Trash Fire
Original:Trash Fire
Ano:2016•País:EUA Direção:Richard Bates Jr. Roteiro:Richard Bates Jr. Produção:David Lawson Jr., Lawrence Mattis, Matt Smith Elenco:Adrian Grenier, Angela Trimbur, Fionnula Flanagan, Ezra Buzzington, Leonel Claude, Matthew Gray Gubler, Sally Kirkland |
Se existe algo que realmente me atrai no cinema são os enredos criativos, que fogem do lugar-comum, e não permitem que as ações e a conclusão sejam antecipadas. Quando se percebe um esforço dos envolvidos em contar algo novo, sem buscar influências diretas, e a narrativa tem constantes alterações ao longo da produção, as possibilidades de acerto são muito grandes. Trash Fire, de Richard Bates Jr., é um bom exemplo de uma ideia bem construída e imprevisível, fortalecido pelo humor negro de diálogos teatrais e pela atuação de Fionnula Flanagan.
Owen (Adrian Grenier) é um canalha em relacionamentos. Ele trata a namorada Isabel (Angela Trimbur) com despeito e grosseria, até mesmo nos momentos íntimos, levando-a a questionamentos sobre a continuidade da relação. Sentindo a frieza do parceiro, a garota ainda precisa aturar o modo como ele maltrata o cunhado religioso Caleb (Matthew Gray Gubler), e os amigos de Isabel – um deles, Sheldon (Ray Santiago), é um rosto conhecido dos fãs de Ash Vs Evil Dead. Mas ela tem muito carinho pelo namorado, ajudando-o em seus episódios de convulsão, quando ele é atormentando por imagens de seus pais sendo queimados vivos. O mau humor do rapaz é transmitido para qualquer pessoa que se aproxime dele, como a psicóloga Florence (Sally Kirkland), que chega a cochilar em um dos seus desabafos.
Com diálogos ácidos e humor negro – a cena em que Owen brinca com o Alzheimer de um personagem é de uma sutileza única -, ele precisa urgentemente mudar de atitude, uma vez que a namorada está grávida e extremamente infeliz. Mas, para mostrar que está com a intenção de realmente se tornar um outro homem, Owen precisa levar Isabel até a casa de sua avó Violet (Fionnula Flanagan), alguém que ele não vê há anos, e ainda tentar uma reaproximação da irmã Pearl (AnnaLynne McCord), sobrevivente do incêndio. Parece uma missão fácil resgatar parentes distantes em um momento delicado, porém não é bem assim. Informações do passado emergem, e aquele agressivo Owen passa de vilão para vítima de ocasião e você passa a torcer por suas ações, temendo o caráter de Violet e a estranheza de Pearl.
E é essa mudança narrativa – da comédia de humor negro para um thriller de mistério – que faz de Trash Fire uma boa opção. Se existe algo que realmente não soou bem é a exagerada mudança de comportamento de Owen, que passa a agir até com gentileza, ajudando a avó num possível problema de encanamento. O Owen do começo agiria com sarcasmo sobre a situação e ignoraria a senhora, mesmo sendo parente. O longa traz bons momentos de tensão como a da cobra na privada e o último e explosivo ato, levando o espectador a torcer por um final sem teor trágico, mesmo sabendo de sua inevitabilidade. Tudo levará a um corte abrupto e surpreendente, justificando sua posição entre os melhores de 2016. Recomendado!