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Strange Circus (2005)

Strange Circus
Original:Kimyô na sâkasu
Ano:2005•País:Japão
Direção:Shion Sono
Roteiro:Shion Sono
Produção:Kôji Hoshino, Toshiaki Nakazawa, Toshihiro Satô, Toshiie Tomida
Elenco:Masumi Miyazaki, Issei Ishida, Rie Kuwana, Mai Takahashi, Madamu Rejînu, Mame Yamada

Strange Circus é considerado a terceira parte da trilogia sobre suicídio do controverso Shion Sono – os outros são Suicide Club e Noriko’s Dinner Table. Este trabalho é o mais incômodo e perturbador dentre os três filmes, abordando a pedofilia e o incesto como pano de fundo para uma triste história sobre perda da inocência e desconstrução familiar, narrado de uma forma repulsiva.

O filme é dividido em duas partes. Na primeira, vemos a história de Mitsuko, narrada sob o ponto de vista da personagem, uma menina de 12 anos que vive em uma mansão com uma família aparentemente normal (com ênfase na “aparência de normalidade“): a garota sofre todo tido de abuso sexual por parte de seu pai Gozo, que também é diretor de sua escola. Sua mãe, Sayuri, vê o que acontece, mas nada faz para ajudar a filha, pelo contrário, à medida que o patriarca da família passa a desejar Mitsuko, Sayuri passa a tratá-la de forma violenta. O que antes era amor se torna ódio. O auge da perversão do pai ocorre quando ele coloca a filha em um case de violoncelo com um pequeno buraco, onde a jovem assistia a ele e sua mãe tendo relações sexuais para depois ocupar seu lugar.

Na outra parte da história, somos apresentados a excêntrica escritora Takeo. Bem sucedida, sua vida é um mistério para seus editores. Um jovem androgêno é contratado pela editora para ser assessor de Takeo e ajudar a escritora a finalizar seu novo livro, porém, o que os editores querem é saber se Takeo é uma das personagens descritas em seus livros. Os mesmos acreditam que ela seja Mitsuko (a história narrada na primeira parte faz parte de um dos livros da escritora), porém a mesma nega essa relação. A missão é dada a Yuji, o recém contratado. Até certo momento do filme não sabemos qual a relação de Takeo com Mitsuko; seria ela a garota ou a história realmente é uma ficção?

Strange Circus (2005) (2)

O roteiro do próprio Shion Sono é redondo, e bem conduzido pelo diretor, ligando as duas histórias até a conclusão aterradora. A fotografia intercala com os piores momentos de Mitsuko. As paredes da mansão se tornam vermelhas, como se houvesse sangue escorrendo; os corredores iluminados pelos vários lustres se tornam sombrios, enquanto a bela trilha sonora, tocada em um piano (composta pelo próprio Shion), ecoa no fundo parecendo pedir que tudo aquilo pare. A segunda parte parece ser um alívio à primeira, mas a história toma um rumo insano que só poderia ser narrada da maneira que foi pelo próprio Shion Sono. No elenco o destaque fica pra Masumi Miysaki no papel da excêntrica Takeo, e Issei Ishida, que interpreta o assistente Yuji, o jovem pacato que se revela atormentado por um passado sombrio. E é claro para a jovem Rie Kuawana, que interpreta a jovem Mitsuko, retratando todas as angústias causadas pela violência sexual do pai e alienação da mãe.

O estranho circo” mostrado na cena inicial, e em outros momentos do filme, funciona como uma simbologia da vida da jovem Mitsuko, que ali ressalta já estar condenada à morte. O filme em si não trata apenas da pedofilia, apesar de ser o ponto mais incômodo na trama; o diretor traz à tona a desconstrução da família, um assunto recorrente em seus trabalhos. Os valores das famílias são cada vez mais raros, e, aqui, chega ao extremo contando como as consequências de atos covardes e maldosos são desastrosas, principalmente na cabeça de uma criança de 12 anos. Strange Circus é uma viagem ao inferno; é um filme indigesto, perturbador, é o tipo de cinema que podemos chamar de “mal necessário“: ele te causa desconforto, te deixa enojado, chocado – sentimentos que buscamos evitar no dia a dia, tristes, mas verdadeiros.

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Média da classificação 4.7 / 5. Número de votos: 6

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1 comentário

  1. Tive a oportunidade de ver esse filme, e olha… que coisa! Muito bem conduzido, mas, ainda prefiro o Suicide Club. Muito bom e merece sim, ser conhecido!

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