Cinevil – O Terror está em Cartaz
Original: Ano:2020•País:Brasil Autor:Alex Mendes•Editora: Life Editora |
Temas voltados para a religiosidade são comuns no mundo do terror. Há diversos materiais abordando possessões demoníacas, exorcismo e afins. Mesmo assim, sempre aparece algo novo e criativo sobre o assunto. É o caso de Cinevil – O Terror está em Cartaz.
Lúcifer, vulgo O diabo, não precisa mais impelir os humanos a pecarem. Eles são muito bons em fazerem isso sozinhos. Procurando novas formas de se entreter com a podridão da humanidade, conhece Valter, ex dono de um circo falido. Com essa nova parceria e assumindo o nome de “Chefe”, tem a ideia de montar um cinema, mas não um cinema qualquer. Um cinema onde o desejo do cliente estará sempre em cartaz e, lá dentro, seu maior desejo dará lugar ao seu maior medo. O cliente vira protagonista do filme, o filme vira um pesadelo. O pesadelo mais real da sua vida, e também o último.
As melhores almas são as de pecadores, e é necessário não atrair a atenção da polícia. Então o que seria melhor do que um cinema pornô bem no centro da cidade, atraindo infiéis, solitários e tarados? Suas almas são um prato cheio para Lúcifer. E seus corpos, pratos cheios para os ajudantes de Valter e seu “Chefe”.
Ao longo da história, vamos conhecendo diversas figuras que, de um jeito ou de outro, tem seus destinos ligado ao novo cinema. Pessoas com nada em comum entre si, mas que acabam sendo atraídas para o mesmo lugar. Uma psicóloga que também é maratonista, sua cliente que sofreu um abuso no colégio, um entregador, um vendedor de DVDs piratas, um policial moralista e hipócrita. A história de cada uma dessas pessoas é contada superficialmente, enquanto seus pesadelos são descritos em detalhes, de modo proposital.
A dica é: não se apegue a nenhum personagem.
A linguagem é crua e nada rebuscada, o que se adequa perfeitamente ao tom do livro. A narrativa é direta, sem tempo para longos suspenses ou diversas reviravoltas. Desde o começo já sabemos o que acontece naquele cinema e quem é o responsável.
Apesar da premissa inovadora, Cinevil não escapa de alguns clichês. A presença do diabo demanda a presença também de um padre. O clássico padre que perdeu a fé e, é claro, a famigerada luta do bem contra o mal.
Nesse momento, o livro perde um pouco de sua singularidade. Como já dito, a batalha do bem contra o mal é algo sempre presente e, nesse caso, é feita de modo extremamente simples e nada original. O momento de tensão não dura e tudo é resolvido muito rapidamente e de modo um tanto decepcionante. Felizmente, o livro não acaba aí. Para compensar, o desfecho é não só satisfatório, como um tanto surpreendente. Não é algo inédito, mas foi muito bem trabalhado pelo autor, Alex Mendes.
A obra, apesar de direta, traz diversas reflexões sobre o quão longe vai a maldade humana, a fé, e o impacto que o medo tem sobre nossas escolhas e o livre arbítrio.
Cinevil também inova não só no enredo. Todos os exemplares terão o mesmo final, porém, com duas interpretações diferentes. De modo aleatório, o leitor poderá receber o desfecho com a versão mais conservadora ou a mais aberta.