Gravidade (2013)

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Gravidade (2013)

Gravidade
Original:Gravity
Ano:2013•País:EUA
Direção:Alfonso Cuarón
Roteiro:Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, George Clooney
Produção:Alfonso Cuarón, David Heyman
Elenco:Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris, Orto Ignatiussen, Phaldut Sharma, Amy Warren, Basher Savage

No espaço, o seu grito não será escutado. A célebre frase que marcava o cartaz do clássico de ficção científica Alien (1979) não trazia apenas a questão da ameaça de alienígenas que podiam existir em outros planetas e galáxias. A afirmação quanto a não ter um pedido de ajuda respondido acontece principalmente em questão do total isolamento de um ser humano fora do planeta Terra. Como pedir socorro estando a milhões de anos luz de casa? Alien conduziu de forma brilhante esta noção de medo e isolamento em uma situação na qual a seu personagem principal contava única e exclusivamente consigo mesma para escapar com vida.

Desde o longínquo ano de 1979, o cinema evoluiu bastante na temática dos efeitos especiais. Se antes já era possível vislumbrar o espaço nas tramas de ficção, os últimos anos testemunharam um avanço sem precedentes na utilização de efeitos especiais cada vez mais realistas. A modernização da tecnologia 3D também permitiu aos espectadores uma maior emersão em tramas cada vez mais sensoriais.

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Considerado pela crítica especializada como o grande filme de ficção científica dos últimos anos, Gravidade (2013), tenta se enquadrar nesta ideia de medo e isolamento. Tudo feito com os melhores efeitos especiais aliados a tecnologia 3D e um som impecavelmente potente para salas multiplexes. A soma destes elementos tem como objetivo permitir ao público uma imersão quase completa no mundo visto na tela grande. Nestas questões tecnológicas, sobram acertos em Gravidade. No entanto, uma análise mais aprofundada também permite apontar algumas falhas na trama.

Em Gravidade, o medo não vem de um alienígena. Na trama, o astronauta Matt Kowalski (George Clooney) está em missão de conserto ao telescópio Hubble juntamente com a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock), que está fazendo o seu primeiro voo. Esta introdução mostra os astronautas trocando conversas sem muita importância com o centro de controle da missão, em Houston (na voz de Ed Harris, que aqui quase repete o seu papel de Apollo 13). De repente, os astronautas são surpreendidos por um aviso para interromper a missão em função de uma chuva de destroços decorrente da destruição de um satélite por um míssil russo. Os destroços do satélite, jogados no espaço sideral, seguem em rota de colisão dos astronautas, que logo são atingidos.

Ryan é arremessada e vaga perdida pelo espaço até que Matt, que aqui mais parece um cowboy de faroeste pelas suas falas e comportamento, consegue laçar a personagem de Bullock. Juntos, os dois precisam seguir até a estação espacial internacional para tentarem voltar para casa. É claro que no meio do caminho vai faltar oxigênio, os destroços atingirão novamente a dupla e tudo vai parecer conspirar contra os dois.

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Os acertos dos filmes respondem inegavelmente pela parte técnica. É impossível não ficar surpreso com o a forma visual encontrada pelo diretor Alfonso Cuarón (do excelente E Sua Mãe Também, de 2001) para narrar o drama dos astronautas perdidos no espaço. As câmeras usam e abusam, da melhor maneira possível, de diferentes ângulos capazes de impressionar. Dificilmente a Terra vista do espaço foi tão belamente retratada quanto em Gravidade.

Superação: Infelizmente o que sobra em efeitos especiais falta no roteiro. Gravidade cai no lugar comum dos filmes tipicamente feitos em Hollywood para ganhar Oscar: o de trabalhar com a superação dos seres humanos com problemas aparentemente sem soluções, mas que depois de muito sofrimento, estas pessoas conseguem alcançar a vitória. Todo este drama é depositado na personagem de Sandra Bullock. Para começar, a filha dela morreu com quatro anos e por isso a vida da moça não parece mais ter sentido. Ela logo desiste de lutar até que o personagem de George Clooney assume o papel de salvá-la com palavras fortes e frases de efeito.

Assim Gravidade está muito mais próximo de filmes como Wall Street – Poder e Cobiça e Jerry Maguire. Isto torna a produção ruim? Não necessariamente, afinal, o visual compensa as falhas. Apenas é uma pena ver uma produção com tantos acertos não ir além de um roteiro mediado. Neste aspecto, o filme torna-se previsível e a partir de determinado ponto, o destino de Ryan já parece claramente traçado. Ela vai seguir os conselhos de autoajuda de Matt e fazer o impossível para voltar para casa.

