Reptilicus (1961)

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Reptilicus (1961)

Reptilicus
Original:Reptilicus
Ano:1961•País:Dinamarca
Direção:Sidney W. Pink
Roteiro:Sidney W. Pink, Ib Melchior
Produção:Samuel Z. Arkoff, Sidney W. Pink
Elenco:Bent Mejding, Asbjørn Andersen, Povl Wøldike, Ann Smyrner, Mimi Heinrich, Dirch Passer, Marlies Behrens, Carl Ottosen, Ole Wisborg, Birthe Wilke, Mogens Brandt, Kjeld Petersen

Na época de monstros gigantes e invasões alienígenas, nos anos 50 e 60, os terráqueos nunca estiveram seguros. Porém em dois países estas ameaças foram tão predominantes que geraram uma divisão de monstruosidades tão grande quanto na Guerra Fria: Japão e Estados Unidos. Se na terra do hambúrguer os problemas eram trazidos a pequenos municípios por tarântulas e até pedras que se multiplicavam com água, na terra do sushi eram normalmente repteis descomunais que destruíam prédios e torres de energia para desespero de seus habitantes.

Portanto é minimamente curioso que não tenhamos tantos filmes neste peculiar gênero ambientados em outros lugares, como no continente europeu, e me chamou a atenção que um deles (e arrisco-me a dizer que é o único) se passe na rica nação da Dinamarca. Estou falando de Reptilicus, de 1961, dirigido por Sidney W. Pink (de Monstro do Planeta Perdido) e produzido pelo lendário Samuel Arkoff, um tosco filme de monstros que garante sua dose de risadas pela qualidade do personagem-título referencia e bocejos pelo resto da história.

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Na história simples, um grupo de mineradores dinamarqueses liderados por Svend Viltorft (Bent Mejding), trabalhando no circulo polar ártico, está num típico dia de escavação, apesar de nada parecer congelado no lugar (deve ser verão…). Eles encontram um pedaço de uma cauda do que aparenta ser um réptil gigantesco. A peça é levada para Copenhagen para ser estudada no aquário da cidade (?) e é deixada em uma câmara fria para evitar que se decomponha aos cuidados do Professor Otto Martens (Asbjorn Andersen) e do Doutor Peter Dalby (Poul Wildaker).

O achado é notícia local e os estudos confirmam que o réptil deve ser um dos maiores que já existiram no mundo – como eles chegaram a esta conclusão analisando somente um pedaço do rabo do bicho é de se pensar. Neste interim aparecem Lise (Ann Smyrner) e Karen (Mimi Heinrich), filhas do Professor Otto, que protagonizam um leve (e irrelevante) triângulo amoroso com Svend. Também aparece o abobalhado zelador Petersen (Dirch Passer), que calha de ser o (péssimo) alívio cômico. Equivalente ao QI de Torgo, de Manos: The Hands of Fate, Petersen tem seu trabalho explicado nos mínimos detalhes pelo Doutor Dalby: “Seu trabalho é manter a câmara fria funcionando… Ela funciona com eletricidade“… Rá! Antes que você consiga dizer, “a falta de energia fará o monstro reviver“, o zelador enfia a mão propositadamente num aquário contendo uma enguia elétrica, sabe-se lá o motivo.

Ironicamente é Dalby quem pisa na bola pois decide ficar até mais tarde no laboratório, dispensa Petersen e acaba dormindo com a porta da câmara fria aberta. Na manhã seguinte, Martens e suas filhas chegam ao laboratório para acordar o bom doutor e descobrir que aparentemente o espécime está arruinado pela falta de refrigeração, porém logo em seguida constatam de que em vez de apodrecer, o pedaço de cauda está se regenerando!

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A americana Connie Miller (Marlies Behrens) entra na equipe dinamarquesa como representante das Nações Unidas para também estudar a descoberta (e embora ela diga que outros virão, eles nunca chegam) não sem antes um diálogo estupidamente machista onde um repórter local questiona “sem querer ofender, como uma garota tão bonita pode ser uma cientista?“. A tira colo, Connie chega com o General Mark Grayson (Carl Ottosen) para garantir a segurança.

