A Vingança de Jennifer (1978)

3.9
(19)

A Vingança de Jennifer
Original:Day of the Woman / I Spit on Your Grave
Ano:1978•País:EUA
Direção:Meir Zarchi
Roteiro:Meir Zarchi
Produção:Meir Zarchi, Joseph Zbeda
Elenco:Camille Keaton, Eron Tabor, Richard Pace, Anthony Nichols, Gunter Kleemann, Alexis Magnotti, Tammy Zarchi, Terry Zarchi, Traci Ferrante

Referência no cinema exploitation, dentro do subgênero rape and revenge, A Vingança de Jennifer ainda continua incômodo, mais de quarenta anos depois. A história da jovem escritora que aluga uma casa à beira lago, sem imaginar que está no radar de quatro homens desequilibrados, é bastante conhecida e rendeu imitações, continuações bastardas, refilmagem, continuação do remake e por fim uma continuação oficial, lançada em 2020. Trata-se de um filme amargo, agressivo e perturbador, daqueles que você assiste apenas uma vez, deixando-o marcado na retina, tentando se esquivar de um possível resgate do horror apresentado.

Intitulado originalmente como I Spit on Your Grave e também Day of the Woman, o longa foi censurado na época de seu lançamento, e amplamente criticado pela violência excessiva, principalmente da sequência de estupros (sim, no plural), que tomam 30 minutos de projeção. Adquirindo o status de cult, ocupando lista dos filmes mais desagradáveis da história do cinema, A Vingança de Jennifer é tudo o que Aniversário Macabro (The Last House on the Left, 1972) tentou ser e falhou miseravelmente, sem espaço para alívio cômico, funcionando como uma surra no espectador e permitindo que seus olhos sangrem diante de uma vingança que – infelizmente – não existe diante de um horror real.

A Vingança de Jennifer (1978)

Meir Zarchi teve inspiração para seu filme depois de encontrar uma vítima de um estupro que se arrastava sangrando de um parque de Nova Iorque em 1974. Depois de alugar uma casa de campo, próximo a um lago – local onde posteriormente seria filmado Sexta-Feira 13 – Parte 2 -, a ideia central foi construída, com escritos à mão e depois passados para sua esposa digitar na máquina de escrever – tal qual a personagem Jennifer faz no filme. Depois de pronto o roteiro e realizadas audições com cerca de 4000 mulheres, Camille Keaton se mostrou experiente e fotogênica para o papel, mostrando muito talento na expressão de seu medo. Posteriormente, o diretor se casaria com a atriz.

Concluído o filme, Zarchi saiu em busca de distribuidores, sem sucesso. Assim, o próprio produziu o marketing e alugou espaços para a exibição do filme, mas não conseguiu os valores necessários para cobrir os gastos. A Vingança de Jennifer, com todas as críticas negativas (o crítico Roger Ebert levantou uma bandeira contra a produção, considerada por ele como um “vil saco de lixo“) e polêmicas (algumas pessoas da equipe de produção abandonaram o projeto no meio, por não suportarem os excessos), foi aos poucos chamando ainda mais a atenção, tanto que seu lançamento em vídeo foi um sucesso. Ficou em destaque no Billboard Video Cassette Top Forty por 14 semanas, considerada uma das produções mais procuradas para compra e aluguel na época, disputando até mesmo com O Poderoso Chefão – Parte 2.

Pelas boas críticas a sua atuação, Camille Keaton recebeu mais convites, mas estrelou logo depois apenas mais quatro produções – a última, Savage Vengance, em que ela também atuou como Jennifer, recebeu o título picareta de I Spit on Your Grave 2 – antes de uma longa pausa na carreira. Voltaria a atuar em ritmo intenso a partir de 2010, aparecendo em 17 filmes, incluindo a continuação oficial, dirigida também por Zarchi. Seu papel como a simpática escritora que se transforma numa assassina sangrenta passaria a ser o maior destaque de sua carreira.

