Supernatural: A longa saga dos irmãos Winchester

4.4
(8)

Parece que foi ontem. Dia 13 de setembro de 2005 estreava pela Warner Bros. a série Supernatural, uma criação de Eric Kripke, que vinha basicamente com a proposta de saciar os saudosos fãs de Buffy, a Caça-Vampiros, encerrada em 2003. No enredo, dois irmãos viajavam pela América para enfrentar monstros, assombrações e demônios, tendo sempre um inimigo maior, com intenções apocalípticas. Sam (Jared Padalecki) e Dean Winchester (Jensen Ackles) haviam herdado essa maldição de ter consciência de entidades sobrenaturais do próprio pai, John (Jeffrey Dean Morgan ), e através de experiências trágicas como o incidente que culminou com a morte da mãe deles e da namorada de Sam, Jessica, nas mesmas circunstâncias.

O que atraia o público pelas jornadas de investigação de forças do além, e que resultaram em 15 gigantescas temporadas – que ainda seguiam o molde antigo de ter uma base de 20 episódios -, era o contexto assustador, envolto em lendas conhecidas e criaturas mitológicas, além do carisma dos personagens. Enquanto Sam era mais consciente de suas ações e sentia o pesar da responsabilidade, lembrando mais o pai, Dean misturava uma bravura agressiva com expressões bobalhonas em paqueras constantes, a partir das belas mulheres que encontrava pelo caminho. No decorrer das temporadas, muitos dessas características foram evoluindo com o avançar da idade dos personagens: não eram mais jovens cheios de hormônios, embora a essência da dupla permanecesse.

Boa parte das temporadas trazia o embate entre os irmãos, conflitos que os colocavam às vezes como vilões ou como o motor propulsor de desgastes psicológicos. Os episódios sempre terminavam com reflexões sobre suas atitudes, e muitas destas serviam para o crescimento necessário para o combate final. Outras marcas comuns da série era o 1967 Chevrolet Impala, o veículo negro usado em suas viagens, e a trilha sonora rock´n roll, com uma relação adequada com o episódio (algumas eram até títulos) e que, somada à jovialidade e à beleza dos protagonistas, ajudavam na empatia do público jovem e a atrair olhares interessados. E também é uma espécie de registro do episódio final um resumo que apresentava “a jornada até ali” com a música “Carry On Wayward Son“, da banda Kansas.

Com o episódio 327 indo ao ar em 19 de novembro de 2020, Supernatural chegou ao seu final. Para alguns, não foi exatamente o que se esperava; enquanto outros, tanto faz, uma vez que o legado deixado pela série é muito maior que seu encerramento. Segue-se um passeio rápido por cada temporada para que fiquem registradas as aventuras aterrorizantes e divertidas dos irmãos Winchester.

Primeira Temporada

Além da apresentação dos irmãos em combates contra vampiros e assombrações, o começo trouxe a curiosa relação entre eles com o pai John e a necessidade de vingar a morte da mãe, pelas ações do “demônio de olhos amarelos Azazel (Fredric Lehne), algo só possível com o uso de uma arma especial desenvolvida por Samuel Colt. Diferente do que aconteceria com o avanço da série, esta primeira é mais pé no chão e você realmente chega a temer pela vida dos irmãos, até então vistos como pessoas normais, com qualidades e fraquezas. Ousada no desenvolvimento de um inimigo poderoso, a temporada os aproxima do pai e traz algumas revelações importantes sobre o passado, da tal maldição que irá acometer a família Winchester.

Segunda Temporada

Ainda mais ousada que a anterior, deixando claro que a série traria grandes conflitos psicológicos, a segunda traz a morte do pai deles, além da namorada de Sam, Jessica, e do próprio, obrigando Dean a um acordo que envolve sua alma. Quando Azazel revela seus intentos apocalípticos, o confronto com o uso da arma é inevitável, assim como o receio de Dean do término de seu contrato e sua ida ao Inferno. Nesta temporada, novos personagens entram para a trama como os caçadores Ellen (Samantha Ferris), Gordon Walker (Sterling K. Brown) e principalmente Bobby Singer (Jim Beaver), que passaria a fazer parte da trupe. Como de costume em Supernatural, o final foi capaz de deixar os fãs insanos pela continuidade.

