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Backcountry (2015)

Sobrevivente
Original:Backcountry
Ano:2014•País:Canadá
Direção:Adam MacDonald
Roteiro:Adam MacDonald
Produção:Thomas Michael
Elenco:Missy Peregrym, Eric Balfour, Jeff Roop, Nicholas Campbell

Quando escrevi sobre Perseguidos, longa dirigido de forma incompetente por John Rebel (o mesmo de Terra dos Lobos, 2010), esbocei a minha decepção pela ausência de uma única produção do gênero, até aquele momento, que honrasse a magnitude dos ursos. E a análise evocava Grizzly (1976), Grizzly Rage (2007) e Grizzly Park (2008), embora injustamente eu tenha me esquecido do divertido Semente do Diabo (Prophecy, de 1979), com um urso mutante com caracterização bem interessante. Então, corrigindo o que foi afirmado, pode-se dizer que o filme de John Frankenheimer era o único bom representante do “natural horror” envolvendo ursos como antagonista. Era.

Em sua estreia na direção de longas, Adam MacDonald (ator em Wolves, 2014) fez de seu Backcountry um bom exemplar desse frágil subgênero, alternando entre momentos de horror psicológico e gráfico, aproximando-se sutilmente de sua inspiração de 2003. “Depois que eu tive a ideia de fazer um Mar Aberto nas matas, eu comecei a pesquisar sobre os ursos pretos e casos de campistas e caroneiros que foram atacados por eles. Vi a história de um casal que tinha sido selvagemente atacado no interior por um urso preto há cerca de dez anos – e achei heróica e trágica, e muito emocional. O fato do casal ser jovem e estar solitário no local tornou tudo mais atraente para mim.

Backcountry (2015)

Mar Aberto assume facilmente uma boa posição em qualquer lista que envolva o Homem Vs Natureza. Na época, o público brasileiro não aceitou muito bem a junção de um ambiente único, com tensão e algumas doses de insanidade, provavelmente por não conseguir se colocar no papel do casal perdido em alto mar. Como cinema entretenimento, realmente o filme pode não trazer a empolgação da geração videoclipe, mas é impossível negar o quanto ele mostrou que a solidão e a insegurança são capazes de torturar muito mais do que a dor física. Para se aproximar dessa fonte, MacDonald precisaria criar uma sintonia entre o espectador e os personagens, e carregar a produção de tons pessimistas, impedindo a visualização de uma saída daquele pesadelo. Ele conseguiu apenas metade de seu objetivo.

Se a química entre Jenn (Missy Peregrym) e Alex (Jeff Roop, de Jekyll + Hyde, 2006) até funciona bem, apesar da pouca intimidade entre eles, por outro lado, algumas ações irresponsáveis só evidenciaram o quanto a dupla basicamente cavou o próprio túmulo. Em Mar Aberto, o casal é vítima de uma contagem errada, sem culpa alguma pelas consequências; já em Backcountry, é difícil engolir as atitudes do rapaz: esconder o celular da namorada e não querer levar um mapa da região, acreditando em sua capacidade de orientação, é algo tão ingênuo quanto um padre resolver voar com balões e um GPS sem saber utilizar o aparelho.

Backcountry (2015)

Ambos decidem excursionar por um parque canadense atrás da trilha Blackfoot, mesmo com o alerta de um guarda-florestal (Nicholas Campbell) sobre a possibilidade de se perderem no local. Eles remam até a entrada na mata, e iniciam o passeio pela mata densa, enquanto cruzam pelo caminho com outros aventureiros. Um deles é o estranho Brad (Eric Balfour, Skyline – A Invasão, 2010), convidado para jantar peixe ao pé de uma fogueira. Sem ler a sinopse, seria possível imaginar que o filme seria uma versão jovem de Amargo Pesadelo (1972), com o misterioso visitante ameaçando a vida do casal. Mas, o perigo está bem mais adiante, quando o caminho deixar de ser conhecido, e surgirem carcaças de animais, pegadas imensas e sons graves na floresta sem fim.

MacDonald esconde o inimigo por quase uma hora de duração, apostando nas pistas deixadas pelo animal e pela sensação de perigo eminente. O horror psicológico se concretiza na melhor cena do filme, quando o imenso urso preto resolve se aproximar da barraca, sem ser visto pela dupla ou até mesmo pelos espectadores. Esse momento, de tirar o fôlego, faz o público torcer para que eles continuem dormindo sem imaginar o quanto estiveram próximos da morte. Backcountry poderia até manter esse tom incômodo de insegurança, mas depois viria o horror gráfico, com uma cena extremamente violenta e dolorosa, sem poupar o espectador de testemunhar a deformação da vítima a cada mordida da criatura.

Apesar do argumento eficiente, Backcountry não escapa dos lugares-comuns. “Casal que se perde na natureza e enfrenta a fúria de algum animal selvagem” já foi mote de muitas produções como Isolados (2008) e o ótimo The Canyon (2009), que até possui similaridades com o filme de MacDonald em diversos momentos – até mesmo na câmera fechada que impede a noção de amplitude. Ainda assim, apesar dos clichês, é um filme que merece a recomendação, seja pelas doses de ousadia ou pela pressão psicológica nas personagens, com o desfoque das imagens para que o público consiga visualizar o desespero dos envolvidos.

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1 comentário

  1. Gostei da análise…, e com certeza, darei uma conferida. Valeu Boca!

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