Cinco Bonecas para a Lua de Agosto (1970)

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Cinco Bonecas para a Lua de Agosto
Original:5 Bambole per La Luna d’Agosto
Ano:1970•País:Itália
Direção:Mario Bava
Roteiro:Mario di Nardo
Produção:Luigi Alessi
Elenco:William Berger, Ira von Fürstenberg, Edwige Fenech, Howard Ross, Helena Ronee, Teodoro Corrá, Ely Galleani, Maurice Poli.

Considerado por muitos como um Bava menor – o próprio diretor não gostava dele, considerando-o seu pior filme – Cinco Bonecas para a Lua de Agosto tem melhorado sua reputação com o tempo e respectivas revisões.

Se em seu giallo posterior, Banho de Sangue, Mario Bava comparava humanos com insetos, aqui ele iguala o homem aos pedaços de carne. Não é a toa que as vítimas são penduradas dentro de um freezer, em meio a pedaços de costelas bovinas, prontas para o consumo (a carne de gado, não os humanos, deixar claro).

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Adaptação livre de “O Caso dos Dez Negrinhos”, um dos melhores livros de Agatha Christie, e o mais niilista da carreira da “Dama do Crime”. A premissa é clássica: grupo de pessoas fica isolado numa ilha paradisíaca, enquanto um misterioso assassino vai matando um por um deles.

A desculpa para a aglomeração de pessoas no pedaço de terra idílico seria uma reunião de negócios entre empresários industriais tentando negociar a fórmula de um cientista, o Professor Gerry Farrell (Helmut Berger). Todos acompanhados de suas respectivas esposas.

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George Stark (Teodoro Corrá), o dono da ilha, mandou o iate que levou os convidados de volta ao continente. A intenção é um final de semana de exílio, para que Os empresários e suas belas mulheres não só desfrutem o ambiente, mas principalmente convençam o Professor a vender sua fórmula pra eles.  Há todo um jogo de intenções e falsidades entre os ocupantes da casa. Traições e adultérios, incluindo um romance lésbico do passado, mal resolvido e que vem a tona neste fim de semana. Tudo visto por uma habitante local, uma jovem garota (interpretada por Ely Galleani, de Uma Lagartixa num Corpo de Mulher, Baba Yaga, aqui repetindo seu papel de adolescente chata).

Não demora muito para aparecer os cadáveres, que, na falta de como sair da ilha e lugar apropriado, os mortos vão sendo guardados na câmera frigorífica, pendurados entre as carnes para o consumo.

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Feito a contragosto por Bava, apenas por necessidade de dinheiro, Cinco Bonecas para a Lua de Agosto (título fora da casinha que faz referência a chegada do homem à lua, ocorrida no ano anterior, mas que não tem absolutamente nada a ver com a trama) foi aceito pelo Mestre de última hora, quando o diretor original pulou fora barco no último instante. Realizado em condições adversas, cronograma de filmagem apertado, baixo orçamento (se bem que isso nunca foi um grande problema para ele), roteiro mal desenvolvido e elenco escolhido a revelia do diretor, na verdade a obra serve também como veículo para uma jovem atriz oriunda de comédias, Edwige Fenech, aqui no papel de uma esposa adultera; ela fica posteriormente conhecida como a “Rainha do Giallo”, principalmente de sua colaboração com o então seu cunhado Sergio Martiono (Lâmina Fatal / O estranho Vício da Sra. Ward, No Quarto Escuro de Satã, Todas as Cores do Medo).

Mesmo assim Bava conseguiu imprimir seu toque personalíssimo à obra, que possui um inequívoco toque de humor negro e irônico, realçado pela trilha farsesca de Piero Umiliani. O tom de brincadeira já se faz presente no começo com um falso assassinato, feito para animar os convidados da ilha. Curioso notar também que todos as mortes cometidas aqui são off-screen, só vemos em cena os cadáveres, os assassinatos já consumados. Dizem que Bava optou por isso por não ter tempo de elaborar as cenas de morte – de qualquer forma acaba combinando com clima leve e debochado do filme. E se no livro de Agatha Christie a conclusão era pessimista e completamente niilista, com sabor amargo, a conclusão de Bava, embora também pessimista, é carregada de ironia, bem ao gosto do diretor.

Vanguardista que era, Bava em 1970 não tinha mais interesse na fórmula tradicional do giallo, que ele mesmo configurou em suas obras anteriores (Olhos Diabólicos, Black Sabbath e principalmente, Seis Mulheres para o Assassino), o que explica o tom de quase paródia de Cinco Bonecas, que acabou sendo mal distribuído e fracassou nas bilheterias. Curiosamente no mesmo ano, o estreante Dario Argento, seguindo as pegadas do Mestre, lançou o giallo ortodoxo O Pássaro das Plumas de Cristal, que foi um sucesso estrondoso, popularizando os filmes de suspense à italiana e deixando Bava furioso, acusando Dario de plagiá-lo.

O Caso dos Dez Negrinhos teve várias adaptações para o cinema. A primeira foi O Vingador Invisível (1945), de René Clair, e teve mais de uma dezena de adaptações, incluindo uma que foi distribuída pela Cannon em 1989, mas talvez a melhor de todas seja uma russa de 1987, pelo simples fato de ter a coragem de ser fidelíssimo ao texto amargo de Miss Christie. Ainda temos uma versão indiana, Gumnaam (1965), que foi ‘descoberto’ recentemente após ter uma de suas cenas, um número musical, sendo aproveitada num comercial da cerveja Heinekem, e sem falar no slasher oitentista A Noite das Brincadeiras Mortais (1986), onde um grupo de alunos, isolados numa ilha, são um por um assassinados na data de Primeiro de Abril. E ainda sobre a fórmula de pessoas isoladas em ilha sendo atacadas por um maníaco, temos o representante brasileiro: O Signo do Escorpião (1974), de Carlos Coimbra.

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Disponível em DVD no Brasil, Cinco Bonecas para a Lua de Agosto faz parte do Box “Giallo Vol 3”, junto com outros petiscos (Premonição, de Lucio Fulci, No Quarto escuro de Satã, de Sergio Martino, e Os Passos, de Luigi Bazzoni. Como extra temos um depoimento esclarecedor do pesquisador Fernando Brito. Biscoito finíssimo.

Cinco Bonecas para a Lua de Agosto, longe de ser a melhor adaptação de Agatha Christie, assim como longe de ser dos melhores filmes do Maestro do Macabro, a despeito da falta de suspense e tensão, serve como divertimento rápido e irônico. Provando que um Bava menor ainda é melhor que muita obra de diretor hypado da atualidade.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

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