Sharktopus Contra Pteracuda
Original:Sharktopus vs. Pteracuda
Ano:2014•País:EUA Direção:Kevin O'Neill Roteiro:Matt Yamashita Produção:Julie Corman, Roger Corman Elenco:Robert Carradine, Mario Ceara, Akari Endo, Tony Evangelista, Mario Arturo Hernández, Rib Hillis, Alan Nadal Piantini, Conan O'Brien, Katie Savoy |
Quando você assiste a um filme com o título Sharktopus Vs Pteracuda e acha divertido, é sinal que você precisa parar de ver filmes de tubarões digitais do canal SyFy e voltar aos clássicos. Um Bava ou Hitchcock já seria suficiente para tentar esquecer o cinema-bagaceira e voltar a admirar roteiros bem trabalhados e boas atuações, mas, pelo bem (ou mal) do Boca do Inferno, em sua Semana do Tubarão, é preciso continuar a maratona. Depois de passear pelas areias e pela neve, enfrentar tubarões-duende em Malibu, ter que encarar o embate entre duas criaturas híbridas, com produção de Roger Corman, é até mais fácil do que parece. É só ignorar as cenas absurdas desse confronto e deixar o cérebro em modo stand by para dar boas risadas, enquanto inevitavelmente se apaixona pela protagonista.
Sharktopus nasceu oficialmente de uma ideia insana de Mike MacLean, que, no mesmo ano, ainda escreveria o enredo da tranqueira Dinocroc vs. Supergator. Com a liberdade total do canal SyFy para explorar monstros esquisitos em orçamentos irrisórios, desde que envolvesse tubarões – o início da paixão da produtora, que, hoje, até criou a Semana Sharknado -, o autor imaginou uma criatura que misturasse o Rei dos Mares com polvos, justificando sua locomoção com o auxílio de tentáculos. No enredo, o Exército americano, em busca de mais uma arma de destruição em massa, permitiu que o setor de engenharia genética conhecido como “Blue Water” desenvolvesse o monstro. Na demonstração do Dr. Nathan Sands (Eric Roberts), quando ele está sendo usado para atacar traficantes de drogas, o Sharktopus perde o controle e vai em direção a Puerto Vallarta para atacar banhistas, naqueles efeitos bizarros que o trailer já permite um tira-gosto. No final, a criatura é morta com o auxílio de explosivos, espalhando seus pedaços pelas águas turvas.
Corman sempre imaginou uma continuação para o filme, mesmo que fosse necessário acrescentar outros monstros para tornar tudo ainda mais insano e divertido. Depois de três anos de desenvolvimento, Sharktopus Vs Pteracuda finalmente ganhou a luz verde e teve a sua estreia no canal no dia 2 de agosto de 2014. Desta vez a direção ficou a cargo de Kevin O’Neill, de coisas como Dinocroc (2004), Dinoshark (2010), Attack of the 50 Foot Cheerleader (2012) e Dracano (2013). Mais experiente na concepção e supervisão de efeitos visuais, tendo trabalhado em Drácula de Bram Stoker (1992), Blade, O Caçador de Vampiros (1998) e até Piranha 3D (2010), O’Neill assumiu a cadeira de diretor de um enredo desenvolvido por Matt Yamashita.
Acompanhando de perto a produção do longa, Roger Corman dirigiu a cena da morte de Conan O’Brien. Nela, o popular astro da TV americana está curtindo a praia, quando é atacado pelo Sharktopus e pelo Pteracuda ao mesmo tempo, com os tentáculos atravessando sua boca, enquanto seu corpo é dividido em duas partes, degolando-o. Sua cabeça voa em direção a um grupo de jovens em uma partida de vôlei de praia, que continua a jogada com a cabeça de O’Brien como se fosse a bola. Hilário! Felizmente, o tom de humor da produção se deve a essa participação especial e de alguns personagens bobos como o tio da protagonista e a apresentadora do Canal 3, trabalhando mais os momentos de ação e horror. Talvez a proposta absurda pedisse uma paródia, mas o roteiro mais sério, nesse caso, funcionou melhor, ainda que o filme mantenha suas falhas em evidência.
Começando exatamente com a cena final de Sharktopus, com a explosão da criatura, os restos mortais do tubarão-polvo são resgatados pelo barco onde se encontra a bióloga marinha Lorena Christmas (Katie Savoy). Ela encontra os ovos do Sharktopus e um filhote vivo, e decide levá-lo para o aquário onde trabalha com o tio, acreditando na possibilidade de domesticá-lo para apresentações juntamente com seus golfinhos treinados. Longe dali, o Dr. Rico Symes (Robert Carradine) acaba de desenvolver uma nova arma biológica, uma mistura de pterodáctilo com barracuda, controlado para executar missões de ataque. Segundo Symes, o Pentágono não está mais apostando em aviões, mas drones; com o apoio financeiro para a produção genética, ele acredita que animais controlados podem ser o caminho mais adequado para a evolução bélica.
Contudo, no primeiro teste, um dos cientistas envolvidos rouba o comando do animal e foge, planejando vendê-lo para um cliente rico. Mas, um acidente de carro, com refrigerante derrubado sobre o equipamento, deixa Pteracuda fora de controle, exigindo uma ação imediata do soldado Hamilton (Rib Hillis) para tentar matá-la. A solução talvez esteja no incidente ocorrido no aquário de Lorena, quando uma turista se feriu no ataque do Sharktopus, noticiado pelo canal 3 através da apresentadora Veronica Vegas (Akari Endo). Hamilton e Symes compram a criatura com o apoio do tio oportunista de Lorena e a preparam para o confronto com Pteracuda.
Se o interesse maior em um filme com dois monstros esquisitos é o confronto entre eles, Sharktopus Vs Pteracuda traz ao espectador várias dessas cenas, incrivelmente bem dirigidas, com a câmera por vezes submersas ou acompanhando o passeio aéreo da Pteracuda. Os efeitos continuam terríveis como era de esperar, com episódios ainda mais artificiais: tanto os ataques violentos, com sangue digital, quanto a interação com os personagens são péssimas, não permitindo que o espectador acredite que aqueles monstros digitais estejam realmente ali. Mas, o enredo é até bem feitinho, dentro da proposta, assim como o esforço do elenco, já com alguma experiência. Robert Carradine, popular em A Vingança dos Nerds (1984) e até esteve em Django Livre (2012), com mais de 100 filmes, atua neste com a fórmula dos estereótipos embaixo do braço, fazendo um vilão manipulador e carismático. Mas, o destaque é, sem dúvida, Katie Savoy. A belíssima atriz tem seu nome associado a episódios de séries de TV e filmes como Palace of the Damned (2013) e Crush the Skull (2015), e já entrou na minha galeria pessoal de atrizes que pretendo observar os próximos trabalhos.
Mesmo com os efeitos ruins, uma baboseira como Sharktopus Vs Pteracuda é até melhor do que se espera – se é que há alguma possibilidade de esperar algo. Merece a recomendação, desde que esteja preparado para as tosquices que verá em cena. Dentro desse universo bagaceira de destruição dos tubarões, é até aceitável pelo que apresenta.