Terceira Temporada

Ao saber do acordo de Dean, os heróis tentam encontrar meios de salvar sua alma antes do término da data. Nesta temporada, mantendo ainda o bom nível da série, surge Ruby (Katie Cassidy), um demônio que terá participações eventuais por diversos momentos, numa relação de amor e ódio pela dupla, e que também será a representação da inimiga Lilith. Outros personagens ganham importância como o caçador Rufus Turner (Steven Williams) e Bela Talbot (Lauren Cohan), além dos realizadores de um reality show intitulado Ghostfacers, e a primeira “aparição” dos Cães do Inferno que vieram para conduzir Dean a seu destino, em mais um final de deixar o infernauta sem ar.

Quarta Temporada

A ansiedade pelo destino Dean se encerra no começo, quando Sam consegue trazê-lo de volta do Inferno. Contudo, o que assusta – e ainda me faz pensar muito a respeito – é o fato dele ter ficado muitos anos sendo torturado, o que deveria trazer traumas psicológicos eternos, mas não é o que acontece. Quem o traz de volta é ninguém menos do que o anjo Castiel (Misha Collins), personagem que se tornaria a essência da série, com mais importância até do que Bobby. O confronto com Lilith (desta vez interpretada por Katherine Boecher) continua e ela busca quebrar os 66 Selos que irá libertar Lúcifer de sua jaula. Ruby, que até então parecia colaborar com a dupla, trai em prol de Lúcifer e é morta ao final da temporada, mas o “anjo caído” consegue se libertar. A temporada ainda é lembrada pela primeira participação de Chuck Shurley (Rob Benedict), o “criador de Supernatural” e que depois se revelaria Deus.

Quinta Temporada

Para muitas pessoas, a série deveria ter encontrado seu fim nesta temporada. Ela mantém o excelente nível, traz conflitos que envolvem demônios e anjos e se encerra de maneira satisfatória. O inimigo da vez é ninguém menos do que o próprio Lúcifer (na ótima interpretação de Mark Pellegrino), e ainda há a participação do demônio Crowley (Mark Sheppard), da Morte (Julian Richings) e do arcanjo Michael (Jake Abel). Ao final, entre mortos e ressuscitados, Sam é possuído por Lúcifer e levado com ele para a jaula, enquanto Dean tenta voltar a ter uma vida normal com a namorada Lisa Braeden (Cindy Sampson). Seria realmente um final que encerraria bem a série, mas, com a audiência em alta, ela continuaria, diminuindo em criatividade.

Sexta Temporada

Como era de se imaginar, Sam retorna do Inferno, da jaula onde era constantemente torturado por Lúcifer, mas sem alma. Eles se unem ao avô Samuel (Mitch Pileggi) para encontrar os monstros Alfa, sem saber que as intenções reais dele envolve encontrar a localização do Purgatório. Quando Sam resgata sua alma, ela vem com as memórias do que sofrera, precisando de algo que possa impedir que tais dores retornem. A dupla também confronta a Mãe dos Monstros, que poderia ter um desenvolvimento melhor. Ainda assim há uns bons momentos na temporada como o que eles são conduzidos a uma realidade alternativa onde são personagens de uma série chamada Supernatural e o que se passa no século XIX, e eles encontram o próprio Samuel Colt.

Sétima Temporada

Com 23 episódios, a temporada, que prometia ser intensa ao colocar Castiel como um poderoso inimigo, volta a tratar de vários subplots para se tornar dinâmica e só consegue ser confusa. Com os resgate das almas do Purgatório em pauta, o grande vilão da vez são os Leviathans, tendo como líder Dick Roman (James Patrick Stuart). Há, como sempre, alguns bons momentos como os que envolve a nerd Charlie Bradbury (Felicia Day) e o que traz dois atores da série Buffy, James Marsters e Charisma Carpenter, sem as referências que os fãs buscam. Também há um destaque para o simpático Garth (DJ Qualls) e para o profeta Kevin Tran (Osric Chau), que, como outros, apareceriam em alguns episódios por temporada.

Oitava Temporada

Tendo como objetivo fechar os portões do inferno com a leitura da tábua por Kevin, a oitava temporada é lembrada por ser a que deu a Sam e Dean o acesso ao bunker dos Homens das Letras, uma organização composta por caçadores elegantes. Enquanto lutam por seus intentos, eles são enganados pelo anjo Metatron (Curtis Armstrong), e, por fim, os anjos são banidos para a Terra, e Castiel perde a Graça (quase literalmente). Nesta temporada também há como destaque o demônio Abbadon (Alaina Huffman) e a xerife Jody Mills (Kim Rhodes), também uma personagem recorrente nas demais temporadas. Fraquinha, com muita confusão entre os papéis de anjos e demônios, esta oitava deixava evidente que a série estava bastante desgastada.

