Five Nights at Freddy’s e mais animatrônicos assassinos no cinema

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Nos Estados Unidos são muito comuns estabelecimentos e franquias conhecidos como “family entertainment center”, ou centro de entretenimento familiar, que lembram muito os buffets de festas infantis aqui no Brasil, espaços com brinquedos para as crianças (como piscina de bolinhas e escorregadores infláveis), fliperamas e mesas. Mas, ao invés de jovens proletários fantasiados como personagens da Disney, vários desses centros de entretenimento têm personagens animatrônicos interagindo (mais ou menos) com os frequentadores locais.

Não é preciso se esforçar muito pra perceber que isso daria um ótimo enredo de terror, mas quem de fato fez alguma coisa sobre esse assunto (ou pelo menos quem fez algo muito bem-sucedido sobre esse assunto) foi Scott Cawthon, criador do jogo Five Nights at Freddy’s, lançado em 2014. O game se passa no restaurante Freddy Fazbear’s Pizza, que tem um mascote animatrônico, o urso Freddy, e seus companheiros de banda. Fofinhos durante o dia, os bichos ganham vida à noite, quando os espíritos das crianças assassinadas na pizzaria, que possuem os robôs, despertam. Seu papel como jogador é o do guarda noturno que deve evitar dar de cara com os animatrônicos e, consequentemente, com a morte certa.

Com nove jogos na franquia principal, fora os spin-offs, Five Nights at Freddy’s poderia virar um filme bem interessante. A Warner percebeu isso rápido, adquirindo os direitos de adaptação do jogo em 2015. O projeto não andou, e acabou indo para a Blumhouse em 2017, onde seguiu em um limbo, sendo passado de mão em mão entre diretores como Gil Kenan (Poltergeist 2015) e Chris Columbus (Harry Potter e a Pedra Filosofal), com roteiros sendo reescritos diversas vezes ao longo dos anos.

Finalmente, em outubro de 2022, Jason Blum anunciou que a produção do filme tinha finalmente começado, com Emma Tammi (Terra Assombrada/The Wind) na direção e roteiro de Cawthon, Tammi e Seth Cuddeback. Com Josh Hutcherson à frente do elenco, o filme estreia nos Estados Unidos no dia 27 de outubro, simultaneamente nos cinemas e no streaming Peacock (o que já não é bom sinal). A notícia é que serão, pelo menos a princípio, três filmes. No Brasil, o longa chega um dia antes, acompanhado do subtítulo “Pesadelo Sem Fim”.

O que acontece é que o cinema não para, e não foram só a Warner e Jason Blum que perceberam o potencial de um filme baseado em animatrônicos assassinos. No vácuo da adaptação empacada de Five Nights at Freddy’s tivemos o lançamento de dois longas, no mínimo, interessantes. Vamos a eles.

Willy’s Wonderland (2021)

Willy's Wonderland - Parque Maldito
Original:Willy's Wonderland
Ano:2021•País:EUA
Direção:Kevin Lewis
Roteiro:G.O. Parsons
Produção:Terayle Hill, Terayle Hill, Jeremy Daniel Davis, Bryan Lord, Michael Nilon, David Ozer
Elenco:Nicolas Cage, Emily Tosta, Beth Grant, Ric Reitz, Chris Warner, Caylee Cowan, Kai Kadlec, Jonathan Mercedes, Terayle Hill

Nos últimos anos, Nicolas Cage vem aparecendo em filmes de terror bem peculiares, com destaque para Mandy e A Cor que Caiu do Espaço. O ator parece ter se encontrado dentro do gênero, e chama atenção a cada novo filme anunciado. Colocá-lo como protagonista de Willy’s Wonderland, exatamente como um segurança noturno que deve cuidar de um ambiente onde animatrônicos demoníacos perambulam à noite, parecia ser algo impossível de dar errado. E o filme tem lá suas qualidades, mas dividiu opiniões. Particularmente, eu gostei menos do que queria ter gostado.

O longa tem direção de Kevin Lewis e roteiro de G.O. Parsons, e é baseado no curta Wally’s Wonderland (confira abaixo), que o próprio Parsons lançou em 2016. O personagem de Cage não tem nome e não profere uma palavra ao longo de todo o filme. Ele apenas chega à cidade onde fica o restaurante com um pneu furado e sem dinheiro, e aceita o serviço de guarda e faxineiro por uma noite no Willy’s Wonderland em troca do conserto de seu carro. Ele leva muito a sério a tarefa de limpar, mesmo depois de descobrir que os pacíficos animatrônicos se tornam assassinos implacáveis durante a noite, o que não o impede de forma alguma de cumprir suas funções.