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Mesmo que isto implique em entrar em naves desconhecidas, ignorar os idiomas nativos e pilotá-las com total domínio. Claro que obstáculos surgirão, como a volta dos destroços que vagando pelo espaço vão se chocar contra Ryan mais de uma vez durante a trama. A superação de Ryan é percebida a cada cena. Ao final do filme, a câmera que antes era tremida ao exibir Ryan, muda e passa a focá-la de baixo para cima, mostrando agora uma mulher segura, decidida e como boa norte-americana, disposta a sobreviver.

E se Bullock torna-se esta super mulher, George Clooney faz o típico bonachão norte-americano. Mesmo que a situação esteja catastrófica, ele vai levar tudo de forma leve, escutando sua música country e seguro de que está com o total domínio da situação. A nave explodiu? Besteira. Houston não responde? Besteira. Temos que flutuar com 5% de oxigênio pelo espaço até uma estação espacial distante? Besteira, nós vamos conseguir.

Moral da história: mais uma trama que ganha destaque apenas pelos efeitos especiais. Bullock está bem, mas faltou profundidade e até um pouco mais de ousadia na concepção da sua personagem. Este roteiro ralo pode até passar despercebido para quem busca entretenimento típico dos blockbusters. Sendo assim, Gravidade cumpre o seu papel. Resta saber se semelhante a alguns clássicos do gênero, como Alien, a obra vai conseguir resistir ao tempo. Se formos usar um jargão bastante brasileiro, Gravidade parece um filme (muito) bonitinho, porém ordinário.

Realidade ou ficção

Muitos críticos vêm elogiando Gravidade pelo que eles chamam de precisão e verossimilhança científica. No entanto, a BBC publicou uma entrevista com o renomado astrofísico Neil de Grasse Tyson, diretor do Hayden Planetarium do American Museum of Natural History. Tyson afirmou que o filme tem várias “falhas” científicas. Confira algumas:

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– Em gravidade zero, o cabelo de Bullock flutuaria livremente – o que não ocorre no filme.

– O telescópio Hubble (que orbita 560 km acima do nível do mar), a Estação Espacial Internacional (400 km acima do nível do mar) e a estação espacial chinesa jamais poderiam ser vistas juntas.

– A maioria dos satélites orbita do oeste para o leste. No filme, porém, destroços de satélites são vistos flutuando do leste para o oeste.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

14 thoughts on “Gravidade (2013)

  • 15/10/2014 em 09:36
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    Concordo com tudo, Boca. Acho o filme belíssimo em termos de ambientação e cenografia…. Nesse sentido é perfeito. Mas só. Na metade do filme a gente se cansa com o monólogo da personagem principal…. Fora o desfecho mais que previsível. Numa escala de 0 a 10, nota 6.

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  • 02/05/2014 em 18:46
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    Tudo menos previsível, cara uma coisa previsível, é quando você já sabe o que vai acontecer, respeito a sua opinião, mas é com orgulho que digo que gravidade é o melhor filme de 2013 que assisti.

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  • 03/03/2014 em 20:34
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    O filme eu ainda nao vi, mas o trailer eh do caralho.

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  • 02/03/2014 em 19:26
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    Acabei de assistir o filme e me decepcionei. De todas as criticas que já li, essa é a que mais se aproxima do que pensei sobre Gravidade.

    Parabéns!

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  • 20/01/2014 em 12:02
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    A crítica é um clichê. Se o filme tem alguns deles, a crítica deste boca do inferno cai em outros, tão comuns e previsíveis: a vontade de ser do contra, quando todos estão a favor. Não quero, com isso dizer, que a crítica contundente deva existir. Mas quando ela é birra, aí não dá. Ou seja, dizer que o roteiro é raso, é lugar comum. Pois é, mas é preciso dizer onde ele é raso. Não deu pro crítico. Argumentar que há falhas científicas no filme, outro lugar comum. Ora , todo e qualquer filme terá falhas em relação à realidade, senão seria um documentário. Ou seja, o crítico do boca sai com a típica conduta do crítico mordaz: “ah, é! todo mundo gostou, entaõ eu não vou gostar”. Ainda não li uma crítica realmente interessante sobre o filme, exceto os clichês dos insatisfeitos de sempre.

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    • 20/01/2014 em 12:03
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      CORRIGINDO> Não quero, com isso dizer, que a crítica contundente NÃO deva existir.

      Faltou o não!

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  • 06/11/2013 em 12:56
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    Eu não achei o filme previsível, traz algumas surpresas, poucas, mas traz. O visual é, realmente, o ponto alto do filme, o 3D se aliou ao clima soturno de uma forma incrível. Emocionei-me com a atuação de Sandra Bullock, foi demais.

