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O H.O.R.R.O.R. chegou! Falaremos em primeira mão com um velho amigo do gore – J.J., sobre gore/splatter, filmes de terror e seu novo e incrível projeto H.O.R.R.O.R., que nos brindou com um massivo e envelhecido death metal/doom lançado em agosto de 2020.

Anderson A. Oliveira: Hail Juliano! Primeiramente nos fale sobre como surgiu a ideia deste projeto, e o que significa este acrônimo (H.O.R.R.O.R.)?

JJ: Grande Anderson, o significado de H.O.R.R.O.R. é Humanity On Rottenness Raping Out Reason e a ideia de criar um projeto com esse formato nasceu naturalmente, sem um planejamento, de maneira intuitiva. Comecei a compor umas músicas e o resultado foi um conjunto de referências de tudo que já escutei e toquei. O impulso principal foi a vantagem de conseguir desenvolver tudo sozinho, no meu tempo. Da ideia inicial até a gravação do EP foram três anos, e nesse período eu compus cinco músicas.

AAO: O primeiro EP do H.O.R.R.O.R. (Humanity on Rotteness Raping Out Reason) é destruidor! Com a influência principal no doom e death metal old school. Eu percebi imediatamente influências como Offal, Cianide e Coffins. Nos fale um pouco sobre a genial ideia de misturar doom e death metal e as sua influências para tal.

JJ: Que trinca, hein! Offal, Cianide e Coffins! Com certeza o som do H.O.R.R.O.R. tem muitas semelhanças com o som dessas e outras bandas de death/doom, porém acho que faço um som mais modesto, sem bate-estaca, sem pedal duplo, sem boas levadas para um mosh e com menos variedade de bases. Levando em consideração somente a velocidade da execução e a estrutura da composição, o H.O.R.R.O.R. está mais para doom do que death. A parte death metal vem principalmente do timbre de guitarra e do vocal gutural. Costumo dizer que o primeiro EP do H.O.R.R.O.R. tem a velocidade do doom, a sonoridade do death metal old school e temática gore/splatter/horror. Conversando com o Kenderson (canal Papo Pesado) esses dias, eu disse a ele que minhas referências foram Black Sabbath, Reverend Bizarre, Entombed, Autopsy e Impetigo, só para citar algumas, mas o leque de bandas que me influenciaram é infinito.

AAO: Claramente a temática do H.O.R.R.O.R. é encarnada em filmes do gênero, o que é algo bem interessante, quais filmes e/ou livros você tem de inspiração? Poderia nos revelar de qual filme pertence a intro usada na música Raw Stench Of Our Horrifying Degradation?

JJ: O terror sempre foi meu gênero preferido no cinema e na literatura, desde a adolescência. Tenho boas lembranças do Mojica apresentando, por exemplo, Shakma – Fúria Assassina e Witchtrap (com o título Bem-Vindos à Casa de Lauter – A Morte os Espera), dentre outros, no Cine Trash da Band, e esse período me marcou bastante. Depois disso, pra ajudar a “destruir a vida” do pequeno Juliano, meu primeiro emprego foi em uma livraria, e logo depois trabalhei em uma vídeo-locadora, por isso tive fácil acesso a um grande acervo de livros e filmes de terror quando era mais novo. Usar essa temática nas letras do H.O.R.R.O.R. foi quase inevitável. No caso do EP Raw Stench Of Our Horrifying Degradation, o filme que me inspirei, incluindo o trecho da introdução, foi o Cannibal Ferox (Umberto Lenzi, 1981), uma das obras mais sanguinárias da história do cinema e que apresenta nossa horripilante degradação de forma explícita e direta. Além dessa recém lançada, tenho outras músicas não gravadas inspiradas no filme Orlacs Haende (Robert Wiene, 1924), no livro Hell House (Richard Matheson, 1971), no conto The Midnight Meat Train (Clive Barker, 1984) e uma que envolve o universo Lovecraft.

AAO: A gravação do EP tem uma qualidade muito boa, porém ainda traz consigo a sujeira e o mau cheiro do velho death/gore. Nos conte sobre a produção e gravação do EP.

JJ: Cara, essa sonoridade suja e malcheirosa é um prato cheio para a turma do death/gore, principalmente os dinossauros como você hehehe, mas essa “imundície” foi bem recebida pelos fãs de doom também e esse foi um retorno gratificante. Minha ideia inicial era criar um funeral doom com temática splatter, mas durante o processo de composição, alguns elementos foram descartados e outros foram incluídos. De todas as músicas que compus para o H.O.R.R.O.R., somente uma é “menos lenta” que essa do EP. As outras são bem mais arrastadas e vão agradar mais os fãs de Anathema do que os fãs de Impetigo. Sobre a gravação, o processo foi o mais simples possível. Usei um kit básico de bateria, um baixo sem efeitos e minha guitarra com dois pedais (distorção e delay). Gravei tudo em três horas, deixei o material nas mãos do Manfredo (Riff Studio) e o resultado foi o EP Raw Stench Of Our Horrifying Degradation.

AAO: O H.O.R.R.O.R. tem algum outro integrante? Alguma possibilidade de assistirmos este projeto ao vivo após o apocalipse que estamos vivendo?

JJ: Até então eu fui o único envolvido na criação, composição e execução do H.O.R.R.O.R. e não tenho planos para shows, mas caso um dia haja a oportunidade de uma execução ao vivo, acredito que seria no formato de trio. Eu faria baixo e voz gutural, outro guitarrista fazendo a segunda voz, e um baterista. Já tenho esses dois membros em mente e espero que eles sejam receptivos com o convite, caso realmente aconteça. Fico “viajando” em como seria um show do do H.O.R.R.O.R. e pensando em possíveis efeitos visuais, mas é só. Meu foco agora é acertar as arestas para a próxima gravação.

