Pazúcus – A Ilha do Desarrego (2017)

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Pazúcus – A Ilha do Desarrego
Original:
Ano:2017•País:Brasil
Direção:Gurcius Gewdner
Roteiro:Gurcius Gewdner
Produção:Gurcius Gewdner e Cavi Borges
Elenco:Marcel Mars, Gurcius Gewdner, Priscilla Menezes, Lígia Marina, Lara Albretch, Amexa, Cláudia Borba, Magnum Borini, Daniel Villaverde, Flávio C. Sperlling.

O enfant terrible do cinema independente brasileiro ataca novamente! Gurcius Gewdner soltou o longa metragem Pazúcus – A Ilha do Desarrego, sua última estripulia cinematográfica. O diretor não só continua o universo de seu último trabalho (o curta Bom Dia Carlos, que por sua vez era um segmento do longa A Percepção do Medo), mas o expande, numa grande experimentação estética, estilística, escatológica e completamente fora do convencional.

Aqui temos novamente, saído diretamente do curta supracitado, Carlos (novamente interpretado por Marcel Mars), caminhando pelas ruas e sofrendo de terríveis dores abdominais, vomitando gosmas coloridas e fezes por todos os lados. Temos de volta também o psiquiatra de Carlos (novamente interpretado por Marcel Mars, repetindo seu visual inspirado no doutor malucão de A Cat in the Brain de Lucio Fulci), que fica delirando em off, fazendo caras e bocas.

Desta vez Carlos é atormentado não por vozes em sua cabeça, mas por suas fezes que conspiram em suas entranhas (para a personificação dos excrementos, se usa aqui rústicos bonecos de papelão).

Temos também um casal de histéricos que vão passar o fim de semana no meio do mato, na ilha de Pazúcus, são eles Omar (o próprio Gurcius) e Ofélia (Priscilla Menezes, que entrou na onda e entregou uma interpretação tão exagerada quanto a do ator/diretor Gurcius). Essa trama paralela é uma homenagem ao cultuado horror ecológico australiano Long Weekend (1978) de Collin Eggleston.

Temos aqui também uma ameaça apocalíptica, Pazúcu, uma deusa da floresta (Lígia Marina, que também participou do interessante curta Ultima Puella (2017) de Jota Bosca, que satiriza os slashers movies), pessoas dançando na floresta, pessoas dançando na praia, gente cheirando cola (Daniel Villaverde), entre outras insanidades.

A abertura de Pazúcus – A Ilha do Desarrego, com seu providencial aviso de perigo para gestantes e epilépticos graças as sua edição caótica, já diz a que veio: em uma explosão de cores, vemos gângster sendo perseguidos por um agente, todos usando máscaras de papelão, como se fossem rostos de fezes. Esqueçam a lógica e se entreguem ao delírio.

Inserido no filão da gorechanchada (chanchadas com elementos de sexo e gore), do qual Gurcius se insere com outros cineastas independentes brasileiros, como seus parceiros de inúmeros “crimesPetter Baierstorf e Cesar ‘Coffin’ Souza, Pazúcus – A Ilha do Desarrego poderá levar o cinéfilo mais tradicional ao pânico, a ponto de considerar o filme uma afronta. Gurcius destrói a dramaticidade convencional, a linearidade e prima com o despojamento ao filmar (cuidado, não confunda despojado com descuidado). Por exemplo, em uma sequência vemos o personagem Omar gritar que há um tubarão na praia. Quando a câmera vira para a água, teremos então um rapaz fazendo micagens, simulando ser o peixe – isso não é por falta de recursos, mas a negação de usar truques em busca de realismo. Gurcius nos nega essa ilusão. E lembra também o curta de Nosferatu no Brasil (1971) de Ivan Cardoso (cineasta com quem Gewdner manteve parceria por algum tempo) – neste curta temos o poeta Torquato Neto, como o vampiro de sunga e capa caminhando pelas praias cariocas, que começa com o letreiro: “onde se vê dia, veja-se noite”.

Gurcius Gewdner, que em sua tresloucada filmografia tem títulos como Mamilos em Chamas (um filme de bonecos, com diferencial de que usa coelhos mortos como fantoches), criou aqui sua magnum opus, seu delírio maior. Com uma explosão de influências de filmes e cineastas que o inspiraram, além de Long Weekend, temos brincadeira com o clássico A Um Passo da Eternidade, de Fred Zimmerman, além de homenagear caras como Joe D’Amato, Jesus Franco, John Waters, Shuji Terayama, Dusan Makavejev, José Mojica Marins, entre muitos outros. A trilha é uma atração à parte, colcha de retalhos pop que incluem Rakta, The The, Tangerine Dreams, Ray Coniff e um vasto etcetera. O grande senão fica por conta da duração excessiva, tem quase duas horas de duração, talvez esse seja mais uma provocação desse cineasta iconoclasta. Gewdner aqui se mostra um descendente dos experimentalismos do nosso udigrudi.

Completamente surreal e excêntrica Pazúcus – A Ilha do Desarrego é uma experiência escatológica de terrorismo cinematográfico, que não deve agradar a todos os paladares, mas quem busca algo fora da zona de conforto deve se emaranhar na mata dessa ilha insana.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

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