Assim como em Five Nights, os animatrônicos de Willy’s são possuídos, mas aqui se trata do espírito do líder de uma seita, um assassino canibal, e sete de seus seguidores. A banda já é bem feia desde o início e é difícil acreditar que crianças iam querer estar nesse lugar, mas tudo bem. Sem qualquer contexto para o personagem de Nicolas Cage, que só para de limpar e lutar quando chega a hora de tomar um energético (não sabemos o por que), o filme se resume a acompanharmos esse cara destruindo os bichos na porrada e seguindo a vida como se nada tivesse acontecido, repetidas vezes ao longo da noite. É divertido, mas pode ficar cansativo ali depois do terceiro boneco…

O que realmente quebra o ritmo de Willy’s Wonderland é a aparição de um grupo de adolescentes no restaurante. Eles têm uma desculpa bem qualquer coisa pra estar ali, e servem só pra morrer mesmo, já que era preciso incluir gente bem menos competente que Nic Cage pra servir algum sangue nesse roteiro. Era melhor ter deixado esse pessoal pra lá e manter só o foco principal: acompanhar um homem com uma missão.

The Banana Splits Movie (2019)

The Banana Splits Movie
Original:The Banana Splits Movie
Ano:2019•País:EUA
Direção: Danishka Esterhazy
Roteiro: Jed Elinoff, Scott Thomas
Produção:Adam Friedlander
Elenco:Dani Kind, Steve Lund, Celina Martin, Finlay Wojtak-Hissong, Sara Canning, Romeo Carere, Maria Nash

Pode parecer um contrassenso falar de The Banana Splits Movie depois de Willy’s Wonderland, já que se trata de um filme lançado antes. Porém, ao menos pra mim, esse foi um dos motivos de eu gostar menos de Willy’s: Banana Splits é muito melhor e foi difícil evitar a comparação, ainda que as histórias sejam consideravelmente diferentes, então fica a sugestão de assistir aos dois nessa ordem mesmo.

The Banana Splits foi um programa de auditório da Hannah Barbera, que estreou no final dos anos 1960, protagonizado por uma banda composta de quatro pessoas vestidas como os personagens Fleegle, Bingo, Drooper e Snorky. Todos animais, eles eram bem mais bonitinhos que os personagens de Five Nights ou Willy’s, mas, em 2019, a diretora Danishka Esterhazy (do ótimo reboot de Slumber Party Massacre) e os roteiristas Jed Elinoff e Scott Thomas resolveram transformar os bichos em animatrônicos que saem de controle quando descobrem que seu programa vai ser cancelado.

Essa situação acontece justamente no dia em que o pequeno Harley (Finlay Wojtak-Hissong) vai assistir pessoalmente à gravação do programa com sua família, em comemoração de seu aniversário. Alguns poucos sortudos da plateia são escolhidos para conhecer os bastidores – e a banda – depois das gravações, e é aí que tudo dá errado e o cenário super colorido dá lugar a algo que se parece com o Mundo Invertido de Stranger Things, escuro e com brincadeiras transformadas em circuitos mortais que ceifam os personagens um a um.

E aí estão os dois maiores trunfos de The Banana Splits Movie: os personagens, muito mais desenvolvidos e variados, e todos com motivos diferentes para estar ali; e suas mortes, nada repetitivas e muito criativas, com destaque para o uso de um pirulito gigante de uma forma bastante inusitada. Ah, e vão preparados pra música, porque ela fica na cabeça por dias!

Bônus

Há duas outras produções interessantes pra quem estiver interessado em animatrônicos enquanto espera a estreia de Five Nights at Freddy’s, ambas disponíveis no Youtube, em inglês. Uma delas é o documentário The Rock-afire Explosion, sobre a banda homônima que se apresentava na rede ShowBizz Pizza Place nas décadas de 1980 e 1990. O documentário mostra entusiastas que compram e restauram os animatrônicos, algo super normal e nada assustador.

A outra opção, essa bem curtinha, é The Hug, uma pequena produção do Hulu com duração de pouco mais de cinco minutos, que acompanha um garoto chatíssimo que não vai parar de encher enquanto não conseguir abraçar o panda Pandory.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

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