Sobre o enredo, Jennifer Hills (Keaton) sai de Manhattan para passar um tempo em uma casa rural em Kent, Connecticut, próximo ao rio Housatonic, para escrever seu primeiro romance. O contato inicial com um rapaz no posto de gasolina, Johnny Stillman (Eron Tabor), próximo a dois outros desempregados, Stanley Woods (Anthony Nichols) e Andy Chirensky (Gunter Kleemann), já deixa evidente um certo incômodo na maneira como eles olham para ela. Mais tarde, um outro que tem deficiência cognitiva, Matthew (Richard Pace), leva compras de mercado para ela, recebendo gorjeta e simpatia, mas opta por falar sobre a moça como uma boa opção de interesse.

A partir de então, o sossego de Jennifer termina: enquanto escrevia seu livro, descansando na rede, dois deles passam de barco por diversas vezes, tirando sua concentração. Eles voltarão a perturbá-la durante um passeio de caiaque, levando-a para a terra firme para iniciar um longo processo de tortura, agressão e violência sexual em vários ambientes, próximo ao rio, numa pedra e dentro de casa. Depois de se arrastar pelo chão, completamente ferida, a garota chega a implorar para que a deixem em paz, até sugerindo que poderia dar prazer a eles com as mãos, porém é ignorada para mais sequências intermináveis de dor. Chutada, sofrendo felação, tendo seu material de escrita rasgado, Jennifer é largada no chão da sala, enquanto os agressores começam a eliminar seus rastros. Pedem que Matthew a mate com um canivete, mas o rapaz finge que faz o serviço, manchando a arma de sangue – uma referência à ação do caçador em Branca de Neve.

Semanas depois, Jennifer vai a uma capela, pedir perdão a Deus pelo que pretende fazer. Ela começa a observar os rapazes e orquestrar uma vingança contra cada um deles, tornando seus excessos justificáveis. Castração, enforcamento, machadada… Jennifer elimina seus algozes de maneira fria, seduzindo-os sem pressa na construção de uma vingança dolorosa e sangrenta. Em dado momento, Johnny, em seu discurso machista, diz que não permite que mulheres lhe deem ordens, diz que a culpa é de Jennifer por andar mostrando seu corpo, tentando-os. E eles teriam feito o que fizeram porque é da natureza do homem deixar a mulher em submissão total. É terrível e assustador pensar que há muitos como Johnny, Stanley, Andy e Matthew por aí.

Criticado pela proposta, A Vingança de Jennifer é mesmo o espelho de uma sociedade doente, desequilibrada. A própria atriz saiu em defesa do filme, dizendo sabiamente que a “arte pode acordar as pessoas“, mostrar que realmente existem mulheres que passam por isso todos os dias e que o filme pode servir como alerta. Para que não existam mais Jennifers, as leis deveriam ser muito mais rigorosas, intimidadoras, punitivas, além, claro, de projetos de incentivos à educação escolar e em casa, de respeito e igualdade de gêneros. É difícil ser otimista diante de exemplares diários de feminicídios, assédios e atos de violência sexual, mas é preciso acreditar que talvez um dia possamos olhar para o filme de Meir Zarchi como uma ficção tola, o registro de uma época vergonhosa e desagradável.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “A Vingança de Jennifer (1978)

  • 10/06/2023 em 11:22
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    A vinganca de Jennifer e sua continuação Doce vinganca deja vu são alguns dos filmes mais fortes , chocantes e violentos que já foram feitos. Recomendo os dois filmes para todos.

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  • 10/06/2023 em 11:18
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    A vinganca de Jenifer e sua continuação Doce vinganca deja vu são excelentes filmes de suspense e horror. Com muita violência explícita e sexo os filmes agradarão quem gosta deste gênero. Recomendo os dois fimes: A vinganca de Jenifer e sua continuação Doce vinganca deja vu.

    Resposta
  • 22/03/2023 em 01:04
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    Bom filme melhor que a versão atual
    Continua atual

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