Uma conferência de imprensa é realizada para divulgar as novidades deixando todos em polvorosa, e um dos jornalistas sugere o nome da tal criatura (Reptilicus, obviamente). Martens dá o manjado exemplo de que um réptil pode regenerar sua cauda cortada, contudo não dá qualquer pista do porque raios neste caso da cauda o resto pode ser regenerado. Enfim, o danado do bicho é colocado em um tanque exclusivo com nutrientes e seu monitoramento passa a fazer parte da rotina e embora tenhamos militares a serviço no local, ninguém pensa em nenhum plano para o caso de algo dar errado.

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E não seria um filme de monstros se não desse nada errado, não é verdade? Petersen, o zelador, é o primeiro que ouve algo se mexendo no tanque e aciona o alarme de incêndio. Obviamente ninguém acredita e o incidente é deixado de lado, porém um salto no futuro nos mostra que o organismo está crescendo e começa a secretar um veneno que tem um efeito corrosivo.
Não que isto seja importante no momento, pois é hora de fazer um tour pela bela cidade de Copenhagem! Grayson e Connie passam intermináveis minutos passeando juntos, conhecendo os pontos turísticos – tome filmagens de arquivo com direito a até musical! Sem relevância alguma a não ser encher linguiça e testar a força de vontade do público para não dormir. Provavelmente é a deixa para o espectador ir ao banheiro e pegar um lanche no snack bar…

Enquanto uns se divertem e outros não acreditam, Dalby trabalha a noite durante uma tempestade. E somos vacinados o suficiente para sabermos que tempestades em filmes de monstros não é um bom sinal… E o pior acontece, Reptilicus ataca Dalby e agora está a solta. Grayson transforma Copenhagem em uma praça de guerra para evitar o pior. Começa, então, uma correria desmedida, com direito a tiros, mortes e várias sequências incrivelmente toscas de ataques com o lagarto vomitando sua baba venenosa não somente nas tropas, mas na tela toda! Conseguirão as forças militares da poderosa nação da Dinamarca conter uma ameaça que se regenera rapidamente?

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Em uma palavra, Reptilicus poderia ser chamado de Ridiculus (esperei até agora para usar este trocadilho…): a produção é pobre de história, roteiro, atuações e, principalmente, efeitos especiais. O material do monstro parece um brinquedão de borracha, um monstrengo feito com uma mão enfiada numa meia, muito tosco e divertido de se ver. Porém a produção pelo menos é “honesta“, já que depois que o monstro aparece as “barrigas” são poucas e os belos cenários, cortesia da arquitetura dinamarquesa, valem uma olhada com mais cuidado do que uma produção B qualquer.

Com uma cadência simples e bem típica dos filmes de monstros, o diretor Sidney W. Pink incorre em todos os erros e acertos que um obscuro filme de monstros dos anos 60 poderia, contudo a quantidade de cenas externas e o uso de militares e equipamento de verdade em diversas cenas salta aos olhos sobre como o primeiro e único filme de monstros gigantes da Dinamarca foi tratado pelos envolvidos, com um nível de compromisso que muitos blockbusteres não tiveram.

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O pós-lançamento também tem muito a dizer sobre a pequena produção: junto com a chegada aos cinemas Reptilicus ganhou uma novelização pelas mãos do autor Dean Owen, bem como uma série de quadrinhos com 2 números pela Charlton Comics. Um processo entre o diretor e a distribuidora americana – que causou o atraso do lançamento nos Estados Unidos por cerca de um ano e meio – o título dos quadrinhos mudou para “Reptisaurus the Terrible” parando na oitava edição.

A produção carrega outra curiosidade adicional, na mesma linha do que a Universal fez com o Drácula em 1931: o filme conta com duas versões, a original dinamarquesa com cenas adicionais e até um número musical e a americana com alguns ajustes no elenco e extremamente cortada e reeditada, causa de boa parte da discórdia entre distribuidora e diretor que culminou no já referido processo judicial.

Disponível em DVD nos Estados Unidos e através do Netflix no Brasil, Repitilicus quase ganhou um remake no começo dos anos 2000 pelas mãos do próprio diretor, aproveitando o status de cult que a produção tem no país onde foi feito. Infelizmente os planos foram abortados quando da morte de Sidney W. Pink em 2002. Apesar de parecer com pouca relevância, Reptilicus nunca será páreo para seus camaradas orientais ou yankees, porém estará em um pedestal de um pequeno país escandinavo… Não é pouca coisa!

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

3 thoughts on “Reptilicus (1961)

  • 20/03/2022 em 19:52
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    Como será que o público da época reagiu? Risivelmente interessante.

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