Nosferatu – O Vampiro da Noite (1979)

4.7
(13)

Nosferatu - O Vampiro da Noite
Original:Nosferatu: Phantom der Nacht
Ano:1979•País:Alemanha, França
Direção:Werner Herzog
Roteiro:Werner Herzog, Bram Stoker
Produção:Werner Herzog, Michael Gruskoff, Daniel Toscan du Plantier
Elenco:Klaus Kinski, Isabelle Adjani, Bruno Ganz, Roland Topor, Walter Ladengast, Dan van Husen, Jan Groth, Carsten Bodinus, Martje Grohmann, Rijk de Gooyer

O respeito ao trabalho desenvolvido por Murnau na década de 20, com o absoluto Nosferatu – Uma Sinfonia do Horror, sempre existiu pelos fãs de Cinema, mas foi Werner Herzog que melhor o representou em 1979. Assim que começou a desenvolver seus trabalhos para o cinema, ainda com os resquícios de sua experiência como soldado na segunda década do século XX e a doença que o acometia, o diretor alemão, assíduo leitor, queria adaptar a obras master de Bram Stoker, Drácula, mas sentiu o peso dos valores que envolviam os direitos autorais. Portanto, fez de seu Conde Orlok, na caracterização aterrorizante de Max Schreck, uma espécie de primo modesto do vampiro da Romênia, trocando nomes, localização (da Inglaterra para a Alemanha) e algumas passagens da narrativa. Enfrentou problemas com a família Stoker, o que fez parte da obra se perder por um tempo, mas deixou registrado o seu personagem na galeria das criaturas noturnas do cinema de horror.

Ninguém melhor que Herzog para refazer a obra de Murnau. Até então especialista em documentários e produções biográficas, como O Enigma de Kaspar Hauser, de 74, o diretor alemão fez um retrato bem intenso do clássico, representando cada cena elaborada por Murnau, sem as lentes de cores fortes, e dando seu toque atmosférico ao vampiro, mantido com residência na Alemanha. Contudo, a melhor devolução ao que fizera o cineasta expressionista é, sem dúvida, o resgate aos nomes dos personagens do livro de Bram Stoker – uma vez que a obra na época já se encontrava em domínio público e Florence Stoker havia falecido. Hutter, Ellen e Knock dão lugares a Jonathan Harker, Lucy e Renfield respectivamente.

Considerando o filme de Murnau como o mais importante da Alemanha, Herzog tratou de fazer de sua versão uma homenagem e não simplesmente uma refilmagem. Talvez por isso sequências emblemáticas tenham sido recriadas fidedignas ao produto original, e a caracterização de seu Drácula seja bem próxima do que foi feito com Max Schreck. E ainda acrescentou cenas, alongou diálogos (aproveitando o uso do som) e explorou de maneira bem conceituada a trilha sonora, ainda que as sombras do Conde não sejam um recurso tão utilizado pelo cineasta como fez Murnau.

Jonathan Harker (Bruno Ganz) trabalha como corretor imobiliário em Wismar, na Alemanha. Ele é informado pelo seu chefe Renfield (Roland Topor) que o Conde Drácula (Klaus Kinski) está em busca de uma habitação na região e ele deve visitá-lo para fins de apresentação de uma possível residência em um lugar abandonado, frente ao local onde Jonathan mora com sua esposa Lucy (Isabelle Adjani). Antes de partir, ele se despede das pessoas próximas, incluindo uma discreta Mina (Martje Grohmann), e segue sua jornada a cavalo até parar em um bar para se alimentar. Ao mencionar o castelo e o Drácula, é alertado pelos locais sobre as maldições que habitam a região – tal qual o filme original.

Ele é recebido pelo Drácula, desde a entrada, que já apresenta sinais de um comportamento animalesco, sem interesse inicial pela moradia. Ao se cortar durante o jantar, percebe que está diante de uma criatura que se alimenta de sangue, tendo seu pescoço ferido pelos dois dentes pontiagudos, para posteriormente encontrar seu caixão no ambiente mais escuro do castelo. Logo o Senhor dos Ratos verá o rosto de Lucy em um pequeno retrato, e partirá numa carroça sobrenatural rumo a Wismar, numa trajetória que inclui o transporte marítimo, e a maldição que acometerá os tripulantes. Desesperado Jonathan terá que descer pela janela com lençóis, com a testemunha do garoto e sua música, e será ajudado pelos ciganos, mesmo que não tenha condições psicológicas para cumprir seu destino.

A chegada do Conde Drácula, acompanhado por uma batalhão de ratos, é bem similar ao filme de 1922. Lucy terá a chance de estudar a natureza de seu inimigo e, percebendo que não poderá contar com o apoio de um incrédulo Dr. Van Helsing (Walter Ladengast), numa caracterização bem inferior ao que o personagem adquirira ao longo de sua jornada cinematográfica, verá que a luz do sol é o seu ponto fraco e que somente a distração poderá impedi-lo de ouvir o galo cantar, mesmo que seja preciso oferecer a sua jugular voluntariamente no processo. A sequência final é um pouco diferente, assim como o que acontece com o corpo do conde, num tom mais pessimista e melancólico, mas a intensidade narrativa é mantida de maneira absoluta.

Desde o uso de múmias no primeiro frame ou o voo de um solitário morcego, Herzog mostra que sabe desenvolver um ritmo macabro e aterrorizante. E explora com sapiência as divisões de classe e como a peste era vista na época, sob o olhar ingênuo e decepcionado de Lucy. Ao perceber que seu marido já está amaldiçoado, ela age sozinha, corajosa e disposta a exterminar o demônio que trouxe mau agouro à comunidade. Além de exuberante, Isabelle Adjani (Possessão, 1981) faz de sua Lucy uma personagem doce e resistente, sedutora e inteligente, através de uma belíssima interpretação. No entanto, méritos devem ser dados à transformação e atuação de Klaus Kinski (de clássicos como Doutor Jivago, 1965) na construção de um monstro repugnante. Seu olhar expressa a mesma voracidade de Schreck, ainda que permita observar e sentir sua própria personalidade.

Tão bom quanto o original, resguardando a importância histórica do primeiro, Nosferatu – O Vampiro da Noite é uma obra essencial para o subgênero dos vampiros. Não deve ser interpretado como um remake puro e simples, mas uma releitura necessária para resgatar o sabor do clássico e aprimorar o que viria a partir de então. Foi lançado no mesmo ano de outras produções com o conde, como Drácula e Amor à Primeira Mordida, com suas respectivas importâncias. Para quem busca uma imersão completa na obra, a Versátil lançou o longa em um box juntamente com o original (este já havia aparecido no box Vampiros no Cinema), além daqueles documentários interessantes que sempre fazem parte da distribuidora. Clássicos necessários para a sua coleção!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Nosferatu – O Vampiro da Noite (1979)

  • 10/02/2024 em 04:42
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    Um dos melhores filmes de vampiros que eu já vi, vai ser difícil o novo remake superar esse aí porém eu confio no diretor e na A24 de que ainda será um ótimo filme.

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  • 05/04/2022 em 23:14
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    Ótimo filme, obrigatório pra quem gosta de Vampiros 🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂🙂

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  • 19/10/2021 em 10:17
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    Tão bom quanto o original.
    Obrigatório!!!

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  • 23/04/2020 em 16:12
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    Um lindo filme de terror.
    Um remake que merece ficar ao lado do filme original.

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