AAO: Falando em apocalipse, a ideia do projeto teve alguma relação com a pandemia do covid-19? Fale um pouco sobre sua visão deste período negro que temos atravessado em 2020.

JJ: O covid-19 nos mostrou a verdadeira face do horror que estava velada em algumas pessoas, mas essa situação apocalíptica, por mais horripilante que seja, não serviu de inspiração para a criação do H.O.R.R.O.R. A única relação do projeto com o confinamento é que consegui concluir a primeira gravação nos dias em que fiquei em casa. Estamos em um período incerto e delicado, que impactou negativamente diversos setores da sociedade.

AAO: Falando dos filmes de terror… todo mundo que é aficionado com terror no brasil já leu ou lê o fodástico site “Boca do Inferno”. Ali eu aprendi muito sobre os filmes lado “z”. Diga como você foi convidado para resenhar bandas no Boca do Inferno?

JJ: O Boca do Inferno é uma grande referência quando o assunto são obras de terror. Além dos textos aqui no site, o Boca tem o podcast Falando no Diabo, um canal no youtube com resenhas de filmes, e o festival de curtas Boca do Inferno, que será online em 2020. E no ano que vem o site completa 20 anos, cara. 20 anos! É basicamente uma vida dedicada ao terror. O pessoal aqui trabalha bastante para entregar um conteúdo diário envolvendo o universo aterrorizante, incluindo filmes, séries, livros, HQs, games, e desde janeiro deste ano, terror musical também. Sobre começar a escrever aqui, eu sempre vi uma ligação da “música de terror” com o cinema, literatura e outros formatos. Pensando nisso, mandei uma mensagem para o big boss Marcelo Milici apresentando essa proposta e ele me deu a chance de escrever para os infernautas do Boca do Inferno.

AAO: Conte-nos um pouco sobre o que você tem escutado da cena underground e das velharias? Recentemente você publicou um texto muito interessante no Boca do Inferno sobre a origem do gore grind, fale um pouco sobre essa iniciativa.

JJ: Sobre as velharias, continuo firme e forte na minha devoção sagrada ao São Tony Iommi padroeiro dos riffs distorcidos e me aprofundando cada vez mais nos ensinamentos da Universidade Black Sabbath de Terror Musical, mas também acompanho bandas novas e discos novos de bandas antigas. Nos últimos doze meses, muitas bandas antigas gravaram discos fodas como Possessed, Cult Of Horror, Year of the Goat, Candlemass, Mistifyer, Expurgo, Benediction, e a lista é longa. Das bandas que nasceram recentemente, também temos grandes exemplos de som foda como o Open the Coffin, Chronic Ashes, Double Cross e The Evil (não tão nova, mas merece entrar pra lista). No caso da música ultra extrema de terror, extrema no som e no tema, nosso bom e velho goregrind merece destaque. É o sangue comendo solto! Desses, sigo fritando em Dead, Gut, Catassexual Urge Motivation, Regurgitate, Lymphatic Phlegm, Morphea, Dead Infection, além dos dinossauros Impetigo, Mortician, Repulsion e Carcass. E sobre esses dois últimos, fiz uma pequena pesquisa sobre a origem do goregrind e apresentei aqui no Boca recentemente. Agora temos que fazer um podcast com aqueles longos áudios que trocamos durante uma hora depois que escrevi o texto hehehe.

AAO: No passado você participou de bandas que foram referência no submundo do underground do gore grind, estamos falando do Hansened e CxVxIx. Fale um pouco como foram essas experiências. O H.O.R.R.O.R. tem algum resquício desta época?

JJ: O Hansened começou em 1996 e terminou em 1998. Nesse período, gravamos 6 das nossas 11 músicas e fizemos 14 shows em 9 cidades de Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, dividindo o palco com os dinossauros do Gore, Sarcastic, Necrocéfalo, Pathologic Noise e Flesh Grinder. Foi um período curto, porém intenso, que me marcou bastante. Minha participação no CVI foi só na gravação do primeiro disco, mas foi uma grande experiência também. Certamente os resquícios dessa época estão presentes no H.O.R.R.O.R., principalmente com relação à temática da banda.

AAO: Qual sua visão do underground atual imerso no mundo da informação digital? Quais as principais diferenças do início do Hansened?

JJ: A principal diferença entre ter uma banda em 1996 e agora em 2020 é a velocidade em que a informação se propaga. Nos tempos atuais é possível se comunicar com pessoas em qualquer lugar do mundo de forma instantânea, sendo que na época do Hansened a comunicação era feita por cartas e eventuais telefonemas. Além dessa facilidade na comunicação, hoje temos novos recursos que dão agilidade na gravação, na estrutura dos shows, fotos, designer, até mesmo para conhecer obras antigas e obras novas. Com relação à produção e divulgação de itens culturais, principalmente no underground, acho que a internet trouxe mais benefícios do que o contrário.

AAO: Planos futuros para o H.O.R.R.O.R.? Alguma possibilidade do lançamento do EP em formato físico?

JJ: Cara, meu objetivo inicial foi só tirar o projeto da gaveta e escutar pelo menos uma música gravada. Já tenho planos para as próximas gravações, mas sem prospectar lançamentos em formato físico. Vou começar a pensar nisso depois de tudo pronto para a gravação. Enquanto me preparo, se nesse período alguma gravadora se interessar, com certeza o convite será bem vindo.

AAO: Obrigado pela entrevista meu amigo, fique à vontade para deixar suas palavras finais.

JJ: Valeu demais pela entrevista, Anderson! Obrigado por aceitar nosso convite! Vida longa ao grande Expurgo!

 

 

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