Nona Temporada

Ainda na confusão dos anjos, nesta temporada há de tudo: desde facções angelicais, anjos inimigos, possuindo pessoas e demônios tentando ajudar os humanos. Tem Ezekiel, que depois se revela Gadreel; Crowley ajudando os irmãos e por aí vai. Ainda existe o conflito com Abbadon, que só pode ser morto com a Primeira Lâmina, e para isso Dean precisa ter a Marca de Caim, algo que depois irá resultar em possessão e mais uma morte. Nesta, nem os fãs suportavam mais a constante morte de Sam e Dean, que sempre voltavam, o fato deles serem possuídos, se tornem inimigos e por aí vai. Felizmente, a partir da décima temporada, as coisas começam a melhorar.

Décima Temporada

Mais interessante, esta temporada traz um Dean realmente ameaçador e que chega a promover um massacre, em um dos melhores momentos da série Supernatural. Influenciado pela Marca de Caim, eles descobrem que talvez necessite de um sacrifício como solução, algo que precisará de muita coragem e ousadia. Esta décima é marcada pela aparição da filha de Castiel, Claire (Kathryn Newton, novinha na época, antes de explodir nos cinemas com Freaky), que traz alguns problemas de ordem emocional ao anjo e também a requisitada bruxa Rowena (Ruth Connell), mãe de Crowley. Com episódios criativos, como o que Dean se torna adolescente e o que eles investigam uma peça teatral sobre Supernatural, aqui a série encontra uma nova energia que iria se manter – quase – até o fim da série.

Décima Primeira Temporada

 

A vilã que despontou no final da décima, Amara aka Escuridão (Emily Swallow), irmã de Deus, é o principal problema da temporada. Para conseguir enfrentá-la, Sam e Dean pedem ajuda a Lúcifer, e este pede o corpo do irmão mais novo como recipiente. Quem aceita é Castiel, que passa a ser o hospedeiro do anjo caído. Chuck, o tal escritor da série Supernatural, revela-se Deus, trazendo conflito entre os irmãos e algumas metáforas sobre o confronto entre Luz e Escuridão. Amara, que tinha a intenção de acabar com tudo, deixa evidente uma atração por Dean, e acaba desistindo de sua intenção apocalíptica, reconciliando-se com Deus. Ao término da temporada, a mãe dos Winchester, Mary (Samantha Smith), aparece viva, como um presente da Escuridão à Dean.

Décima Segunda Temporada

Apesar do retorno de Mary, que logo passa para a equipe dos irmãos, há uma queda brusca na qualidade da série, em relação às duas últimas temporadas – nada tão agressivo quando da sexta à nona. Nesta, Lúcifer possui o Presidente dos EUA e este engravida a assistente Kelly Kline (Courtney Ford). O problema é que o filho será um Nephilim, um dos seres mais poderosos que já habitaram a Terra, e Sam e Dean são instigados a matar Kelly para que ela não dê a luz. Há ainda o conflito com os Homens das Letras por aqui, além do sacrifício de Crowley, e a partida de Mary e Lúcifer para uma outra dimensão. Como se imagina, o filho Jack realmente irá nascer e trará os conflitos da temporada seguinte.

Décima Terceira Temporada

Última a ter 23 episódios, nesta os irmãos tentam “educar” Jack para que ele não seja corrompido por sua natureza. Enquanto lutam para trazer a mãe de volta e podem precisar da Tábua dos Demônios, dependendo da tradução adequada, não sabem que um dos Homens das Letras, Arthur Ketch (David Haydn-Jones), pode estar trabalhando com o demônio Asmodeus, ainda que por boas razões. Lúcifer, que chega a ocupar o trono do Céu, traz o caos para o lugar, obrigando Dean a permitir que o arcanjo Michael, do Mundo Apocalíptico, o possua para enfrentá-lo. O problema é que ele perde o controle deixando como final a possibilidade dele se tornar uma ameaça na temporada seguinte, numa temática já vista anteriormente. Novamente a confusão se estabelece com o envolvimento de universos alternativos e versões dos personagens, prenunciando um novo desgaste da série.

