O Velho Moinho (1937)

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O Velho Moinho
Original:The Old Mill
Ano:1937•País:EUA
Direção:Wilfred Jackson
Roteiro:
Produção:
Elenco:

Ser fã de filmes de terror faz com que a pessoa desenvolva um olhar capaz de identificar os elementos que formam as produções do gênero, mesmo em películas que não tenham nenhuma ligação com tramas macabras. A Semiótica, ciência que, entre outros temas, estuda os elementos transmissores de símbolos em meios de comunicação, defende que qualquer produto tem como objetivo atingir determinado público e, por isso, é formado por elementos simbólicos pertinentes a cada grupo.

Desta forma, filmes, livros, matérias de jornais, programas de televisão, comerciais, panfletos, além de uma série de produtos, utilizam símbolos que sejam do interesse do seu público geral. Como exemplo, podemos citar os próprios filmes de terror, que costumam utilizar elementos de fácil identificação, como assassinatos, cenas noturnas, vilões, entre outros.

Reconhecendo esses elementos, é bem fácil encontrar pessoas que enquanto assistem a algum romance ou comédia, podem pensar que determinada cena seria perfeita para um filme de terror. E não estamos falando de uma comédia na qual aconteça algum assassinato, mas sim uma produção com elementos mais sutis, como um lago isolado ao pôr do Sol, uma casa abandonada no meio do nada, além de uma infinidade de possibilidades.

O curta-metragem de animação O Velho Moinho (The Old Mill, 1937) talvez seja um dos melhores exemplos para a utilização de elementos pertinentes ao gênero terror. Não prezado leitor, não estou insinuando que esse belo trabalho produzido por Walt Disney e dirigido por Wilfred Jackson (Alice no País das Maravilhas, 1951; Peter Pan, 1953) possua mensagem subliminar de produções de terror. Mas através de uma segunda observação, podemos sim encontrar alguns elementos que funcionariam em uma trama cujo público alvo não seria o infantil.

Para quem não assistiu quando era criança, O Velho Moinho é mais um dos desenhos clássicos criados pelos Estúdios Disney. A trama nos apresenta justamente ao personagem do título, uma construção antiga, no meio de uma bela paisagem bucólica e que serve de abrigo para alguns animais como passarinhos e ratinhos. No entanto, ao cair da noite, uma tempestade ameaça não apenas o moinho, mas os seus moradores.

O Velho Moinho foi produzido em uma época na qual nem se imaginava que as animações poderiam ser feitas por computador. O trabalho manual é de uma riqueza de detalhes impressionante. Desde o interior do moinho, assim como o bosque e uma diversidade de bichinhos fofinhos que também incluem sapos, morcegos e até uma simpática coruja.

Todo esse belo universo é transformado com a chegada da noite. Dos morcegos que despertam, assim como os sapos, que começam a coaxar, o cenário diurno vai se transformando em uma paisagem escura, que passa a existir através de imagens desenhadas no contra-luz da lua ou nas sombras da vegetação. A rotina da noite é quebrada com a chegada de uma forte tempestade. Claro, não vamos generalizar e afirmar que qualquer filme que tenha alguma sequência noturna representa uma referência às películas de terror. Mas no caso de O Velho Moinho, temos uma noite repleta de sons e sombras, como na bela sequência dos grilos, o que pode passar, dentro desta interpretação, uma sensação de estranhamento.

Semelhanças

Como já foi dito antes, O Velho Moinho NÃO é uma animação de terror, mas sim um belo trabalho que utiliza alguns elementos simbólicos que são comuns ao gênero. O próprio moinho é uma espécie de casa abandonada e poderia ser utilizado em qualquer filme de suspense ou terror. A construção fica localizada no meio do nada e a impressão que fica, é de que o moinho foi deixado por seu antigo proprietário. Claro, não estamos falando de algo que seja semelhante à casa de A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), mas de uma construção que, caso estivesse em um filme de terror, os personagens deveriam pensar duas vezes antes de entrar.

A chegada da tempestade é um dos melhores momentos da animação por pegar os personagens, e ao público, desprevenidos. Através do aumento da força do vento, perfeitamente representado por efeitos sonoros, a brisa vira ventania e vem acompanhada da forte chuva.

Parte deste brilhante resultado é fruto do trabalho da Orquestra Silly Symphonies que, além da trilha sonora tradicional, também cria efeitos sonoros para representar o evento. Aliás, este elemento da natureza consegue ser criado de forma quase fantasmagórica no aspecto do som, por ser o resultado sonoro do vento ao passar por troncos de árvores secas.

É justamente essa transformação do lugar com a chegada da tempestade que pega o público de surpresa. Se no começo, o bosque era um verdadeiro paraíso, ao cair da noite e na ausência de luz, tudo fica mais assustador. Quem assistiu ao primeiro Sexta-Feira 13 (Friday The 13th, 1980) deve se lembrar da cena na qual um casal está na beira do lago e é surpreendido por uma forte tempestade. O lugar, antes aprazível, torna-se quase assustador. É algo semelhante ao que acontece com o moinho dentro deste pensamento semiótico.

Relâmpagos e trovões dão o tom da tempestade até o clímax da mesma, no qual o moinho permanece de pé para garantir a sobrevivência dos seus habitantes. E como em um filme infantil, a noite termina e com os primeiros raios do novo dia, um final feliz é apresentado. Algo também bastante semelhante com determinadas produções de terror, nas quais, o fim da noite e o começo do dia significam um aviso de que o pior já passou e tudo vai ficar bem.

Curioso para (re)ver O Velho Moinho? Basta conferir abaixo, mas não vá esperando uma animação gótica. Pelo contrário, este curta-metragem de 1937 é um dos mais belos trabalhos dos Estúdios Disney e não foi a toa que recebeu o Oscar de Melhor Curta de Animação. Provando que uma obra de qualidade sobrevive ao tempo, O Velho Moinho foi eleito o 14º melhor desenho de todos os tempos em uma lista de 50 outras produções. Em resumo: um clássico e este artigo tem o objetivo de fortalecer esta realidade. Mas talvez depois de ler este texto, você possa identificar que os elementos que formam os filmes de terror estão mais presentes em outros gêneros com uma frequência maior do que se pode imaginar.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

2 thoughts on “O Velho Moinho (1937)

  • 06/06/2014 em 13:40
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    Este curta foi apresentado na versão 1977 do Clube do Mickey. E eu me lembro dele.
    Aliás, a trilha musical produzida pela Orquestra Silly Symphonies, trazia uma forte presença do coral feminino, que dava um toque a mais no clima sombrio do curta.

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    • 06/08/2021 em 03:45
      Permalink

      Simplesmente fantástica!!!! Me remeteu a minha Feliz infância.

      Resposta

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