu desempenho merece elogios, pois consegue transmitir com precisão o desgaste emocional e físico, transitando entre a mãe super protetora e a mulher no limiar de sua sanidade, sem parecer estereotipada. Outro destaque é a presença de Ebon Moss-Bachrach, ator conhecido pela elogiada série O Urso (2022) e por interpretar Ben Grimm em Quarteto Fantástico: Primeiro Passos (2025). Em Prenda a Respiração (2024), Ebon dá vida ao pregador Wallace, figura envolta em mistério e inquietação. Desde sua primeira aparição, o personagem impõe sua presença e contribui para a atmosfera de tensão que permeia o filme. No entanto, apesar do grande potencial, o vilão é pouco explorado. Completa o elenco principal as jovens Amiah Miller (de O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, 2022) e a novata Alona Jane Robbins.
Dica: não confundir Prenda a Respiração (2024) com o homônimo Prenda a Respiração (Hold Your Breath, 2012), terror de qualidade duvidosa dirigido por Jared Cohn e produzido pela Asylum. Aliás, sobre os títulos, o plano inicial era que a produção de 2024 se chamasse Dust. O longa foi renomeado para Prenda a Respiração pouco tempo antes do seu lançamento pelo canal Hulu. O novo título, além do vínculo direto com o enredo, traz no tom imperativo um apelo maior, além de sugerir um thriller de suspense; sugestão, em certa medida, válida, já que o filme pode ser classificado com um thriller de suspense psicológico.
Comentando o desfecho, spoilers a seguir, uma possível interpretação sugere que parte dos acontecimentos está relacionado ao clímax da loucura da mãe, embora não fique claro se tudo o que aconteceu foi uma manifestação sobrenatural ou é apenas delírio da protagonista, deixando em aberto a natureza do Homem Cinzento.
Vale destacar que as filmagens de Prenda a Respiração (2024) ocorreram nos meses finais da pandemia de Covid-19, o que confere ao filme outra camada simbólica especialmente relevante. O enredo pode ser entendido como uma metáfora do drama coletivo vivido entre 2020 e 2023, ao abordar de forma direta temas como o isolamento social, o medo da contaminação por vias aéreas, o avanço de doenças, a paranoia e a disseminação de desinformação.
Contudo, essa narrativa que, além de plural em termos de interpretação, mistura drama, suspense e horror, deve soar confusa para parte do público cuja expectativa é uma obra mais fechada. Em relação ao horror propriamente dito, não há sangue ou sustos o suficiente para agradar os fãs do gênero e o próprio sobrenatural é colocado em dúvida pelo desfecho pouco conclusivo.
Enfim, Prenda a Respiração não é nenhum novo clássico, muito menos vai reinventar a história do cinema, porém pode ser uma experiência agradável, principalmente pela boa atuação de Sarah Paulson. E se o longa se revela irregular em seu ritmo, pelo menos propõe certa reflexão sobre a maternidade, o luto e a fé.