Depois da Terra (2013)

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Depois da Terra
Original:After Earth
Ano:2013•País:EUA
Direção:M. Night Shyamalan
Roteiro:M. Night Shyamalan, Gary Whitta, Will Smith
Produção:James Lassiter, Jada Pinkett Smith, Caleeb Pinkett, Will Smith
Elenco:Jaden Smith, Will Smith, Sophie Okonedo, Zoë Kravitz, Glenn Morshower, Kristofer Hivju, Sacha Dhawan, Chris Geere, Diego Klattenhoff, David Denman, Lincoln Lewis, Jaden Martin, Sincere L. Bobb, Monika Jolly

O cineasta M. Night Shyamalan está sempre trabalhando com o Medo em suas produções – seja na forma de um dom assustador recentemente descoberto (O Sexto Sentido e Corpo Fechado), seja nas neuroses relacionadas ao mundo moderno (Sinais, A Vila, A Dama na Água e Fim dos Tempos). Não era difícil imaginar que ele voltaria a esse subtema no seu mais recente trabalho, a aventura de ficção científica Depois da Terra (After Earth, 2013), que estreou nos cinemas brasileiros no dia 07/06/2013 sem todo o estardalhaço comum nos longas do diretor. Parece que Shyamalan resolveu deixar de lado a força de seu nome, bastante conhecido pelas polêmicas com os críticos e os finais surpresas de suas produções, e se escondeu atrás do conteúdo e da força do elenco escolhido. Ainda assim, a tática não funcionou!

Baseado num argumento do próprio astro Will Smith, ele co-roteirizou o filme em parceria de Gary Whitta (de O Livro de Eli) para uma distribuição pela Columbia Pictures, a partir da estreia americana no dia 31 de maio. Com um orçamento estimado em U$130 milhões, Depois da Terra chegou a pouco mais de U$30, caracterizando um dos maiores fiascos de 2013 e dos últimos anos da Sony Pictures. Só para constar, o crítico Joe Morgenstern, do jornal The Wall Street, iniciou sua análise com um questionamento: “Depois da Terra é o pior filme de todos os tempos? Talvez não; há sempre um Battleship para nos lembrar do fim do poço.” Também foram apontados problemas pela simples presença do diretor: “O roteiro já não tinha nenhum atrativo. Com Shyamalan ocupando a cadeira de diretor, os problemas do roteiro se ampliaram.“, afirmou Betsy Sharkey do Los Angeles Times. Por outro lado, Jim Vejvoda, do IGN, disse que o filme está longe de alcançar o topo, mas é, certamente, o melhor filme do diretor em anos. Será que o longa é tão ruim assim ou se trata de mais um exagero dos críticos, que sempre pegam no pé do indiano?

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A resposta a essas perguntas pode ser um duplo não. Diferente de Vejvoda, considero este trabalho entre os mais fracos do diretor, embora eu tenha gostado de outros filmes que as críticas apontaram como bombas: Corpo Fechado (2000), Sinais (2002) e A Vila (2004) podem ser considerados meus guilty pleasure. Extremamente criativo – e estranho -, o diretor costuma ter como base em seus roteiros a família em situações extremas, trazendo o medo como fio condutor. E ele parece também ter uma cisma com a água, sempre mostrada como elemento importante em suas tramas. Em Depois da Terra, Shyamalan resolveu entregar um produto óbvio, repleto de clichês e soluções fáceis, possivelmente numa tentativa de agradar o público e a crítica com um resultado convencional e bastante simples.

O Planeta Terra como conhecemos não existe mais. O ser humano esgotou todos os recursos naturais, obrigando os sobreviventes a buscar um novo abrigo, além do Sistema Solar. O local escolhido recebeu o nome de Nova Prime, sendo colonizado nos séculos seguintes numa paz que seria colocada em risco quando alienígenas resolveram conquistar o planeta, considerado por eles como sagrado – segundo informação do prelúdio da produção, informada no livro A Fera Perfeita, de Michael Jan Friedman, Robert Greenberger e Peter David. Os S’krell enfrentaram os humanos com uma arma secreta, desenvolvida durante muito tempo: Ursas – criaturas vorazes, assassinas de humanos, ágeis e extremamente violentas. Elas são treinadas para caçar os homens pelo medo, mobilizando todo um comando militar conhecido como The Ranger Corps, liderados pelo General Cypher Raige (Will Smith), que descobriu um meio de neutralizar o medo e, assim, se tornar invisível para os monstros, numa técnica intitulada “fantasma” (ou “ghosting” no original).

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Prestes a realizar uma operação num local de treinamento com uma Ursa enjaulada, Cypher é convencido pela esposa Faia (Sophie Okonedo) a levar seu filho Kitai (Jaden Smith) para tentar uma aproximação, algo que não acontece desde que a irmã do garoto foi morta por uma criatura. Apesar dos instintos do General, os pilotos não ficam atentos a uma eminente chuva de meteoros, o que causa a destruição da nave e a queda no Planeta Terra. Toda tripulação morre no acidente, exceto Cypher, que fica com terríveis fraturas nas duas pernas, e, obviamente, Kitai. O jovem precisa encontrar um sinalizador na cauda da nave, que está a aproximadamente 100 quilômetros de distância, sendo obrigado a atravessar uma mata repleta de perigos, com a orientação de seu pai.

