A Maldição de Sharon Tate (2018)

4
(8)

A Maldição de Sharon Tate
Original:The Haunting of Sharon Tate
Ano:2018•País:EUA
Direção:Daniel Farrands
Roteiro:Daniel Farrands
Produção:Eric Brenner, Daniel Farrands, Lucas Jarach
Elenco:Hilary Duff, Jonathan Bennett, Lydia Hearst, Pawel Szajda, Ryan Cargill, Bella Popa, Fivel Stewart, Tyler Johnson, Ben Mellish

Em 1966, a atriz Sharon Tate teve uma estranha experiência, possivelmente onírica. Na época, ela namorava Jay Sebring, que havia comprado uma casa em Benedict Canyon, pertencente ao diretor e roteirista Paul Bern (1889–1932). Numa madrugada escura em que o namorado estava em Nova York, com apenas uma iluminação baixa ao lado da cama, ela teria visto em um canto do quarto um homem a observando silenciosamente. Tate achava que era Bern, que teria se matado no local com um tiro na cabeça na década de 30. Ela desceu até o primeiro andar da morada, e teve outra chocante visão: viu uma pessoa amarrada à escada, com a garganta aberta. Não soube dizer se a vítima era ela ou Jay, mas esse pesadelo a assombrou de tal maneira que ela voltou a lembrar dele numa entrevista a um tabloide em 1968. Há quem acredite que a atriz tenha tido uma premonição de sua trágica morte, ocorrida em 8 de agosto de 1969, vítima dos seguidores de Charles Manson.

Seja um sonho premonitório ou apenas coincidência, a declaração de Tate motivou o cineasta Daniel Farrands (diretor de documentários e do filme The Amityville Murders, 2018) a desenvolver o enredo de sua própria versão dos acontecimentos, com o apoio executivo de Hilary Duff, que ainda assumiu o papel da protagonista. Ainda que o título transmita um conceito sobrenatural, a proposta é mostrar uma Sharon Tate aterrorizada em seus últimos dias por diversos sinais de que algo estaria prestes a acontecer. Essa insanidade da esposa de Roman Polanski não agradou a irmã dela, Debra Tate, que abominou este e outros filmes (o do Tarantino também?) desenvolvidos nos últimos 50 anos para “celebrar os assassinos“.

Após uma citação a Edgar Allan Poe (Is all that we see or seem but a dream within a dream?), o longa começa com a tal declaração de Sharon durante uma entrevista, com imagens alternadas do que poderia ser sua visão. Quatro dias antes de ser vítima dos assassinos, Sharon (Duff) e seu ex Jay Sebring (Jonathan Bennett) chegam a Cielo Drive, número 10050, em Benedict Canyon, para encontrar o casal Wojciech Frykowski (Pawel Szajda) e a socialite Abigail Folger (Lydia Hearst), que lamentam a ausência de Polanski, em Londres para gravar seu próximo filme. Grávida de oito meses, ela aos poucos começa a sentir que algo muito ruim irá acontecer a todos ali presentes, fazendo questionamentos sobre destinos pré-traçados, realidades alternativas e a possibilidade de alterar acontecimentos.

A primeira mensagem surge com a vinda de um homem à porta perguntar sobre o proprietário anterior, Terry Melcher, que depois alugaria a mansão para Polanski. O estranho, de nome Charles, trazia um envelope que continha a gravação de uma música de sua autoria, anteriormente negada pelo produtor. O segundo incidente envolve a morte de um cão que vivia na propriedade (Prudence não foi morto pelos seguidores), além da aparição de duas das garotas que posteriormente invadiriam o local. Silhuetas, aparelho de som que começa a funcionar sozinho, e palavras como “pig” (porco) e “Helter Skelter” passam a se tornar rotina à medida em que a data fatídica se aproxima. Farrands, então, propõe uma brincadeira de mau gosto para o espectador ao possibilitar uma segunda chance para o grupo, numa luta sangrenta pela sobrevivência, como se fosse possível alterar a roda do destino.

Entre as inúmeras liberdades criativas do roteiro do próprio Farrands, talvez a pior seja mostrar uma Sharon Tate desequilibrada. Se a intenção era fazer uma homenagem a uma das atrizes mais belas que Hollywood já conheceu, a escolha de Hilary Duff para o papel, em suas limitações expressivas, já evidencia a principal falha. Além de não ser tão bela e carismática quanto Tate, ela não convence nem como mulher apaixonada, nem como uma pessoa aflita às portas de um encontro fatal. E o roteiro ainda ignora pontos importantes do episódio como o último telefonema de Polanski e o jantar no El Coyote pelo grupo na noite do crime.

Constrangedor em seu retrato do período, The Haunting of Sharon Tate tem o aspecto de uma fanfic, uma caricatura de um dos momentos mais brutais da história de Hollywood. Uma assombração para os familiares dos envolvidos, o filme poderia figurar entre os exploitations da década de 70, sem a diversão do período, transparecendo somente oportunismo grotesco e muito mau gosto.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4 / 5. Número de votos: 8

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “A Maldição de Sharon Tate (2018)

  • 22/05/2022 em 18:39
    Permalink

    Boa resenha. O filme é realmente muito fraco.

    Resposta
  • 23/07/2020 em 14:26
    Permalink

    Que história é essa que a Debra Tate não concordo com Era Uma Vez…Em Hollywood de Quentin Tarantino.
    Ela gostou tanto do jeito que Tarantino fez a Share Tate que emprestou as Joias da irmã para a Margot Robbie fazer o papel dela.
    É outra coisa foi lindo o que o Tarantino fez sobre esse assassinato colocou o LIXO da Família Manson em seu devido lugar, foi épico ver o LIXO dó Charles Manson como um figurante de MERDA tendo somente 1 minuto de aparição em Era Uma Vez…Em Hollywood.

    Resposta
  • 05/08/2019 em 18:26
    Permalink

    Façam uma crítica do filme Charlie Says, que saiu recentemente também sobre o caso da mesma diretora de Psicopata Americana, mas de outra perspectiva, achei ótimo e tá até melhor que o do Tarantino e esse aí. Façam, por favor.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *