Raw (2016)

3.2
(6)

Grave / Raw
Original:Grave / Raw
Ano:2016•País:França, Bélgica
Direção:Julia Ducournau
Roteiro:Julia Ducournau
Produção:Jean des Forêts
Elenco:Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Oufella, Laurent Lucas, Joana Preiss, Bouli Lanners, Marion Vernoux, Thomas Mustin, Marouan Iddoub, Jean-Louis Sbille, Benjamin Boutboul, Anna Solomin, Alexis Julemont, Lich Jass, Charlotte Sandersen, Christophe Menier.

“Teve um momento no qual pararam de falar sobre o meu filme e começaram a chamá-lo de ‘o filme mais sangrento já produzido” diz ela.  “Disseram que era um filme feito para chocar, ou um torture porn, mas meu filme não está nem mesmo dentro da mesma família do cinema. Eu comecei a ler manchetes que não faziam o menor sentido. Manchetes dizendo ‘milhares de pessoas desmaiam nos cinemas’. Me desculpe, mas acho uma besteira. É uma pena porque algumas pessoas podiam ficar assustadas em ver o filme, quando poderiam ter aguentado numa boa. E outras pessoas que acabavam esperando por um torture porn vão acabar se desapontando.”

O trecho que abre esta crítica faz parte de uma entrevista que Julia Ducournau, cineasta que literalmente ‘causou’ nos Festivais ano passado, e nem tanto por ter ganho o prêmio da crítica (FIPRESCI) no Festival de Cannes, mas sobretudo por ter causado desmaios em uma determinada sessão de seu longa-metragem no Festival de Toronto em 2016. Embora tal evento tenha soado como uma propaganda não intencional para que um filme talvez restrito ao circuito de arte atingisse maior atenção do público médio, por outro lado tira em parte o grande mérito deste longa ser muito superior a um mero shocker. Então vamos ao filme.

Imagine você, uma jovem mulher nos seus dezesseis anos, virgem e recatada, com uma mãe supercontroladora, que decide até mesmo o que vai no seu prato e que faculdade fará, com uma irmã mais velha já veterana no mesmo curso, tendo ainda que passar por uma pesada semana de trote, com professores no seu pé, sem lugar para dormir direito, e sendo obrigada a comer fígado de coelho cru, cortesia dos veteranos… Pois é, uma barra bastante pesada para alguém que está saindo da adolescência para enfrentar a vida adulta. E olha que eu nem mencionei canibalismo…

Grave (mais conhecido por seu título americano, Raw) é o longa de estreia da francesa Ducournau, que se distancia de seus compatriotas de gênero, como Alexandre Aja e Alexandre Bustillo ao investir muito mais em símbolos do que num gore gratuito, embora fique claro, conforme o filme avança, que ela se mostra interessada em discutir questões relacionadas ao corpo (na montagem que faz paralelos com os corpos dos animais, ou na bela cena na qual Justine conversa com uma enfermeira no ambulatório da faculdade), prestando reverência explícita ao body horror dos primeiros trabalhos de David Cronenberg.

Contando com um mise-en-scène impecável, Ducournau combina com maestria o formalismo estético de uma câmera estática a um naturalismo extremo, com destaque para o trabalho de maquiagem hiper-realista (que não esconde nenhuma mordida, ferida ou arranhão do público) do mago Olivier Afonso, digno de vários prêmios; aí entrando também as atuações do elenco principal, sobretudo da protagonista Marillier, que já em seu primeiro longa consegue transmitir todo o medo e a ansiedade de sua personagem Justine muitas vezes apenas com o olhar. Olhar este que descobre o mundo através do instinto, sem pudores, da atração sexual, do apetite voraz, de seu próprio corpo, de seu próprio lado negro.

Funcionando em vários níveis (da passagem à vida adulta e do que é ser humano) Grave termina com um desfecho elegantemente aterrador, digno dos melhores exemplares, provando não só o talento de Ducournau, como também mostrando que o gênero não deve se privar de cérebros…

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 3.2 / 5. Número de votos: 6

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcus Augusto Lamim

Um seguidor fiel do cinema em todos seus formatos e gêneros, amante de rock e do gênero fantástico, roteirista amador e graduando em química.

4 thoughts on “Raw (2016)

  • 11/09/2022 em 23:51
    Permalink

    Aleatoriamente resolvi assistir Raw. Após vê-lo fiz um questionamento interno sobre os tais desmaios e afins e penso que talvez haja um certo exagero, ou então não consegui captar a atmosfera dessa obra. Na minha avaliação uma obra com seus méritos, porém, não mais do que razoável.

    Resposta
  • 02/09/2017 em 02:13
    Permalink

    Pra mim é o Melhor filme que saiu até agora !
    ” Raw ” obrigatoriamente está na minha coleção !
    Nota : 5 caveiras !
    E a esse marketing escandaloso e mentiroso eu digo o seguinte : ” Raw não é nada disso , é muito mais do que isso ” .

    Resposta
  • 31/08/2017 em 16:56
    Permalink

    Todo filme que foge ao tradicional acho bom… esse fugiu, é uma grata boa surpresa

    Resposta
  • 31/08/2017 em 00:22
    Permalink

    Eu não sabia o que esperar desse filme então vi com a mente aberta, mesmo achando alguns momentos interessantes, foi um filme bem chato e demorado… Cheguei a avançar pra ver se conseguia aguentar até o fim

    Resposta

Deixe um comentário para Luis Henrique Bogo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *