Um Drink no Inferno – 1ª Temporada (2014)

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Um Drink no Inferno (2014)

Um Drink no Inferno
Original:From Dusk Till Dawn
Ano:2014•País:EUA
Direção:Robert Rodriguez, Dwight H. Little, Fede Alvarez, Nick Copus, Joe Menendez, Eduardo Sánchez
Roteiro:Juan Carlos Coto, Diego Gutierrez, Robert Kurtzman, Matt Morgan, Robert Rodriguez, Álvaro Rodríguez, Ian Sobel, Quentin Tarantino
Produção:W. Mark McNair
Elenco:D.J. Cotrona, Zane Holtz, Eiza González, Jesse Garcia, Madison Davenport, Brandon Soo Hoo, Wilmer Valderrama, Robert Patrick, Jake Busey, Samantha Esteban

por Nilton Kleina

Quem escreve com frequência sabe como é: se você reler um texto seu de dias, meses ou anos atrás, vai querer modificá-lo. Trocar uma palavra por outra, mudar uma frase de posição ou até alterar opiniões são frequentes. Vale a mesma regra com os filmes. Apesar de não admitirem, devem ser incontáveis os diretores que gostariam de revisitar obras e realizar um remake próprio – Alfred Hitchcock não teve vergonha e realizou algumas refilmagens.

Robert Rodriguez parece sofrer do mesmo mal. Dirigiu Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996) com maestria e, dezoito anos depois, resolveu refilmar a produção e adicionar uma série de novos elementos. O nome continua o mesmo e Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn: The Series, 2014) estreou no canal a cabo El Rey e no serviço de streaming Netflix.

O seriado mistura remake (especialmente nos primeiros episódios) com continuação: personagens ganham um pano de fundo inédito, novos elementos são introduzidos e decisões são revistas. Na história, os irmãos Seth e Richie Gecko estão juntos após o primeiro ser libertado da prisão e voltam à rotina de assaltos. Quando um roubo dá errado, eles são obrigados a sequestrar um trailer que pertence a uma família em crise e a parar em um bar suspeito – e que transforma o que era um filme policial em um terror amalucado.

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Entre novidades que realmente são curiosas, como a mitologia por trás dos vampiros e mais sobre o interior do Titty Twister, conhecemos também um pouco mais sobre a morte da esposa de Jacob, sobre o cartel comandado por Carlos e até um relacionamento passado de Seth – mas será que o espectador realmente queria saber dessas coisas? Tudo isso é irrelevante para o filme (ou, se faz alguma diferença, é citado de forma rápida no roteiro afiado de Tarantino) e, em alguns momentos, também não tem a menor importância na série. A impressão que fica é que Rodriguez foi egoísta ao pensar que ideias interessantes ou curiosas para ele transmitiriam as mesmas sensações ao espectador.

Se a ideia era justamente dar continuidade à história, é desnecessário recontar a trama desde o começo, especialmente de forma tão mal feita, com expansões desnecessárias e subtramas para lá de desinteressantes. Quem é fã do filme e foi atrás do seriado certamente desapontou-se com o resultado – e quem não conhece o longa-metragem original vai passar longe da produção e dos demais episódios da série, já que não há atrativos que convençam o espectador a acompanhar tudo até o fim.

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Quer um exemplo? Um episódio inteiro na loja de conveniências, ainda mais no piloto, é uma atitude ousada e que, nesse caso, dá errado. É tudo cansativo demais, especialmente quando a ideia é apresentar o clima e os personagens. Os diálogos tentam emular aquelas conversas intermináveis em produções “rodriguez-tarantinescas”, mas são vazias demais.

A série melhora consideravelmente com a chegada do trailer dos Fuller no bar – o que não é coincidência, já que Fede Alvarez (do novo Evil Dead) e Dwight H. Little (Halloween 4: O Retorno de Michael Myers) dirigem alguns dos episódios da segunda metade da temporada. Mas, se a ação e diálogos melhorados dão o gás que a trama precisava, logo vem o desânimo: o discurso do “porteiro” do local até está lá, mas o ator é obviamente pior e não fala a “palavrinha mágica” que domina toda a fala de Cheech Marin no filme. O bartender que era vivido por Danny Trejo, o Sex Machine de Tom Savini (sim, a arma dele está em seu devido lugar) e o Frost de Fred Williamson, também prejudicados pelas atuações, viram coadjuvantes sem graça.

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Grande destaque do filme, George Clooney é substituído por D.J. Cotrona (Venom, G.I. Joe – Retaliação). Ele não tem o carisma do astro e traz um personagem que é mera imitação do original. No começo, isso incomoda bastante, mas logo nos acostumamos com o novo rosto do bandido. Zane Holtz (Os Vampiros que se Mordam) dá vida à Richard “Richie” Gecko e… bom, só digo que Tarantino nunca foi um primor como ator e, mesmo assim, o seu substituto não chega nem perto de superá-lo. Inserir o sobrenatural desde o começo tira o elemento plot twist da produção, mas, pelo menos, dá mais importância ao “irmão louco” da família e mais ação com vampiros.