Esta é a trama básica de Depois da Terra: uma mistura de Predadores com Tropas Estelares, trazendo a saga de um adolescente numa selva, onde “todas as formas de vida evoluíram para destruir a raça humana“. É até divertido se você ignorar os inúmeros buracos no roteiro, que vão desde o excesso de verde e a falta de oxigênio, a hostilidade das criaturas contra os humanos, mesmo sabendo que nenhum pisa no planeta há mais de mil anos, além da condução óbvia, sem novidades, levando o público a uma aventura que ele já parece ter testemunhado antes.

Apesar de não carregar a tensão de seu personagem, Will Smith atribui as deficiências de seu Cypher ao controle dos sentimentos. Já seu filho Jaden Smith traz um Kitai histérico e algumas vezes irritante, mas não concordo que o garoto tenha atuado mal como alguns críticos apontam, comparando-o ao trabalho feito em À Procura da Felicidade (2006). No momento em que precisou questionar as imposições de seu pai, soube emocionar o público corretamente, sem exageros que pudessem estereotipá-lo. Pode-se dizer que sua atuação foi até mais eficiente do que era esperado, chamando toda a responsabilidade para si, com uma boa identificação com o espectador de sua idade, seus medos e descobertas.

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Na verdade, o enredo básico trata do rito de passagem da adolescência para a fase adulta. No conceito original, desenvolvido por Will Smith, um pai e filho estariam atravessando um ambiente ermo, até perderem o controle do veículo, num grave acidente. Com o pai ferido, o garoto teria que atravessar um local hostil em busca de ajuda, colocando em prática os ensinamentos de seu progenitor. Ele queria a condução de Shyamalan, que, ao unir com um roteiro rascunhado por Gary Whitta sobre uma aventura de ficção científica, fez nascer o projeto. As intenções dos realizadores era iniciar uma franquia, mas possivelmente a péssima aceitação do blockbuster impedirá novas aventuras no espaço. Principalmente, quando na América se discute questões raciais envolvendo o filme!

Dois personagens negros como principais, dirigido por um – essa ideia está elevando as discussões sobre as críticas ao trabalho do diretor estarem relacionadas a um possível preconceito racial. É sabido que nos EUA ainda existe uma cultura racista que impede a evolução do país, mesmo com o comando de um Presidente negro! Contudo, não atribuo a essa falha social o fracasso do filme de Shyamalan: ele não é ruim, mas está bem distante de um passado inovador e ousado. Embora você ache imbecis ideias envolvendo natureza assassina, sereia num condomínio ou aliens com medo de água, é preciso assumir que são conceitos criativos, afastados das produções triviais que Hollywood tem produzido em massa nas últimas décadas.

Só espero que Shyamalan não continue mudando seu jeito de fazer cinema para tentar agradar críticos, como ele fez com Depois da Terra e O Último Mestre do Ar. É só ignorar as críticas negativas e até o suposto racismo, e voltar a desenvolver seus trabalhos com bom senso e criatividade, com o Medo sempre presente em suas histórias!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

9 thoughts on “Depois da Terra (2013)

  • 12/08/2013 em 15:55
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    O filme é bem feito, porém fiquei pensando algo, se a treta começou por causa de alienígenas, porque todo o filme eles simplesmente não aparecem mais, ficou vago pra mim, e com toda essa evolução humana retratada no filme, é ridículo pensar que não haveria uma arma poderosa o suficiente para matar simples formas orgânicas de vida, por mais duras que fosse, hoje em dia misseis destroem coisas de metal, será que a URSA é feita de algo mais resistente? aff…

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  • 14/06/2013 em 18:01
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    As vzs penso q outro diretor fez o sexto sentido , corpo fechado , sinais ( apesar do ET de varginha hehe ) , a vila E DEUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU ….. o resto nem vale falar …. SIM filho do Will Smith é dose p mamute hehehheheh

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  • 11/06/2013 em 13:55
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    Ainda espero ver algo na linha de Corpo Fechado e Sexto Sentido… são os melhores dele pra mim…

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  • 09/06/2013 em 21:29
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    Concordo. Muito próximo da minha opinião. Agora que há uma certa má vontade com Shyamalan,não há dúvida. A dúvida é por preconceito ou não? Eu gosto de “Fim dos Tempos”,justamente por não ser convencional,nos mostrar algumas situações,por um ângulo diferente. Acho “Depois da Terra”,muito próximo ao tema de “Fim dos Tempos”,mas bem menos ousado.

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  • 09/06/2013 em 13:36
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    Shyamalan está chegando no fundo do poço. Uma pena, pois acho seus primeiros trabalhos maravilhosos!

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  • 09/06/2013 em 10:19
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    gosto do trabalho desse diretor,mas tenho que reconhecer que ele tem muitos filmes estranhos, acho que vou gostar mais ou menos desse.

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  • 09/06/2013 em 01:03
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    Will Smith e suas tentativas de empurrar esse moleque sem talento goela a baixo do público…

    “[…]Cypher é convencido pela esposa Faia (Sophie Okonedo) a levar seu filho Kitai[…]”
    Claro, porquê é super comum levar crianças em operações militares altamente perigosas né? HAHAHAHHA
    PASSO!!!

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  • 08/06/2013 em 15:21
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    Finalmente, só estava esperando essa crítica sair pra tomar coragem de assistir, pq tudo que li sobre o filme eram críticas negativas. Vamos ver a opinião do boca…

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