Um papo sobre os devaneios do escritor Adam Mattos

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Quais são os incômodos que constroem nossos pesadelos? E como seria a mente de um autor que é reflexo de todas essas perturbações diárias, mas disposto a exprimi-las através de sua literatura? O curitibano Adam Mattos resolveu, em uma lobotomia literária, mostrar como enxerga situações do cotidiano e outras concebidas pela imaginação em seu novo livro, Devaneios de uma Mente Perturbada.

Advogado, com pós-graduação em História das Religiões,  ele possui contos publicados em diversas antologias e que serviram como degraus para a construção de suas obras autorais. Já lançou Alma em Pedaços, e agora está disponibilizando seu leque de contos perturbadores pela Editora Flyve. Em conversa com o Boca do Inferno, o autor deu algumas pistas sobre sua produção escrita.

Boca do Inferno: Dizem que a maldade humana está impregnada na sociedade desde sempre. Você concorda com essa colocação, atribuindo ao Homem essa condição?

Adam: Com certeza. A partir de quando o homem passou a ser um ser pensante, começou a maldade. E ela sempre vem ligada a outro sentimento como a ganância, a inveja. Hoje já é um pouco diferente; creio que o homem extrai um prazer em cometer certas maldades. Imagina uma mulher bêbada dormindo no sofá de uma festa. Qual a chance dela ser estuprada? É altíssima. Porque os que não são maus estarão em minoria e provavelmente iriam embora.

Boca do Inferno: Há quem defenda que o gosto pelo horror, seja literário, cinematográfico e outras vertentes, possa ter relação com o caráter, associando atos de violência pelas preferências particulares. Como você enxerga isso?

Adam: Eu vejo de forma muito natural. O homem busca o terror para sentir a adrenalina causada pelo medo, mas de forma segura. É óbvio que nenhuma obra de terror e horror vai influenciar as pessoas de forma negativa. Seria como dizer que a criança vai virar gay porque o Super-Homem beijou outro cara na HQ. Sem cabimento algum.

Boca do Inferno:  Pode-se dizer que vale a pena lidar com o horror literário, mesmo com todas as adversidades que envolvem o gênero, como esses preconceitos?

Adam: Depende do que você busca. Ganhar dinheiro rápido? Acho difícil. O terror é algo mais do coração mesmo. Se você faz parte dessa legião de escritores e escritoras fenomenais, já vale a pena. E eu diria, por incrível que pareça, que o terror está crescendo. As editoras estão loucas atrás de bons livros de terror.

Boca do Inferno:  O medo é o combustível do horror. Saber trabalhar com o perturbador, o incômodo, é o que condiciona os principais méritos do gênero. Como você se preparou para lidar com ele na literatura?

Adam: Da forma que eu acho que todo escritor deveria se preparar: lendo muito. Eu tenho graduações voltadas pra literatura também, mas o principal é ler livros de terror.

Boca do Inferno:  Você sempre foi fã de horror, seja na literatura e outras vertentes? Quais são suas experiências com o gênero?

Adam:  Eu jogava Fantasmagoria no PC… rs. Esse era um jogo com 6 ou 7 CDs, se não me engano. No videogame, Silent Hill e Resident Evil. É interessante como o vídeo game me influenciou e hoje eu quase não jogo. Quando criança fazia brincadeira do copo, adorava todos os filmes slashers dos anos 90. Mas na literatura o primeiro livro de terror que li foi do mestre R.F. Lucchetti.

Boca do Inferno:  O livro é a parte 2 de uma trilogia, intitulada Trilogia da Maldade. O que vem lhe inspirando para o projeto? Como surgiu a ideia?

Adam:  Na verdade não foi planejado. Eu escrevi um livro de poesias de terror que trata da maldade, o terror real, nada de assombração. Depois veio esse livro: Devaneios de uma Mente Perturbada, que inclusive está voltando ao estoque da editora depois de ter sido o mais vendido do ano. Esse livro eu consegui trabalhar mais sobre a maldade. Então pensei “Perfeito para uma trilogia que acabará em um romance lançado na bienal do Rio de 2023!” Mas, antes dele ainda lançarei um livro de poesias de terror, na mesma pegada do Alma em Pedaços, mas em homenagem às mulheres, que se chama “O profundo obscuro” e será lançado entre dezembro e janeiro pela editora Flyve.

Boca do Inferno: “Devaneios de uma mente perturbada” é como você analisa sua própria concepção literária, seu desenvolvimento como autor?

Adam:  Um pouco. Eu me considero uma pessoa boa e focada em um objetivo. Quando esse é alcançado, crio outro. O de agora é ser o primeiro autor da Flyve a ser indicado ao prêmio Jabuti.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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