A ala sobrenatural é marcada por atuações forçadas: o traficante Carlos vivido Wilmer Valderrama (do seriado Awake) só sabe fazer cara de mau e a Santanico Pandemonium da novata Eiza González não beija os pés molhados de cerveja de Salma Hayek – não que alguém esperasse diferente, claro. A família Fuller mudou bastante: o pastor Jacob (o veterano Robert Patrick, de O Exerminador do Futuro 2: O Julgamento Final) ganha ainda mais drama, a filha Kate (Madison Davenport) fica mais rebelde do que nunca e o adotado Scott (Brandon Soo Hoo) vira um lutador amador de artes marciais que arranca risadas não propositais dos espectadores.

Jesse Garcia (de Sons of Anarchy) vive Freddie González, um personagem inédito. Ele é um ranger, um policial de fronteira que perde o parceiro no tiroteio da loja de conveniências e sai em busca de vingança contra os Gecko. O personagem não existia no filme e fica claro o motivo: sem carisma e com uma incapacidade absurda, ele é só mais um obstáculo no caminho dos irmãos.

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Os efeitos especiais são obviamente empobrecidos. A maquiagem dos vampiros é menos exagerada em alguns casos, porém forçadas demais em outros, que se parecem com répteis. O sangue, presente em doses generosas, às vezes diverte, mas não há como disfarçar que os esguichos são todos digitais. Em vez do clima propositalmente “B”, trash e barato, a produção tenta ser levada a sério e acaba com cara de mal feita, não aquele ruim proposital ou “tão ruim que vira bom”.

Sem um elenco cheio de “estrelas”, sem homenagens aos filmes B e sem doses de humor, o abismo é ainda maior. A série Um Drink no Inferno é um apanhado de cenas copiadas e coladas do filme original, porém nunca com a mesma qualidade. Quando não faz isso, aposta em um roteiro original com menos força que o material em que é inspirado, e que não é ajudado por um elenco de escolha bastante duvidosa.

Para não dizer que o resultado é totalmente negativo, você nota que há um dedo de Robert Rodriguez na produção em efeitos como o filtro amarelado que deixa o clima com cara de árido e envelhecido. A reambientação do interior do Titty Twister está impecável – o problema está mesmo no material humano e vampiresco do local. Outro destaque é a trilha sonora, com a mesma mistura de machiachis, rockabilly e um rock ‘n roll com a cara do sul dos Estados Unidos do filme original.

A ideia do canal El Rey, mais voltado para o público hispânico, é excelente. Para a próxima temporada da série a para futuras produções, entretanto, Rodriguez precisa esforçar-se muito mais para oferecer um conteúdo a altura de suas ambições e de seus excelentes trabalhos anteriores.

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Autor Convidado

Um infernauta com talentos sobrenaturais convidado a ter seu texto publicado no Boca do Inferno!

10 thoughts on “Um Drink no Inferno – 1ª Temporada (2014)

  • 08/03/2019 em 17:14
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    Eu já era fã do filme, e enlouqueci com a série. É sensacional. A primeira temporada é totalmente baseada no filme original, ela estica o chiclete de cada cena, dando profundidade e sentido aos personagens e acontecimentos. As temporadas seguintes encaixam perfeitamente, além de aprofundar a mitologia. Os irmãos Gecko, vividos por Zane Holtz e D.J. Cotrona estão incríveis, eletrizantes. Gostei do Richie menos tarado e mais frio e esperto, e do Seth mais humanizado. O elenco é demais, representaram muito. Muitas cenas de luta, sangue pra todo lado. Super indico

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  • 13/02/2018 em 02:37
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    Série é boa até chegar no bar, não gostei dos vampiros serem repitilianos (achei uma merda isso), o confronto no bar e nas cavernas é fraco. Eu também senti que o lado sobrenatural jogado logo de início tirou o plot. Os personagens do “Ranger” e do ” Carlos” são extremamente ruins e forçados. O destaque mesmo é o Jacob, a filha e o Richie que tem um ar de psicopata loucão. Fora isso infelizmente a série é mediana pra ruim. Nota 5.5

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  • 11/09/2017 em 21:10
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    Sou fã do filme, e gostei da série, não sinto a necessidade de ficar comparando um e outro, gosto de saber opiniões técnicas mas nem sempre batem por isso aconselho que assistam o piloto e mais um ou dois episódios e decidam.

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  • 26/11/2016 em 02:06
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    aaaaah meu vão se fuder….vejam a serie e tirem as suas proprias conclusoes, so um pequeno texto dessa materia lixo q eu li ja me irritei…a eu assisti os filmes antes da serie e os filmes são mtos bons e quando vi a serie então aee q eu pireeeei de tão boa q é, o filme era otimo mais a serie dxo a historia complexa, engraçada, interessante e doida ao msm tempo kkkkkkk tarantino é um genio e eu recomendo a serie e o filme tbm!!

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      26/11/2016 em 16:12
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      Respeito amigo. Não há necessidade de xingar quem discorda de ti. Ou vai ter que xingar muita gente que não gosta da série.

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    • 09/03/2019 em 11:29
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      Tarantino deu base pra história, mas o nome em comum em ambas produções é Robert Rodriguez. De qlqr forma os dois são foda

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  • 29/07/2016 em 20:21
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    Cara, eu gostei da serie. Muito boa, personagens interessantes e fiéis à fonte. E ainda por cima a mitologia foi ampliada. Gostei muito

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  • 29/09/2014 em 13:49
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    Eu ia dar uma conferida, mas depois de ler a matéria, vou passar longe.

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  • 10/08/2014 em 17:35
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    E eu esperava tanto dessa série =/ Filmes ótimos, séri fraca.

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