    Pra mim, até agora, é o melhor filme do ano!

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  • 01/11/2013 em 19:15
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    Uau! Até que enfim alguém que concorda comigo. Quando digo que não gostei deste filme, quase sou linchada em praça pública. Gravidade é um filme com efeitos visuais perfeitos, é uma experiência audiovisual indescritível, tamanha beleza e grandiosidade do que vemos na tela, mas só, não passa disso. O roteiro é precário, o drama é completamente raso, não convence em momento algum. A Sandra está ok, cumpre bem o proposto, mas já estão falando em Oscar, por favor… O George está patético, um papel forçado em que nada contribui, sua aparição foi ridícula.
    Um filme que se sustenta apenas pelos grandiosos efeitos visuais e sonoros, e não passa disso. Um filme não pode se valer apenas disso para ser considerado uma obra prima. Pra mim, até agora nenhum superou 2001, este sim espetacular, tantos pelos efeitos, quanto pelo roteiro.

    Sem dúvidas, o filme mais superestimado dos últimos tempos!

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  • 28/10/2013 em 09:57
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    Assisti e achei apenas bom, nada demais,
    O Filme Lunar é melhor

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  • 27/10/2013 em 18:36
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    Eu gostei do filme, realmente tem um visual bonito e impressiona, o roteiro é qualquer coisa sim, mas não me incomodou quanto a isso.
    Um dos pontos que mais gostei foi como a câmera se movimenta o que tira o espectador de uma base fixa, ou seja sem lugar para se segurar.
    Porém devo fazer algumas observações, pois o cabelo da personagem primeiro porque não teria como fazer isso de um modo decente razão que leva ao corte curto de cabelo, o movimento de cabelo aconteceria por inércia, entretanto não consigo deixar de pensar que as moléculas de ar presentes dentro da estação estão sobre a mesma interação, e como estas preenchem o ambiente não faz sentido o cabelo “flutuar”, até se pode mencionar o fato de que no ambiente há a troca de dióxido de carbono por oxigênio, porém esses gases não tem tanta densidade para que em seu fluxo causo “flutuação” no cabelo, mais uma coisa, se ela sentisse a aceleração da estação, ela teria dificuldade em locomoção dentro da mesma, e se isso ocorre, nunca um astronauta em uma nave ou estação em órbita conseguiria ficar parado teria que ficar sempre preso a algo na parede. O cabelo dela deveria “flutuar” somente quando ela se deslocasse pela estação, mas por causa de inércia, entretanto a densidade do ar e comprimento do cabelo fazem com que isso se torne praticamente irrelevante,
    A direção dos destroços, não acho que em nenhum momento a câmera permitiu ter clareza da direção dos destroços estão orbitando, ou isso é falado?
    Físicos adoram achar erros em filmes, isso chama as pessoas para a ciência para saber qual a realidade, entretanto nada impede que ele esteja errado.

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  • 27/10/2013 em 17:36
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    Eu gostei do filme, mas como uma experiência visual, a câmera não tem ponto fixo, não existiu ali um referencial onde pudesse se definir onde era em cima e onde era embaixo. O roteiro, não existiu fato, mas eu não senti falta.
    Eu não sabia qual a direção da orbitas dos satélite, então nem prestei atenção nisso, mas agora pensando o único momento que dá para determinar isso, é quando os dois astronautas, após o acidente, e da pra ver o nascer do sol, que um inclusive menciona isso, e pelo que lembro eles estão de costas para o Sol, e somente teria como eles alcançarem aquela estação se ela viesse na direção contraria, ou seja do oeste para o leste (me corrijam se eu estiver confundindo algo).
    Outra coisa, não teria como o cabelo de da mulher ficar flutuando, porque ela não está flutuando, ela ta caindo, e antes de qualquer coisa, quando você esta em um carro em movimento, bem rápido, o carro está fechado, seu cabelo vai na direção contraria ao movimento? Não entendi a observação do cabelo da astronauta, uma vez que esta curto e não a nada além do próprio movimento do corpo dela para faze-lo mexer, algo que seria mais visível se ela estivesse com cabelo comprido.

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  • 27/10/2013 em 12:38
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    É um filme que caiu no gosto de todos…, eu adorei o filme mesmo!
    Imagens expetaculares… Embora, não seja aquilo tudo que a gente quer…, mas, faz o devido trabalho. Eu realmente fiquei empolgado quando assisti!

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  • 25/10/2013 em 21:56
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    Não é um filme ruim, é legalzinho mas o começo até quando ela entra na nave é mais interessante e mais tenso que o resto do filme.

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  • 23/10/2013 em 22:31
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    ainda não vi,mas deve ser ótimo mesmo.

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