Projeto Almanaque (2015)

4.5
(2)

Projeto Almanaque
Original:Project Almanac
Ano:2015•País:EUA
Direção:Dean Israelite
Roteiro:Jason Pagan, Andrew Deutschman
Produção:Michael Bay, Andrew Form, Bradley Fuller
Elenco:Amy Landecker, Sofia Black-D'Elia, Virginia Gardner, Jonny Weston, Sam Lerner, Allen Evangelista, Gary Weeks, Macsen Lintz

Se não há limites para o que se pode filmar hoje em dia, graças aos avanços tecnológicos e resistência do material de filmagem, o que ainda causa um certo estranhamento é a paciência em manter uma câmera ligada o tempo todo como forma de registro histórico. O estilo popularizado como “found footage” já esteve em todo lugar, até mesmo no Inferno, por que não viajar no tempo e brincar com a Teoria do Caos? Essa é a premissa, embora com enfoque adolescente, do filme de estreia de Dean Israelite, mostrando jovens que descobrem uma maneira de voltar no tempo e resolvem usar o recurso para benefício próprio.

No ponto de partida do longa, o espectador conhece a capacidade produtiva de David Raskin (Jonny Weston), um jovem que acabou de ser aceito para uma bolsa de estudo parcial na MIT, mas que não possui dinheiro para completar os estudos. Enquanto sua mãe, Kathy Raskin (Amy Landecker), já planeja a venda da casa, ele e a irmã, Christina (Virginia Gardner), encontram uma velha câmera de vídeo, com uma fita que traz gravações do aniversário de sétimo ano de David, data que foi marcada pela morte do pai deles num acidente de carro. Nas filmagens, eles notam no reflexo do espelho a aparição de um David atual, intrigando-os a tal ponto que a dupla envolve os amigos Adam Le (Allen Evangelista), Quinn (Sam Lerner) e, posteriormente, Jessie (Sofia Black-D’Elia) no mistério, partindo para uma investigação dos arquivos que estão no porão, com esboços dos projetos que o pai desenvolvia.

Escondido numa porta secreta, eles encontram o protótipo do “Projeto Almanaque“, que trata de teorias sobre deslocamento através do tempo. David e os amigos constroem a máquina, e logo começam a experimentar a aventura. Inicialmente, com o tempo reduzido, eles fazem marcas que surgirão no futuro, e aproveitam para ir bem nas provas, ganhar dinheiro na loteria e até se vingar da garota que cometia bullying com Jessie. Tudo caminha bem para o grupo, que até viaja para o festival do Lollapalooza, de três meses antes, mas as mudanças que promovem começam a afetar o presente. Como David é apaixonado por Jessie, ele decide voltar sozinho para o festival para corrigir uma fala mal utilizada, e, apesar do relacionamento fluir como desejava, pessoas começam a se ferir e até morrer por conta dessas mudanças, em um efeito dominó.

Pode-se citar como exemplo dessa “bola de neve“: um carro de brinquedo que foi usado para teste e gerou um blecaute que não estava programado. A escuridão fez com que o principal jogador de basquetebol da cidade sofresse um acidente e quebrasse a perna. Com a perda do campeonato, famílias foram abaladas, incluindo o pai do próprio jogador, que acaba causando um acidente aéreo…David fica alucinado em tentar resolver os problemas, mas cada viagem no tempo amplia ainda mais as alterações do presente e a discórdia dos amigos. Essa brincadeira de ir e vir, mudar e viajar novamente, dão o tom da produção, divertindo principalmente o público adolescente, pelo envolvimento de jovens apaixonados e música.

Se as situações enfrentadas são interessantes – como toda viagem no tempo sempre promove -, por outro lado, não é possível ignorar a péssima escolha do formato do longa. A câmera que se mantém ativa para registro de conversas informais e até para momentos bobos como a procura pelos projetos do pai ou quando querem mostrar um vídeo para os amigos não se justifica, ficando evidente a intenção em dar ao longa uma narrativa completa em três atos. E ainda que a filmagem fosse convencional, sem esse recurso desnecessário, o enredo, co-escrito por Jason Pagan e Andrew Deutschman, preso a esse universo jovem, parece não sair do lugar, contrariando a proposta inicial de viajar no tempo. David, que aparentava uma inteligência acima do normal no começo, encontra a solução mais frágil e ingênua dentre todas as possíveis, como se ele não conhecesse adequadamente as consequências da Teoria do Caos.

Com toda essa falha visível, ainda assim Projeto Almanaque tem uma força suficiente para divertir. Não está entre os grandes destaques desse subgênero da ficção científica – para isso, precisaria voltar no tempo e corrigir alguns erros estruturais -, mas também não incomoda o bastante para ser considerado tempo perdido.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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