Hex
Original:Hex Ano:2018•País:EUA Autor:Thomas Olde Heuvelt •Editora: DarkSide Books |
O período da Caça às Bruxas se estendeu entre os séculos XV e XVIII, tendo chegado ao seu auge no século XVII. Dezenas de milhares de pessoas foram executadas, mulheres sendo a esmagadora maioria. Esse foi o destino de Katherine Van Wyler, em 1636, no local onde hoje fica a cidade americana de Black Spring. Acontece que Katherine não deixou a cidade depois de sua morte, e assombra o local desde então. E a única opção dos moradores do lugar, hoje, é conviver com a bruxa.
Black Spring é palco de HEX, livro do holandês Thomas Olde Heuvelt, lançado no Brasil pela DarkSide Books neste ano. Descrita por Stephen King como “brilhantemente original”, a história trata de uma cidade amaldiçoada. Katherine, com olhos e boca costurados e correntes prendendo seus braços, não pode sair de Black Spring, mas os moradores do lugar também não. Quem se atreve a passar muito tempo longe da cidade é acometido por um desejo suicida incontrolável. Assim, quem nasceu ou se mudou para lá não pode aspirar por mudanças muito significativas. Uma viagem de um mês pela Tailândia? Nem pensar. Um emprego em outro estado? Não nessa vida.
Os moradores de Black Spring também fazem o possível para evitar que novas pessoas se estabeleçam na cidade. Forasteiros são bem-vindos, desde que para breves passeios. E, quando eles estão na cidade, toda uma força-tarefa é preparada para esconder Katherine onde quer que ela resolva aparecer. Para facilitar a vida de todo mundo, existe a HEX, que vigia os passos da bruxa todo o tempo. Os moradores colaboram através do HEXapp, um aplicativo que mostra onde Katherine está. Isso tudo é necessário porque, ainda que a convivência seja relativamente pacífica, a bruxa jamais pode abrir os olhos, ou algo muito, muito ruim vai acontecer em Black Spring. Mas, o que?
O grande trunfo de Heuvelt em HEX é saber trabalhar o medo que paira sobre Black Spring todo o tempo, ainda que a cidade pareça, a princípio, lidar muito bem com sua bruxa de estimação. O livro começa apresentando a família Grant – pai, mãe, dois filhos adolescentes em uma perfeita imagem da propaganda de margarina. Quando Katherine aparece na casa da família, ninguém se desespera, todos já sabem bem o que fazer: basicamente, ignorar a bruxa e jamais tocá-la. O último incidente com mortes na cidade aconteceu na década de 1960, quando uma equipe de médicos tentou abrir os olhos de Katherine, então por que se preocupar? Mas Black Spring está preocupada todo o tempo. A cidade é um caldeirão prestes a entrar em ebulição, e basta um erro, uma travessura de um grupo de adolescentes para tudo sair dos trilhos.
HEX é uma análise do comportamento humano. Dizem que devemos estudar nossa história para que ela não se repita, mas a verdade é que a história é cíclica. Black Spring desenvolveu tecnologias que ajudam seus habitantes a conviver da melhor forma possível com seu problema, mas, na primeira oportunidade, voltam a ser as mesmas pessoas guiadas pelo medo e pelo fanatismo que queimaram as bruxas em 1600. Heuvelt entrega julgamentos populares, pessoas presas em condições sub-humanas, flagelamentos públicos, linchamentos, depredações, e apresenta personagens que vivem a vida culpando a influência de Katherine por suas ações, sem jamais cogitarem se responsabilizar por seus atos. E o mais medonho é perceber que a vida real é exatamente assim.
Heuvelt tem uma escrita fluida e cativante, mas se perde um pouquinho no final da história, deixando as descrições mais detalhadas de lado e jogando cenas caóticas nas páginas do livro. Isso não prejudica realmente o resultado final, e até faz nos colocar no lugar das personagens e pensar que, depois de passar por este cenário, seria difícil lembrar de tudo o que aconteceu, e provavelmente teríamos apenas flashes de memória. HEX se encerra com uma cena devastadora, que deve ficar impregnada por um bom tempo na mente dos leitores.
Entenda um pouco mais da visão de Thomas Olde Heuvelt na entrevista que fizemos com o autor, aqui!
De forma geral é uma ótima leitura, a prosa do Thomas Olde Heuvelt é muito boa e a história é pouco convencional. Sinceramente, não senti afeição por nenhum dos personagens e a trama demora a desenvolver. Ficamos naquela do “agora vai” e nunca ia. Contudo, nas últimas 100 páginas do livro é prender a respiração e ir numa tacada só. A conclusão é incrivelmente perfeita. HEX é na verdade o livro mais recente publicado do autor, vamos ver se a Darkside, com o seu padrão de qualidade diferenciado, publica outras obras do Thomas Olde Heuvelt.
Livro muito bom. Interessante a narrativa da involução do comportamento humano. A bruxa se torna o de menos.
Vale a leitura.