Amor à Primeira Mordida (1979)

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Amor à Primeira Mordida
Original:Love at First Bite
Ano:1979•País:EUA
Direção:Stan Dragoti
Roteiro:Robert Kaufman, Mark Gindes, Bram Stoker
Produção:Joel Freeman, Melvin Simon
Elenco:George Hamilton, Susan Saint James, Richard Benjamin, Dick Shawn, Arte Johnson, Sherman Hemsley, Isabel Sanford, Barry Gordon, Ronnie Schell, Bryan O'Byrne, Michael Pataki

No mesmo ano do lançamento de Drácula, de John Badham, o Conde também era visto de uma maneira mais bem-humorada, em mais uma daquelas produções que marcam a infância do tempo do VHS e das exibições em Super 8. Desta vez, o vampiro está partindo para buscar a amada em Nova Iorque, após mais de setecentos anos de reclusão em seu castelo na Transilvânia. Amor à Primeira Mordida foi dirigido por Stan Dragoti (de O Homem do Sapato Vermelho, 1985), a partir de um roteiro de Robert Kaufman, inspirado em um argumento dele e Mark Gindes. Drácula é interpretado de maneira característica por George Hamilton, que depois apareceria em O Poderoso Chefão III (1990).

O conceito de fazer uma comédia com o personagem clássico veio de uma brincadeira de Hamilton, ao imitar Bela Lugosi para Kaufman. E juntos imaginaram como Drácula agiria se estivesse na Nova Iorque do final dos anos 70. Por U$100 mil dólares, o roteiro foi financiado, tendo o apoio de Peter Sellers, conhecido de Kaufman. Com um orçamento estimado em U$3 milhões, Amor à Primeira Mordida conquistou U$44 milhões nos cinemas, ocupando a décima terceira posição dos lançamentos de 1979, uma marca considerada muito boa para uma produção independente. Apesar da boa performance, o filme teve uma avaliação mediana, sendo que boa parte dos críticos de periódicos da época não achou o humor tão refinado quanto se pretendia.

Renfield: Eu acho que eles são do governo.
Conde Drácula: Como você sabe?
Renfield: Eles estão usando sapatos.

Nos primeiros minutos do filme, o Conde Drácula recebe a visita do governo da Romênia com uma ordem de despejo, anunciando que o castelo será usado para o treinamento de ginastas como a popular na época Nadia Comăneci. O vampiro aceita deixar sua morada, passando pela multidão enfurecida apenas para destilar uma divertida praga: “Sem mim, a Transilvânia vai parecer Bucareste numa segunda-feira“. Leitor de revistas de moda, ele resolve viajar para Nova Iorque em busca de uma modelo, com o apoio de seu servo comedor de insetos, Renfield (Arte Johnson). Uma confusão entre caixões, faz com que o do Drácula vá parar num velório no Harlem, enquanto o dele vai para o hotel com Renfield.

Andando pela cidade, o vampiro já sente a diferença no linguajar, comportamento e vestuário, tendo, inclusive, que usar seus poderes contra uma gangue. A cidade de Nova Iorque é mostrada de maneira suja, cheia de gangues e ladrões, além de prostitutas, bancos de sangue e discotecas. Ele logo coloca em prática sua busca pela modelo Cindy Sondheim (Susan Saint James), acreditando que ela seja uma reencarnação de sua amada Mina Harker. O problema é que a garota, extrovertida e cheia de manias, sofre pelo ciúmes de seu psiquiatra e quase-namorado Jeffrey Rosenberg (Richard Benjamin), que, pela coincidência do destino, é um descendente do professor Abraham Van Helsing (na dublagem, é pronunciado “von helsing“), obrigado a trocar de sobrenome por “razões comerciais“.

Alexei Rugalov: Seu morcego sujo! Você mordeu a minha mãe!
Conde Drácula: Qual é o seu nome?
Rugalov: Alexei. Rugalov.
Conde Drácula: Não, Alexei. Eu mordi sua mãe e sua avó!

Enquanto Drácula já conquista o coração da garota desde a primeira mordida (mais duas e ela se transformará oficialmente numa morta-viva), Jeffrey tenta a seu modo provar que se trata de um vampiro e busca meios de matá-lo. Uma das sequências mais hilárias acontece no primeiro encontro entre Drácula e Jeffrey em um restaurante. O psiquiatra fica tentando provar sua teoria de que se trata do vampiro, apelando primeiramente para a estrela de Davi, e depois para o hipnotismo, algo que leva o Drácula a fazer o mesmo. Nessa disputa de tentar levar o oponente ao sono, quem se cansa é Cindy, que acaba abandonando-os no local. Outro momento de destaque acontece no elevador, perto do final, quando Jeffrey está com Cindy nos braços para salvá-la da garra do vampiro, e acaba a energia na cidade, deixando-os presos com outras pessoas.

Dr. Jeffrey Rosenberg: Meu nome é Dr. Jeffrey Rosenberg, e eu quero falar sobre um homem que suga o sangue de outras pessoas.
Tenente Ferguson: Um agiota? Qual é o nome?

Com boas doses de humor, bons aspectos técnicos e destacando George Hamilton e a ensandecida apaixonada Susan Saint James, Amor à Primeira Mordida é uma comédia ingênua, com toques de romance. Ainda que existam seus momentos de romantismo, nos encontros entre os dois (“não bebo…vinho; não fumo….merda“), o tom de humor não apenas dos personagens mas de todos à volta e as constantes piadas em frases bem escolhidas (algumas estão apontadas neste texto) deixam a produção leve e divertida. Numa revisão, aproveitando que o longa pode ser conferido no youtube com a dublagem original, ainda funciona bem e marca uma boa época – principalmente quando tocar a clássica disco “I Love the Nightlife“, de Alicia Bridges), até mesmo para as comédias, sem apelação e bem satíricas.

Há algumas curiosidades que valem a pena conhecer. Por exemplo, a maquiagem de George Hamilton foi feita pelo veterano William Tuttle, que fez a maquiagem de Bela Lugosi em Drácula (31). Aliás, há outras referências ao clássico, principalmente Lugosi, em falas como “Crianças da noite…calem a boca!” (no original, “Crianças da Noite…que música elas fazem!“), e até mesmo o sotaque explorado por Hamilton para remeter ao lendário ator. Arte Johnson (Renfield) também buscou inspiração na performance de Dwight Frye, no filme de 31, principalmente na risada do personagem.

Uma das fontes para a realização desse filme também foi o satírico O Jovem Frankenstein (1974), de Mel Brooks, que mostrou que o terror poderia ser bem parodiado. Após tantas paródias, houve quem imaginasse um retorno de Drácula em 2009, numa espécie de Amor à Segunda Mordida (Love at the Second Bite), que na empolgação de George Hamilton na época, imaginava como seria apresentado o vampiro para a geração Crepúsculo, que, com os hormônios à flor da pele, poderia soar como um contraponto romântico e não carnal. Infelizmente, apesar do que disse o ator, o filme nunca chegou a se transformar em projeto.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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