De uma coisa temos certeza: Lucio Fulci é um dos maiores nomes do Cinema de Horror Italiano, aclamado por público e crítica mundo afora, e que, juntamente com Mario Bava e Dario Argento, formam a tríade do Horror Cinematográfico Europeu. Passeando por vários gêneros e subgêneros do cinema, foi autor de duas produções gialli importantes não só para nossas observações sobre o gênero feminino dentro desse universo fílmico específico, mas também por dirigir a atriz cearense Florinda Bolkan.
No primeiro, Non si Sevizia un Peperino aka Don’t Torture a Duckling, Florinda aparece como uma telúrica mulher do sul da Itália envolvida diretamente em práticas de Magia Negra e com um trágico passado de perdas. A cena de abertura em que ela cava uma cova rasa com as mãos retrata muito bem a sua força dramática e sua expressão de um ódio prestes a explodir. Vemos o cotidiano dos habitantes dessa pequena cidade, com seus moralismos ancestrais diante de personagens transgressores como as prostitutas e a figura da bela Patrizia, interpretada pela atriz Carole Bouchet, em cenas muito polêmicas de nudez diante de um garoto. Como “Pastor” dessa comunidade de extremos, temos um Padre relativamente jovem cuidado por uma espécie de mãe e criada, interpretada por Irene Papas.
É nesse contexto que passam a ocorrer mortes violentas de crianças no tal vilarejo sulista, cujas superstições e preconceitos dos aldeões levam todas as suspeitas para a personagem de Bolkan que, em sequência de estrema violência, é brutalizada quase que ritualisticamente por um grupo de homens armados de correntes. Essa sequência da corrente ferindo o corpo da personagem de Bolkan em cenas sangrentas será recriada pelo próprio Fulci na abertura de The Beyond, onde um grupo de homens tortura o demoníaco pintor também utilizando correntes.
Por causa de seu desfecho surpreendente e violento o filme causou escândalo na Itália, sendo Fulci escomungado pelo Vaticano. No Brasil esse filme chegou a ser lançado em poucos cinemas da região central de São Paulo no meio dos anos 70, com o inusitado título de O Segredo do Bosque dos Sonhos. Além da Direção de Fotografia excelente de Sergio D’Offizi, temos mais uma grande trilha-sonora muito inspirada de Riz Ortolani, criador de temas clássicos como o de Cannibal Holocaust.
No ano seguinte, Fulci volta a trabalhar com Florinda Bolkan em outro filme giallo: Lucertola con la pelle di donna, Una aka A Lizard in a Woman’ Skin. Ambientado em Londres, essa produção apresenta vários elementos de psicodelia populares na época e bastante característicos na capital inglesa. Como absoluta protagonista do filme, Florinda encarna Carol, uma mulher com profundos problemas ligadas à repressão de sua sexualidade, que se configuram na angústia que demonstra em seus sonhos homoeróticos e concretiza-os fazendo sexo com uma outra mulher, que teria sido assassinada por ela em seguida, como uma espécie de sangrenta negação de seu desejo reprimido. Essa sequência particular do sonho é de uma composição surreal impecável e com forte tensão erótica. A trilha-sonora do Mestre Ennio Morricone realça essa força das imagens. Os corpos despidos das mulheres, o vento, os cabelos que se movem, a faca, o sangue, tudo nos transporta para um abismo onde o desejo de Carol parece se jogar, em um clima de vertigem proposto pela excelente montagem dessa sequência e a mescla perfeita entre beleza, estilização, erotismo e violência.
Quando surge a trama clássica dos assassinatos em série, tudo gira em torno da protagonista que passa a ser perseguida por bizarras figuras que lembram hippies estilizados. Numa cena delirante, presente na rara versão sem cortes do filme, surge a imagem de cães com a barriga aberta ainda vivos que causou protestos na época, mas que na verdade eram efeitos de maquiagem. Corroborando com nossa tese central da importância do gênero feminino nos filmes de Horror Italiano, tal protagonista estrutura e conclui mais uma vez a trama, que só se fecha na sequência final pouco antes dos créditos, quando se revela a identidade do assassino. As sequências na igreja, onde a protagonista é perseguida, são de um grande efeito de tensão e suspense. A divisão da tela em duas partes na cena do jantar onde vemos uma festa psicodélica de uma vizinha da protagonista de um lado da tela e do outro a reprimida Carol em um silencioso jantar familiar, virou um recurso muito utilizado posteriormente me muitos filmes pelo Diretor norte-americano Brian de Palma e seus imitadores.
Essa parceria entre Lucio Fulci e Florinda Bolkan foi muito tensa, complicada, com direito a discussões violentas que beiraram muitas vezes as agressões físicas, e infelizmente ficou apenas nessas duas produções mais relevantes. Florinda Bolkan participou de inúmeras produções italianas de gênero como o clássico nunexploitation Flávia – A Monja Muçulmana.
Sonia braga não chega nem perto da Florinda!! antes de Xerxes Santoro dos 300 de esparta essa cearence já fazia sucesso e mostrava pros europeus que o Brasil não tem só samba,sacanagem e futebol!tem também atrizes com talento!!