![]() Drácula: Uma História de Amor Eterno
Original:Dracula: A Love Tale
Ano:2025•País:UK, França Direção:Luc Besson Roteiro:Luc Besson, Bram Stoker Produção:Luc Besson, Mark Canton Elenco:Caleb Landry Jones, Christoph Waltz, Zoë Bleu, Matilda De Angelis, Ewens Abid, Guillaume de Tonquédec, Bertrand-Xavier Corbi, Raphael Luce, Haymon Maria Buttinger, Nicolas de Lavergne, Ivan Franek, Jaakko Hutchings, Stavroula Karatheodorou, Romain Levi, Nikita Makkojev, Joonas Makkonen, Janne Mattila |
por Marcela “Tchela” Barbino
Preciso deixar algumas coisas esclarecidas aqui: primeiramente, saibam que AMO Literatura Gótica, amo a história criada por Bram Stoker, e sou fã da dupla Luc Besson e Caleb Landry Jones (diretor e ator protagonista, respectivamente). Dito isso, preciso admitir que já sabia mais ou menos o que esperar dessa adaptação que pegou muita gente desprevenida – e eu me incluo nessa. Versões desta história existem aos montes, mas o primeiro ponto que a diferencia das demais é que, de acordo com o próprio Besson em uma entrevista, este filme foi criado para alavancar a carreira do ator.
Sejamos justos: Besson tem em seu currículo ótimos filmes como Lucy e O Profissional, mas tem também muitos filmes que são, no máximo, medianos. C.L. Jones, por sua vez, tem participações em filmes grandes (Corra! e Três Anúncios para um Crime) e protagonismo em outras obras que não tiveram tanta expressão, como a parceria anterior da dupla, intitulada Dogman (que eu super recomendo!). Sua cara de doido varrido e seu jeito debochado me deixaram com a pulga atrás da orelha sobre Drácula, e acredite: a expectativa baixa ajuda MUITO a gostar desse filme!
O começo traz cenas de um romance louco e intenso que estabelecem exatamente o tamanho do amor que Elisabeta e Vlad sentem um pelo outro. Quando ela morre (não é spoiler!), Jones justifica sua interpretação ao mesclar insanidade e impulsividade; nasce aí seu Drácula cínico e despudorado. Faz parte da liberdade criativa de Besson.
Os cenários são imponentes, feitos com uma com uma computação gráfica competente. As gárgulas são um show à parte e os figurinos são perfeitos para as épocas retratadas. E quando você se pega admirando os aspectos técnicos do filme surge na tela, de repente, outro nome
de peso: o vencedor do Oscar Christoph Waltz que dá vida ao padre, chamado para resolver um mistério em um hospital psiquiátrico.
Besson dá a seus personagens a liberdade de terem comportamentos fora do padrão da época retratada, mas que conferem a essa adaptação um charme frenético que nem todas as outras adaptações cinematográficas da obra de Bram Stoker conseguiram imprimir. A principal
característica do personagem-título é a paixão, que constitui a grande força que o move através do tempo. Ouso dizer que foi uma das poucas adaptações que me fizeram torcer para que tudo desse certo e o casal protagonista ficasse junto.
Algumas cenas são carregadas de artifícios que beiram o risível de tão pretensiosas (como uma imagem de Jesus que chora sangue), mas tudo aquilo faz parte da roupagem mais caricata que o diretor escolheu dar à sua obra e, sinceramente, faz com que Drácula seja
diferente e mereça ser assistido. A sofisticação do Nosferatu, de R. Eggers (Nosferatu, aliás, é derivado de Drácula) e a genialidade em construir uma atmosfera inóspita e mórbida que Coppola conferiu à sua versão não são vistas aqui, mas são compensadas com um deboche e uma intensidade romântica que poucas vezes se viu em outras adaptações.
O desfecho do filme poderia ter mais emoção, mas é compreensível. A trilha sonora de Danny Elfman é linda e ajuda a compor o clima em toda a projeção, mas nem ela é capaz de acentuar o clima tenso que se instaura na situação. As interpretações são satisfatórias, com exceção da atriz Zoë Bleu Sidel, que não me passou veracidade nas cenas iniciais. Christoph Waltz compõe seu personagem com a descontração e a acerto idade que lhe é comum em outros papéis. O destaque total vai para o Drácula, que parece personificar o significado da palavra “intensidade“.
Há quem diga que alguns momentos não condizem com a obra original, mas faz parte do gosto de cada um e seu apego ao livro. Se você gosta de filmes de vampiros ou da história, dê uma chance. Mesmo que esse romantismo todo não te agrade, você vai pegar muitas referências a outras adaptações. Perdoem a metáfora, mas este filme tem aquela vibe de uma música do Reginaldo Rossi em uma festa: é brega, é cafona, fala de amor de uma forma melosa, mas você ri e não se incomoda. No meu caso, confesso que até cantei junto.