Prisão de Cristal (1987)

2.3
(3)
Prisão de Cristal (1987)
Uma visão torturante de um passado impossível de ser esquecido!
Prisão de Cristal
Original:Tras El Cristal / In a Glass Cage
Ano:1987•País:Espanha
Direção:Augustí Villaronga
Roteiro:Augustí Villaronga
Produção:Teresa Enrich
Elenco:Gunter Mesiner, David Sust, Marisa Paredes, Gisela Echevearría

Logo na abertura de Prisão de Cristal, vemos que o tema abordado pelo filme será pesado e incômodo ao exibir fotos reais de crianças em campos de concentração, além de desenhos feitos pelas mesmas, retratando os horrores que sofreram com as experiências nazistas. O universo do diretor Augustí Villaronga é devastador para crianças e adolescentes: seus filmes exibem formas mais variadas de torturas físicas e psicológicas, com a pedofilia presente em sua maioria.

Klaus (Gunter Mesiner), um médico nazista exilado, tomado pelo remorso por continuar a torturar, abusar e assassinar crianças, tenta sem sucesso se matar ao pular do telhado. Paralisado do pescoço pra baixo, ele é condenado a viver o resto de seus dias em uma bizarra máquina, que funciona como uma forma de pulmão de ferro, dando condições para ele respirar. Passa a depender de sua esposa e filha, para ser alimentado, banhado, entretido. A rotina de Klaus e sua família muda com a invasão de um jovem a sua casa. Sob a desconfiança de sua esposa, o médico pede que seja contratado como seu enfermeiro.

Klaus fica a mercê de um ambíguo jogo de sedução, com direito a torturas psicológicas onde o jovem Ángelo (David Sust) obriga o moribundo médico a reviver todo seu passado. No decorrer da trama, não sabemos as intenções de Ángelo, mas o jovem prestativo passa a ser uma ameaça a todos na casa, até para a pequena Rena (Gisela Echevearría), filha de Klaus, a quem Ángelo parece proteger. O jovem se torna uma cópia do que Klaus foi no passado, até mesmo no modo de se vestir e andar: essa transição do personagem se deve à ótima interpretação de David Sust. Construção e desconstrução dos personagens, inversões de papeis, retratam as consequências das atrocidades que uma mente doentia pode causar.

Prisão de Cristal (1987) (1)

O diretor contextualiza o clima ameaçador na isolada casa, com uma fotografia sombria, envolta a uma luz com tons azulados, em conjunto com uma trilha sonora agonizante, além do incômodo som da máquina, em uma doentia respiração – situações desagradáveis e perturbadoras, filmadas com uma estética apurada, transformam essa sordidez em uma incômoda beleza. O título do filme pode remeter à máquina onde Klaus sobrevive, mas pode simbolizar também o ciclo doentio que envolve os personagens, de onde os mesmos não conseguem sair.

No release do DVD (lançado aqui pela péssima Continental), a produção se gaba pelo fato de ter sido banido na Austrália, pelo seu conteúdo pesado. Premiado no famoso festival de cinema fantástico de Portugal, Fantasporto, o filme incomoda muito mais pelo que sugere, do que vemos em tela. O diretor conduz com maestria uma trama que desenvolve um clima perturbador, até um final desconcertante em uma cena estranha e bela em sua construção estética e conceitual. Prisão de Cristal é um filme difícil de esquecer, um retrato das consequências proporcionadas pela maldade humana.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 2.3 / 5. Número de votos: 3

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Ivo Costa

Cineasta formado pela Escola Livre de Cinema, dirigiu os curtas “Sexta-feira da Paixão”, “O Presente de Camila”, “Influência” e “Com Teu Sangue Pagará. Produziu o curta ‘Vem Brincar Comigo’. Atualmente é crítico no site Boca do Inferno e professor do Curso Cinema de Horror, da Escola Livre de Cinema. Fez parte do Júri Popular do Festival Cinefantasy em 2011, Júri Oficial do Festival  Boca do Inferno 2017, Juri Oficial da Mostra Espanha Fantástica no Cinefantasy 2020.  Realizou a curadoria da Mostra Amador do Cinefantasy 2019 e do Festival Boca do Inferno 2019.

9 thoughts on “Prisão de Cristal (1987)

  • 11/08/2018 em 20:59
    Permalink

    não sei como alguém pode comentar sobre o filme e se mostrar horrorizado e falar em lado “negro”. Se conciliou “negro” ao filme, certo que é racista.

    Resposta
  • 15/11/2016 em 03:04
    Permalink

    O filme incomoda, pois narra com maestria o lado negro da natureza humana. A forca descomunal do mal age soberana e sem nenhuma resistencia do comeco ao fim.
    O mal nao e a ausencia do bem, como dizia o velho Agostinho, o mal e o motor do mundo.

    Resposta
  • 22/04/2013 em 01:11
    Permalink

    A tensão entre a personagem da Marisa Paredes com o personagem do David Sust garantem as melhores cenas do filme. Ele tem uma fisionomia que já assusta por si só!

    Por mais densa que seja a narrativa e o ambiente, é engraçado concluir que este poderia muito bem ser um filme de drama, já que o tema de chute inicial do filme, o horror nazista, é o que desencadeia vários outros temas, como suicídio, trauma infantil, cuidado ou imprudência para com a invalidez de outra pessoa, etc.

    Assisti a esse filme anos atrás graças à resenha do DVD importado de In a Glass Cage que a ótima e finada Cine Monstro trouxe em uma de suas edições!

    Resposta
  • 21/04/2013 em 17:02
    Permalink

    A descrição do filme me lembrou um conto do King chamado verão da corrupção.
    Principalmente qdo você descreve :
    “o jovem Ángelo (David Sust) obriga o moribundo médico a reviver todo seu passado. […] O jovem se torna uma cópia do que Klaus foi no passado, até mesmo no modo de se vestir e andar”
    O conto foi transformado em filme e se chama “O Aprendiz”. Você já deve ter visto.

    Boa resenha, fiquei com vontade de assistir isso aí [2]

    Resposta
    • 22/04/2013 em 12:36
      Permalink

      Claro, ele lembra esse conto, que já li e vi o filme do Brian Singer – mas este aqui é bem mais pesado

      Resposta
  • 21/04/2013 em 07:57
    Permalink

    NOSSA,FIQUEI COM VONTADE DE ASSISTIR ISSO AÍ.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *