No Quarto Escuro de Satã (1972)

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No Quarto Escuro de Satã (1972)
Um pesadelo felino!
No Quarto Escuro de Satã
Original: Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave
Ano:1972•País:Itália
Direção:Sergio Martino
Roteiro:Adriano Bolzoni, Ernesto Gastaldi, Luciano Martino, Sauro Scavolini, Edgar Allan Poe
Produção:Luciano Martino
Elenco:Edwige Fenech, Anita Strindberg, Luigi Pistilli, Ivan Rassimov, Franco Nebbia, Riccardo Salvino, Angela La Vorgna, Enrica Bonaccorti, Daniela Giordano, Ermelinda De Felice

O primeiro miado italiano de um gato preto baseado no texto genial de Edgar Allan Poe foi ouvido em 1972. Sob o comando de Sergio Martino, antes dele pisar na Montanha dos Canibais e visitar a Ilha dos Homens-Peixe, Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave é seu maior título, ainda que não seja seu melhor trabalho. O nome original é uma referência ao primeiro giallo do diretor, O Estranho Vício da Senhora Ward – depois viriam mais dois até esta homenagem ao conto mais famoso de Poe.

Embora seja conhecido por aqui como No Quarto Escuro de Satã, a obra é também lembrada por inúmeros títulos como Gently Before She Dies, Eye of the Black Cat e Excite Me!. Este último, estilo exploitation, deve-se ao tom da produção, repleta de erotismo e cenas de sexo gratuitas presentes em alguns trabalhos de Martino. Poderia se enquadrar numa tragédia familiar se o sangue vermelho e gosmento não tivesse ali, além das luvas pretas e lâminas reluzentes. Martino deu vida à uma trama de vingança, sedução e morte, com diversas reviravoltas e lugares-comuns, além de um gato preto chamado Satã.

O escritor falido Oliviero Rouvigny (Luigi Pistilli, de A Mansão da Morte, de Bava) é um tremendo filho-da-puta (peço desculpas pelo termo chulo, mas não encontrei um meio melhor de defini-lo com precisão). Mora numa mansão sinistra com sua sofredora esposa Irina (Anita Strindberg, de A Cauda do Escorpião) e a empregada. Logo na cena inicial, durante uma festa promovida aos hippies de um acampamento local – com uma cena de nudez belíssima de Dalila Di Lazzaro (de Phenomena, de Dario Argento) – ele humilha a mulher e a empregada, e ainda força o sexo com ambas.

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Mais tarde, um passeio à livraria, a atendente deixa evidente um caso entre os dois, desde um flerte na época em que ela era apenas uma aluna de Oliviero. Pouco depois, no local do encontro, ela é assassinada por uma figura misteriosa, usando roupas negras e uma lâmina curvada. Acusado pelo assassinato, Oliviero pede a ajuda da esposa para contornar as suspeitas do Inspetor (Franco Nebbia), e ela demonstra novamente sua fragilidade e subordinação ao marido safado. A situação torna-se mais drástica quando chega ao local a sobrinha de Oliviero, a sedutora Floriana (Edwige Fenech, de O Albergue 2), que resolve transar com todo mundo e jogar para todos os lados, sem definir sua posição.

Observando todas as ações como um espectador misterioso, o gato Satã tem a admiração do marido e, consequentemente, a raiva de Irina. Num dos dois momentos Poe do filme, ela ataca o animal com uma tesoura e arranca seu olho esquerdo. Quem lembra do texto original, verá similaridade desse acontecimento com o gato Pluto, vítima de seu dono. O felino do conto sofre mais do que Satã, embora a versão de Martino o coloque em destaque por diversas vezes. Ele acompanha as intrigas da família, observando e julgando os atos com seu olhar amarelado, somente aguardando o momento de revelar os corpos.

No Quarto Escuro de Satã tem os méritos de uma livre adaptação de um texto clássico de Edgar Allan Poe, além da boa atuação de Luigi Pistilli. Peca pela falta de originalidade e ousadia nas mortes, na narrativa lenta, amarrada pelas cenas de sexo gratuitas. Numa delas, a mais absurda que se pode imaginar, Floriana resolve transar com o entregador numa condição extremamente artificial: sem beijá-la uma vez sequer, ele pede que ela tire toda a roupa e improvisa uma cama. O sexo rola como se estivessem fazendo um trabalho em conjunto, sem afeto algum. Tão ato não se justifica pela afeição sentida por ambos, incluindo uma proposta de fuga.

Um bom giallo, mas sem o suspense e o mistério de produções melhores do período, No Quarto Escuro de Satã tem o mérito de apresentar uma leitura livre do clássico conto de Edgar Allan Poe, numa trama repleta de assassinatos e reviravoltas. Só isso já é o suficiente para uma conferida!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “No Quarto Escuro de Satã (1972)

  • 06/06/2017 em 21:51
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    Edwige Fenech simplesmente maravilhosa, boa atuação do Pistilli, no mais um suspense razoável. Saiu na caixa Giallo 3 da versatil.

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  • 30/09/2016 em 14:10
    Permalink

    A melhor coisa desse bom filme é a maravilhosa Edwige Fenech!!!

    Resposta

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