Tubarão
Original:Jaws Ano:2015•País:EUA Autor:Peter Benchley•Editora: Darkside Books |
“Saiam da água“. Foi o seu momento de sua emersão como um dos maiores monstros da Sétima Arte. Com apenas 26 anos, mas com alguma experiência no currículo, Steven Spielberg surgiu discretamente, como uma sombra no oceano, até que a barbatana de seu primeiro grande sucesso anunciou a chegada de um devorador de audiência em Hollywood. Seu Tubarão foi um dos principais representantes do período ecológico do cinema, quando havia o embate entre o Homem e a Natureza como um alerta dos cuidados necessários com o meio ambiente. A grandiosidade de sua obra se deve ao talento despertado de Peter Benchley, que, apaixonado pelo oceano e aventuras marítimas, resolveu contar uma história inspirada em eventos reais.
Conforme sua apresentação na edição caprichada da Darkside Books, ele sentia que precisava contribuir para o subgênero dos tubarões assassinos, mas ir além de uma produção de horror, acrescentando paixão, política e metáforas que enriqueceriam seu trabalho inicial. Ao mesmo tempo em que prepara o terreno para uma aventura de caça e perseguição a um assassino voraz, apresenta personagens que transpiram vivacidade, com suas falhas de caráter e simpatia, sem o excesso de heroísmo de literaturas similares.
Como no filme de 1975, as ações começam com uma morte sangrenta. Se Spielberg soube esconder seu monstro por mais de 85% do filme, até mesmo por conta da redução dos gastos, Benchley demonstra seu imenso estudo sobre as criaturas ao apresentá-la de forma grandiosa e assustadora já nas primeiras páginas. Ele a descreve como única – não “um tubarão” mas “o” -, uma máquina de matar perfeita, surgindo sorrateiramente para, durante a madrugada, dilacerar uma jovem após o sexo. Logo, o que sobrou de sua carcaça é avistada pela polícia na praia, na descrição detalhada do que sobrara da refeição noturna e sem o disfarce dos caranguejos.
“Emaranhados no monte de algas estavam a cabeça de uma mulher, ainda presa aos ombros, parte de um braço e cerca de um terço do tronco. A massa de carne dilacerada estava cheia de manchas roxas, e enquanto Hendricks vomitava na areia, pensou que o que sobrou do seio da mulher parecia achatado como uma flor espremida num livro de memórias”.
Assim que atestou a responsabilidade pelo ato a uma fera do mar, o Chefe de Polícia de Amity, Brody, não pensou duas vezes e já quis bloquear o acesso à praia. Descrito como ranzinza, mal humorado, mas correto em suas atitudes – diferente do sempre querido Roy Scheider -, ele também teve que enfrentar os protestos do prefeito, temendo o prejuízo do período mais fértil do turismo na cidade e a ameaça da sua dívida com a máfia, além do incômodo de não ter mantido a firmeza de sua palavra e facilitado a morte do pequeno Alex. Assim que os ataques se tornam frequentes, na mesma sintonia da versão cinematográfica, Brody se vê envolvido com dois nomes: o biólogo e boa pinta Matt Hooper e, bem para os capítulos finais, o pescador experiente Quint.
Hooper estabelece uma química imediata com a esposa de Brody, Ellen, cujo irmão ela teve um relacionamento no passado. Não demorará para que esse tubarão conquistador leve para o fundo das águas escuras a mente infeliz da mulher, deixando o policial com uma leve suspeita dos acontecimentos obscuros. No desenvolvimento do roteiro, Benchley e Carl Gottlieb ignoraram esse infortúnio de Brody para concentrar a película no bom pai de família, apaixonado e carinhoso, e sua dor de cabeça com o vilão marítimo. Já Quint, introduzido já no primeiro ato do filme, riscando a lousa com suas unhas, é descrito como um experiente e arrogante caçador, também mercenário e convencido.
As duas versões de Tubarão fazem uma química absoluta, com detalhes que se completam. Mergulhar na leitura se torna tão essencial quanto o passeio da Orca pela Sétima Arte, tendo como mérito a violência gráfica dos ataques e a excelente interpretação do trio Scheider, Robert Shaw e Richard Dreyfuss. O Tubarão está nas livrarias, corra ao encontro dele!