Yakuza Apocalypse
Original:Gokudou daisensou
Ano:2015•País:Japão Direção:Takashi Miike Roteiro:Yoshitaka Yamaguchi Produção:Yoshinori Chiba, Shin'ichirô Masuda, Shinjiro Nishimura, Misako Saka Elenco:Yayan Ruhian, Rirî Furankî, Hayato Ichihara, Mio Yûki, Denden, Pierre Taki, Riko Narumi, Yoshiyuki Morishita, Tetsu Watanabe |
Uma das fascinações do diretor japonês Takashi Miike é pela Yakuza, a lendária máfia japonesa. Da organização criminosa foram inspiradas diversas de suas obras mais notórias, dentre os quais Full Metal Yakuza (1997), Dead or Alive (1999), Gozu (2003), Yakuza Demon (2003) e um dos meus favoritos, Ichi the Killer (2001).
Miike volta ao assunto em seu mais novo trabalho e ao estilo “tarantinesco” em Yakuza Apocalypse, uma produção que, em primeiro lugar, é difícil de definir… O diretor derruba paredes de gêneros opostos, misturando terror, comédia, ação, kung-fu, monstros gigantes entre outros bichos para contar sua história. Basicamente é como se uma caixa de pandora se abrisse a sua frente e de dentro começasse a sair uma sucessão de bizarrices, aumentando cada vez mais numa cacofonia crescente, até que há uma sobrecarga e tudo explode em um Big Bang de onde nasce o absurdo.
Apesar de tudo vou tentar manter um pouco de compostura e raciocínio lógico neste texto, coisa que Yakuza Apocalypse não se preocupa em ter… A trama gira em torno de um vilarejo fictício no Japão controlado pela Yakusa com rigor, mas, assim como o romantismo da máfia italiana retratado no cinema, o chefe local, chamado Kamiura, é respeitado pelos civis e sente-se como um líder protetor da comunidade.
As coisas seguem na normalidade até que um cartel rival entra na cidade. Consistindo de um homem vestido como um caçador de bruxas da idade média (carregando um caixão nas costas como Django), um nerd especialista em artes marciais e um demônio humanoide com bico de pato e casco de tartaruga. Eles querem tomar o poder e conseguem matar Kamiura.
Seu guarda-costas, Kagayama (Hayato Ichihara), não consegue salvá-lo, porém antes de morrer de vez o chefe – que foi decapitado, por sinal – lhe dá uma mordida no pescoço, tornando Kagayama um verdadeiro Yakuza, neste caso, um vampiro (!) e se torna o novo líder da facção.
O problema é que não há manual de instruções para sua condição e Kagayama não consegue lidar muito bem com seus novos dons e, principalmente, sua fome. Ao sugar o sangue dos civis sem controle, vai tornando cada morador da vila um Yakuza, criando uma bola de neve de sedentos vampiros que, por não conseguirem se segurar, comportam-se irracionalmente tal como zumbis. É quando encontra finalmente um mentor na figura do dono da casa de chá, que vem trabalhando com o ex-chefe da Yakuza há anos. Só com ajuda Kagayama conseguirá retaliar a nova liderança da Yakuza, enfrentar os outros bandidos e salvar o vilarejo da obliteração.
Yakuza Apocalypse mais uma vez demonstra o quanto Miike é meticuloso na cadeira de diretor, mesmo apresentando uma sucessão de situações nonsense. O timing das piadas, que são tratadas como elementos sérios dentro do filme, é certeiro; o tom muda a cada momento, trazendo a essência de gêneros consagrados sem perder sua própria essência (ora estamos vendo um horror, ora um “bifum” western, ou um filme de artes marciais); e um dos mais perfeitos usos de comédia corporal em qualquer tempo.
Igualmente interessante é que o diretor usa de todas as técnicas conhecidas e imaginadas para fazer valer sua visão: pastelão, escatologia, “body horror“, animação em stop motion (chega a lembrar Monty Python), chroma key tosco de propósito, efeitos práticos e miniaturas, cada uma usada em um contexto e aplicação específica, na medida exata para nossa diversão.
Claro que não seria uma obra de Takashi Miike sem violência e é abundante, apesar de que o filme não se deixa levar por ela. Muito acontece fora da tela e os ataques dos “vampiros zumbis” chegam a ser castos de tão limpos.
Creio que não há como ter meio termo em Yakuza Apocalypse, ou você vai gostar demais, ou vai achar um lixo. Acredite que mesmo gostando bastante, entendo e concordo com seus detratores, pois Miike apresenta algo tão acima do tom nas caricaturas e em como se orgulha de que nada faça sentido em termos narrativos, que pode passar facilmente por ridículo, uma bagunça sem fim, um salto de cabeça em uma piscina de bolinhas.
Ovacionado no Festival de Cannes deste ano, qualquer explicação adicional que eu tente fazer, além de não representar com o mesmo impacto o que é visto, pode entregar surpresas e fazer Yakuza Apocalypse perder um pouco da graça. Apenas reparem no personagem conhecido como “Sr. Sapo” – uma “fantasia de pano” convocada pelos vilões que luta kung fu como ninguém e usa tacos de baseball com grande fúria, mas precisa de ajuda para subir e descer escadas – desde já outro ícone visual do cinema de Miike, como Ichi e antes dele. Ame ou odeie, não perca por nada deste mundo.
DUCA !!
me interessou!