Os Passos (1975)

3.5
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Os Passos
Original:Le orme
Ano:1975•País:Itália
Direção:Luigi Bazzoni
Roteiro:Luigi Bazzoni, Mario Fanelli
Produção:Marina Cicogna, Luciano Perugia
Elenco:Florinda Bolkan, Peter McEnery, Klaus Kinski, Lila Kedrova, Nicoletta Elmi, Caterina Boratto, John Karlsen, Ida Galli

Afirmar que a década de 70 do século passado parece uma fonte inesgotável de pérolas cinematográficas é chover no molhado. Para aumentar a lista temos Os Passos (Le Orme). de Luigi Bazzoni. Também conhecido como “Footprints”, “Footprints on the Moon” e “Primal Impulse”, este é um giallo pouco ortodoxo, que mescla elementos de ficção-científica com suspense psicológico.

A brasileira Florinda Bolkan, dos clássicos gialli de Lucio Fulci, O Segredo no Bosque dos Sonhos e Uma Lagartixa num de Corpo de Mulher, estrela aqui em uma ótima e intensa interpretação. E se em “Uma Lagartixa…” ela interpretava uma burguesa atormentada por sonhos onde matava sua vizinha, aqui ela uma mulher que tem sonhos recorrentes com… astronautas. E isto é apenas o começo da bizarrice.

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Bolkan interpreta aqui Alice Cespi, uma portuguesa que mora na Itália, que trabalha para uma organização, como tradutora. Ela tem sonhos recorrentes com astronautas tendo problemas na lua, enquanto são monitorados por um misterioso Dr. Blackmann (o lendário Klaus Kinski em uma participação curtíssima). É interessante notar que o filme é colorido e falado em italiano, enquanto os sonhos lunares, a imagem é em preto e branco e falado em inglês, o que aumenta a estranheza.

Se fossem apenas esses os sonhos, que a moça atribui a um filme que viu anos atrás e que a impressionou muito, a coisa toda ficaria sossegada, e talvez não tivéssemos o filme. Porém Alice descobre que passou os últimos três dias “dormindo”. Intrigada com essa amnésia momentânea, ela resolve investigar o que aconteceu nesses últimos dias que sua memória apagou. A única pista que tem é de um postal rasgado que encontrou em seu apartamento, de um hotel em Garma, uma praia localizada no oriente médio (locações feitas na Turquia). E como estamos em um filme e não na vida real, Alice ao invés de procurar ajuda médica ou psiquiátrica acaba indo até a tal praia.

Ao chegar lá, a moça descobre que as pessoas do local afirmam que ela esteve por lá nos dias em que sua mente deu o “apagão”, usando outro nome, o de Nicole. Quanto mais investiga, mais as cartas se embaralham, e o espectador se vê tão perdido no mistério quanto a protagonista. Será que Alice está enlouquecendo? A resposta estaria no passado da protagonista? Seria ela a Nicole que as pessoas encontraram nos últimos dias? Quem é o misterioso Harry que Nicole procurava nos bosques na margem da praia? E, afinal, que os astronautas têm a ver com tudo isso? O mistério se mantém até a cena final, e mesmo com a explicação, restam dúvidas após a projeção. Fazendo com que o público martele o que viu na tela.

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Quando se fala em giallo o que vem a cabeça é um assassino de luvas pretas, facas brilhantes, sangue escorrendo e mulheres nuas, Os Passos dispensa tudo isso. Para começar não há um assassinato para ser desvendado, mas descobrir o que está acontecendo, uma investigação pelas estradas da memória e da sanidade, lembrando mais O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais, do que O Pássaro das Plumas de Cristal, de Dario Argento.

Baseado em um romance de Mario Fanelli (também co-autor do roteiro, junto com Bazzoni, e segundo algumas fontes, também co-diretor não creditado), Os Passos se desenvolve num ritmo lento, que dispensa subterfúgios como violência e nudez, mas que gruda os olhos do espectador no mergulho psicológico, onde a entrega de Florinda Bolkan a sua personagem se torna a grande chave do filme.

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Diretor de poucos filmes, Luigi Bazzoni é lembrado hoje por duas obras: o giallo Um dia Negro (Giornata Nera per L’Ariete / The Fith Cord, 1971), estrelado por Franco Nero, e por Homem, Orgulho e Vingança (também conhecido por aqui com o título disparatado de Django Não Perdoa, Mata), uma ótima versão spaghetti western da obra Carmen, de Prosper Mérimée, estrelado por Franco Nero, Tina Aumont e Klaus Kinski. Bazzoni também dirigiu um dos precursores do giallo: o esquecido La Donna Del Lago, em 1965, logo após os trabalhos de Mario Bava: Olhos Diabólicos (1963) e Seis Mulheres para o Assassino (1964), filmes considerados os pilares deste querido subgênero italiano.

A bela fotografia ficou a cargo do Mestre Vitorio Storatto (O Último Tango em Paris, Apocalypse Now, os filmes do Bertolucci e um vasto etc) e a bela trilha sonora é de Nicola Piovani (Ginger e Fred, Bom Dia, Babilônia, A Vida é Bela etc.).

No elenco, além de Florinda Bolkan e Klaus Kinski, temos as participações de Nicoletta Elmi (a garotinha endiabrada de Prelúdio para Matar), Lila Kedrova (Cortina Rasgada e O Inquilino) e Ida Galli (The Whip and the Body, O Dólar Furado), aqui utilizando seu tradicional pseudônimo inglês: Evelyn Stewart.

Os Passos está disponível em DVD no Brasil, no Box Giallo Volume 3, pela Versátil Home Video, junto com as seguintes pérolas: Premonição (Sette Note in Nero / The Psychic, 1977) de Lucio Fulci, Cinco Bonecas para a Lua de Agosto (5 Bambole per La Luna d’Agosto, 1970) de Mario Bava e No Quarto Escuro de Satã (Il Tuo Vizio è uma Stanza Chiusa e Solo io NE ho La Chiave, 1972) de Sergio Martino, e mais extras apetitosos, ou seja, um Box imperdível.

Os Passos é uma obra original e intrigante que merece ser desbravada. Realmente marcante.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

2 thoughts on “Os Passos (1975)

  • 11/06/2022 em 21:09
    Permalink

    Flkrinda Bolkan dá um SHOW de interpretAÇão.

    Resposta
  • 05/11/2021 em 16:52
    Permalink

    O ponto central do filme pra mim é: “os homens tentam fazer a personagem Alice achar que é louca”. Dessa forma, ela pouco entende sobre sua vida, ela a acha amedrontada e perdida. Ela tá curiosa pra interpretar os fatos da vida dela pra entender o motivo dela ser tão assustada. Ela quer achar um sentido pras coisas. Os astronautas no final, ao recrutá-la, mostra que ela torna-se mais uma mulher que vai se casar, envelhecer e, quando olhar pra trás pra ver como foi a sua vida, não entenderá como ela acabou da forma que acabou. Tô viajando? Não sei, mas essa é uma leitura plausível, não?

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