Matadouro
Original:Matadouro
Ano:2012•País:Brasil Direção:Carlos Junior Roteiro:Carlos Junior Produção:Josiane Antico, Sonia Dias, Sorair Dos Santos, Mara Lucia Tavares Elenco:Fabíola Antico, Daisy Cris, Bruno Diego, Carlos Junior, Robson Mosquim, Juliano Pires, Kauane Santos, Mylena Vendramini |
A produção independente brasileira está em um período ainda mais fértil, com jovens cineastas produzindo seus filmes mesmo sem os recursos necessários. Com o avanço tecnológico das câmeras digitais e celulares, ficou mais fácil para os idealizadores começarem a lançar seus projetos em vídeo, fazendo uso de programas sofisticados de edição. No entanto, são poucos os trabalhos que adquirem destaque no gênero marginal como o longa de Carlos Junior, Matadouro, que estreou em Marília no dia 13 de julho de 2012, uma sexta-feira, no Auditório Tarsila do Amaral.
O projeto começou a nascer em 2011, numa ideia do diretor e roteirista de homenagear os slashers clássicos através de um falso documentário, um estilo iniciado com Cannibal Holocaust e depois popularizado com A Bruxa de Blair, Rec e Atividade Paranormal. Seria a primeira produção brasileira a trabalhar esse recurso, mas o interessante curta Sexta-Feira 13 – Cenas Perdidas, de Ricardo Coutinho, e o pavoroso Desaparecidos, de David Schurmann, vieram antes. Ora, se considerarmos a qualidade da obra de Carlos Junior, podemos dizer sem exageros que seu filme é a primeira grande produção realizada com essa técnica.
Foi em outubro desse mesmo ano que Carlos entrou em contato com o Boca do Inferno, dizendo que faria o longa e estava aguardando apenas uma resposta da Ancine. Costumamos receber muitos e-mails com filmes que serão realizados, já com cartazes, trailers e elenco escolhido, mas que no final não passam disso. Mesmo não conseguindo o apoio necessário, o persistente e empolgado diretor mariliense – que até então só havia escrito peças de teatro como o drama envolvendo incesto e assassinato Crônica do Câncer – gastou cerca de 300 reais, convocou uma equipe esforçada, visitou os sets e já começou a trabalhar no marketing de seu projeto. Matadouro se desenvolvia com muita dedicação e boa vontade…o resultado só poderia ser positivo.
“Entre 2006 e 2009, pouco mais de 36 pessoas desapareceram à beira da estrada numa única região do interior de São Paulo”.
Com a excelente tagline “Comece a gritar…você está sendo filmado“, Matadouro começa com o tradicional letreiro informando dos desaparecimentos comuns na região e uma referência ao Halloween, de John Carpenter, com duas belas garotas num quarto fumando maconha, disfarçando o cheiro com incenso. A gatinha Mylena Vendramini resolve registrar em vídeo o primeiro contato da amiga Kauane dos Santos com a droga, enquanto afirma ter conhecido um “lugar deserto legal para encontros“.
Um corte da câmera e elas aparecem num campo isolado brincando com a dificuldade em comandar um veículo até que resolvem continuar o percurso a pé por uma estrada de terra que leva até uma fazenda. Elas não chegam ao destino, pois algo terrível as encontra quando um corpo surge pelo caminho, trazendo os primeiros gritos de desespero e a escuridão total. Silêncio.
Num posto de gasolina, ao som da sensacional “Bad Moon Rising“, da banda Creedence, três jovens veem a chegada de outros dois: Juliano e Daisy, num velho veículo que o motorista o apelidou carinhosamente de Roberta: “em homenagem a minha ex-namorada.”, ele diz e recebe a resposta. “Ela devia ser muito feia.” A bordo do carro, além da dupla já citada há Robson, Junior (o diretor) e Fabíola, num passeio de volta para casa, proferindo aqueles diálogos e brincadeiras típicas de jovens na mesma situação. Brincam um com o outro, falam sobre sexo e gozações diversas. Numa tirada excelente, Carlos Junior faz uso da tradicional canção de passeios “…roubou pão na casa do João” para apresentar os personagens para o público.