Décima Quarta Temporada

Esta já começou com o anúncio de que a décima quinta seria a última da série. Dean é temporariamente o vilão, que precisa tirar de si Michael. Claro que tudo precisa se resolver nos primeiros episódios para que a série volte a ter “o monstro da semana” e momentos divertidos. No caso, a solução é uma prisão temporária, até que Dean comece a planejar um sacrifício com a Caixa Ma’lak. Nick, que era o corpo de Lúcifer, passa a sofrer danos psicológicos e se vingar daqueles que mataram sua família – um ponto alto da temporada assim como o de Jack, quando perde a alma e mata Mary. Quando consegue livrar Dean de Michael, decidem usar a caixa para aprisionar o insano Jack, mas não conseguem. Eis que surge Deus, que, manda Jack para o Vazio, lugar onde habitam os mortos, e liberta todas as almas do Inferno, planejando acabar com tudo. A temporada cresce em sua segunda metade de maneira intensa e cria uma grande expectativa para a derradeira.

Décima Quinta Temporada

Não tinha como continuar mesmo. O inimigo aqui é ninguém menos que o próprio Deus. Ele começa a exterminar mundos alternativos, enquanto Sam, Dean e Castiel buscam meios de impedi-lo, contando com o apoio de Amara e Rowena, agora nova comandante do Inferno. Por ser a última temporada da série, nota-se que os episódios buscaram exterminar as pontas soltas e dar um fim a cada personagem conhecido do público, seja matando-o ou apresentando uma despedida coerente. Se por um lado, traz episódios muito bons e divertidos, muitos deles aproveitando todos o talento de Jensen Ackles, que chega a cantar e sapatear, talvez para mostrar a versatilidade do ator, por outro, também traz momentos ruins e desnecessários. Um deles é o péssimo ÚLTIMO EPISÓDIO. Se Supernatural se encerrasse com o episódio 19, a série teria tido um final digno e coerente, mas resolveram fazer mais um. E erraram feio. Poderiam ter deixado algo que promovesse temporadas isoladas futuramente ou até mesmo filmes, mas os realizadores optaram por encerrar definitivamente qualquer possibilidade de continuação.

É claro que um episódio final não é suficiente para apagar a força criativa de toda uma série. Um cuidado especial nos roteiros e talvez se diminuíssem as temporadas para em torno de dez episódios os resultados seriam melhores, mas não se pode negar que a longevidade de Supernatural acompanhou a evolução dos personagens e o crescimento do público fiel. Muitas pessoas deixaram de assistir durante algumas temporadas mais confusas, mas os persistentes encontraram momentos engraçados, assustadores, efeitos bem concebidos e muita criatividade.

Com o término de Supernatural, a pergunta que fica é: será que teremos alguma outra que herdará suas características? Durante sua exibição, muitas outras surgiram, em temporadas com menos episódios, porém sem o carisma dos irmãos no confronto com monstros diversos, enquanto bebem cerveja e comem comidas gordurosas, na travessia pela América.

Um brinde aos Winchester pela longa jornada!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Supernatural: A longa saga dos irmãos Winchester

  • 02/02/2021 em 16:46
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    Eu parei na nona temporada. Perdíamos noites baixando no emule e procurando legenda. Perdeu o rumo em algum momento ou eu envelheci. Agora, não posso esquecer da trilha sonora, que, realmente, era escolhida com muito bom gosto. Quando ouço Carry On Wayward Son, só remete à série.

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  • 24/01/2021 em 15:48
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    “Poderiam ter deixado algo que promovesse temporadas isoladas futuramente ou até mesmo filmes, mas os realizadores optaram por encerrar definitivamente qualquer possibilidade de continuação.”

    O episódio final foi realmente horrível, apressado e jogado como se fosse para evitar continuações, porém é bom lembrar que no episódio “My Heart Will Go On” (S06EP17) um anjo alterou o destino do Titanic e a história foi alterada, então se a proposta era encerrar sem chance de retorno aos olhos do fãs eles falharam miseravelmente porque de fato existe chance.
    Apesar da temporada final ter dado resposta e destino para alguns personagens, esqueceram por completo o Jesse Turner da 5ª Temporada, o meio demônio meio humano (Anticristo)…

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      24/01/2021 em 19:58
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      Verdade. Tinha me esquecido desses dois detalhes. Ótimas observações.

      E realmente foi um final feito para impossibilitar continuações!

      Abs

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