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Disque M para Matar
Original:Dial M for Murder
Ano:1954•País:EUA
Direção:Alfred Hitchcock
Roteiro:Frederick Knott
Produção:Alfred Hitchcock
Elenco:Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson, Patrick Allen, Robin Hughes

Mark: “Como você foi capaz de descobrir?”
Inspetor: “A primeira pista veio por acidente.”

Hitchcock buscava o crime perfeito. Imaginava que uma pessoa dotada de frieza e inteligência seria capaz de organizar e colocar em prática um violento assassinato, sem que ela fosse descoberta. Mas, era vencido por deslizes e também por um contraponto audaz, sempre presentes em seus enredos de mistério. Esse embate entre o criminoso e um inspetor insistente alimentou muitos de seus trabalhos como o excepcional Disque M para Matar (Dial M for Murder, 1954), baseado na peça de Frederick Knott, exibida em 1952. Tanto o texto original quanto esta primeira adaptação apresentam uma trama de surpreendentes reviravoltas, com elenco reduzido e cenário quase único, tendo como principais méritos as atuações convincentes e os diálogos bem estruturados.

Em apenas três tomadas, em menos de dois minutos de filme, o diretor já deixa claro do que se trata: Margot (Grace Kelly) está empolgada com o retorno para Londres do escritor Mark Halliday (Robert Cummings), com quem mantém um relacionamento não muito discreto, envolvendo até encontros em sua própria morada. Ela conta ao amante que seu marido, Tony (o espetacular Ray Milland), um ex-jogador de tênis, está agindo diferente, com mais solicitude e compaixão, e que ela pretende contar logo para ele seu interesse em oficializar o novo relacionamento. Com a chegada do marido, a terceira peça desse jogo de traições, há a sugestão que ela e o amigo escritor saiam sozinhos naquela noite, e que Mark aceite participar de uma “festa para homens” no dia seguinte.

Sozinho, Tony telefona para um velho conhecido do tempo dos estudos, Charles Swann (Anthony Dawson), fingindo interesse na compra de um veículo. No mesmo momento, o rapaz vai visitá-lo para concretizar o negócio, quando, na eloquência, o marido traído apresenta sua razão principal para o encontro: sabendo de suas ações secretas, com passagem pela prisão, Tony lhe oferece o dinheiro que usaria para comprar o carro para lhe propor o assassinato de Margot. O crime deverá acontecer na noite seguinte, parecendo uma invasão de residência para realizar um roubo, uma vez que ela estará sozinha no local e Tony terá o álibi perfeito, em companhia de Mark em um jantar. Os problemas já começam quando o relógio de Tony pára e ele não consegue ligar para a esposa exatamente às 23 horas, conforme havia combinado; e vão se completando com outras situações inesperadas que terão que ser remendadas pelo idealizador.

Tony, numa excelente interpretação de Ray Milland, consegue encontrar os caminhos certos, mesmo com os piores obstáculos. Ele constrói seu plano à medida em que as surpresas vão acontecendo, com um pensamento ágil e convincente, expresso em falas acertadas e soluções imediatas. Seu antagonista, o inspetor Hubbard (John Williams), fica atado à razão apresentada sem encontrar meios de se libertar, agindo como uma marionete sob o comando do marido inteligente, com as melhores cartas na manga. Detalhes passam a servir aos dois lados, como a carta problemática que Margot não quis se livrar e, o principal, a chave que servirá de acesso para Charles invadir a morada. Dois elementos que serão a força do cabo de guerra da narrativa, pendendo a cada momento para um lado.

Único filme de Hitchcock filmado em 3-D, Disque M para Matar é um thriller fortalecido pelo elenco e diálogos. O maestro do suspense queria Deborah Kerr como protagonista, e pensava em Grace Kelly para seu outro mistério, Janela Indiscreta, filmado no mesmo ano. Com Kerr com a agenda cheia, Kelly acabou por fazer os dois filmes e se saiu muito bem em ambos. Em um misto de paixão e ingenuidade, Margot é expressa como uma sobrevivente, constantemente manipulada pelo marido. Sua confusão de sentimentos, bem orquestrados pela atriz, é expressa na fala: “O que está acontecendo comigo, Mark? Não estou sendo capaz de sentir nada.“. Tony faz uso dessa incapacidade de reação da esposa para mudar seu plano e ainda assim conseguir o que quer.

Nesse jogo de personagens tridimensionais, cabe a Mark pensar como um escritor de mistérios na busca de uma alternativa que possa salvar a amada. Não nota uma intenção muito favorável por parte de Tony, já satisfeito com o resultado obtido. Contudo, o plano demonstra sua fragilidade quando o próprio criador é vítima de sua própria armadilha, confeccionada por acidente. O personagem de Robert Cummings executa com elegância e desespero um contra-plano de emergência, como uma cartada final para impedir que uma injustiça aconteça. Conta com a sorte e a perspicácia do investigador, consciente de que o realizador do crime pode não conhecer seus próprios erros.

O crime perfeito de Hitchcock quase acontece, e o diretor apresenta um excelente dinamismo da câmera, quase que presa a um mesmo ambiente. Tomadas como a do estrangulamento e a cena da tesoura na queda do corpo são capazes de arrepiar o espectador que já conhece o enredo. Embora tenha a inspiração numa peça teatral, o passeio da câmera, por diversos ângulos do apartamento e por outras locações de estúdio, permitem que a narrativa se construa na linguagem cinematográfica sem forçar sua adaptação ou apresentar vestígios de sua origem.

Tendo à mão as ferramentas necessárias, como elenco, texto interessante e ambientação adequada, Alfred Hitchcock fez em trinta e seis dias de filmagem um thriller inteligente e inesquecível. Sua adaptação traria similares, refilmagens e referências, mostrando que o diretor sabia discar o M de maneira definitiva para o cinema, restando apenas a perpetuação de um ato criminoso sem falhas.

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Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 7

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3 Comentários

  1. Baita filme. Entra fácil no meu Top 5 do diretor.

  2. Filmaço! Por mais resenhas dos filmes do Hitchcock.

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