Por diversas vezes, o carro tem problemas de ignição, sinais típicos dos filmes de terror, embora não seja esse defeito que irá gerar o pesadelo da turma. Em outro sinal, após ameaçar dar carona para um rapaz na estrada – eles não devem ter visto O Massacre da Serra Elétrica -, durante uma nova parada, Fabíola resolve atender ao chamado da natureza e se afasta do grupo; Junior vai atrás dela, pensando em filmá-la numa situação constrangedora, porém não a encontra até que algo o ataca. Ele é arrastado pela grama, evidenciando marcas de sangue em sua mão.
Com a demora da dupla, outros dois resolvem investigar o desaparecimento, indo para o mesmo local, não imaginando o horror que irão encontrar ao tentar voltar. Levados a um Matadouro, o grupo passa a sofrer torturas físicas em quase quinze minutos, enquanto são filmados temendo que seus olhos sejam arrancados ou tenham seus órgãos expostos pelo ambiente. Referências a clássicos como A Vingança de Jennifer, Chama da Morte e Amargo Pesadelo são facilmente identificadas na tela, com momentos de sofrimento e dor que farão o espectador torcer para que tudo aquilo termine logo para as vítimas.
Diferente de muitos cineastas oportunistas, Carlos Junior entende de filme de terror e sabe dosar agonia e sangue nas quantidades certas. Ele transmite ao público uma insegurança constante, conduzindo-o ao inferno de mutilação e sodomia, com a câmera tremendo e testemunhando incrédula cada gemido, cada grito de desespero de jovens que não imaginavam o quanto poderia ser horrível ficar a mercê de um psicopata.
“…uma obra diferente dentro do gênero horror/falso documentário, mesmo cheio de referências a filmes clássicos dos anos 70 e 80 que guardo com carinho na lembrança e entre minha coleção de dvds e vhs. Matadouro foi escrito, dirigido, gravado, atuado, editado e sonorizado com o máximo de amor e cuidado.“, afirma Carlos, orgulhoso pelo filho que concebera.
A trilha incidental, composta por ele, orquestram o inferno das vítimas sem piedade. O frio na espinha torna-se ainda mais agudo quando você percebe que aquilo não tem uma motivação; trata-se apenas da maldade humana, impura e comum nos dias de hoje. Pior do que fantasmas, assombrações e monstros, cuja caracterização já facilita o seu desempenho, o terror aqui tem um rosto humano mormal, como o das pessoas que você encontra no ônibus, metrô e na academia.
Há algumas falhas do som em algumas cenas, quando as vozes possuem volumes alternados, mas nada que atrapalhe o espetáculo, que ainda reserva uma surpresa no final, fazendo o público reconhecer um rosto através da insanidade. As interpretações são boas, principalmente das duas meninas no prólogo, que estão bem à vontade em cena, exibindo charme e boa dicção.
Com as oportunidades certas, Matadouro tem tudo para entrar para a galeria das grandes produções independentes brasileiras do gênero fantástico; um trabalho bem feito de Carlos Junior e sua equipe de produção, composta por Josiane Antico, Sorair dos Santos, Sonia Dias e Mara Lúcia Tavares. No final, resta ao público um gosto sangrento de quero mais, o que felizmente pode acontecer um dia. Nas palavras do diretor: “…pretendo voltar ao Matadouro em breve.” Aguardaremos a próxima visita…
O mais legal desse filme é a naturalidade dos atores. Ficou muito bom. O plot twist te pega desprevenido. Gostei das referências aos filmes clássicos. O filme não é baseado em uma história real, só tem uma coisa ou outra que pegaram emprestado pro roteiro. Gostei mais desse do que do 2. Espero que anuncie o 3 em julho mesmo.
Meu Deus que filme tenso. É tão descontraído o inicio, e tão divertido, que você esquece que está assistindo um filme e que o destino dos personagens não será nada bom. Quando as coisas começam a dar indícios que não vai terminar bem, é só agonia até acabar. Brilhante. E assino embaixo, da de 10 em Desaparecidos.
O Diretor está desenvolvendo Matadouro 3. Eu acho né. A versão sem cortes desse é bem melhor que a original
Um clássico do cinema nacional de terror. Ao lado de “Mangue Negro” é um dos filmes mais influentes da nova geração. Ame ou odeie, Carlos Junior é um mestre na arte do found footage. a prequel é ainda mais visceral. pena que não tem em dvd