Vem Brincar
Original:Come Play
Ano:2020•País:EUA Direção:Jacob Chase Roteiro:Jacob Chase Produção:Alex Heineman, Andrew Rona Elenco:Azhy Robertson, Gillian Jacobs, John Gallagher Jr., Winslow Fegley, Jayden Marine, Rachel Wilson, Alana-Ashley Marques, Dalmar Abuzeid |
É difícil escrever sobre um filme cuja temática tem, de alguma forma, a ver com alguma situação particular. Parece que o envolvimento com o assunto traz um olhar diferenciado, mais cauteloso e atento, e as chances de apreciação somente circulam entre o “amei” (souberam traduzir exatamente a realidade) e o “odiei” (passaram distante do que realmente acontece). Talvez por essa relação próxima eu tenha nutrido admiração ainda maior por filmes como O Babadook, O Predador e Código para o Inferno, produções que trazem como personagens-mirins garotos com o espectro do autismo. E o mais interessante nessas obras é que todas elas respeitam a condição, abordam de maneira carinhosa – ainda que assustadora – o assunto.
Come Play traz muito de O Babadook em sua essência. Para muitas pessoas que não entenderam plenamente o filme de Jennifer Kent, que trata do monstro como uma simbologia do mundo em que vivem os autistas, pode ser que o trabalho de Jacob Chase seja muito mais fácil de digerir. Como muitas produções desta década (Quando as Luzes se Apagam; Mama, O Espelho…), ela teve suas origens em um curta-metragem. Em 2017, Chase lançou o curta Larry, seu décimo segundo trabalho no formato, sobre uma criatura oriunda de uma história infantil, buscando meios de se libertar para conseguir o que quer. Com o sucesso, foi impulsionado a dirigir seu primeiro longa, Come Play, com uma maior exploração do tema, sem a aparência de um curta esticado.
Nele, o menino autista Oliver (Azhy Robertson) convive numa família que está passando por um processo de separação. Com a dificuldade de se comunicar oralmente, o garoto utiliza um aplicativo no celular para expressar as palavras e formar frases, ainda deixando claro um apreço maior pelo pai Marty (John Gallagher Jr., de Ameaça Profunda, 2020), dos presentes tecnológicos, do que pela mãe Sarah (Gillian Jacobs, de A Caixa, 2009), que esconde algumas verdades do garoto. Ao utilizar o celular para seu vício com os desenhos do Bob Esponja, ele acessa um livro infantil online que traz o solitário e incompreendido personagem Larry, um monstro que busca um amigo verdadeiro.
A partir de então, a criatura começa a se manifestar na morada, usando os aparelhos tecnológicos para sua identificação. Piscar e estouro das luzes e a possibilidade de somente ser visto pela tela de cristal passam a ser comuns na família, afetando até mesmo o pai em seu trabalho e os “amigos” quando as mães resolvem forçar uma noite do pijama. Oliver nem precisa se preocupar muito em alertar as pessoas próximas da aproximação de Larry, uma vez que a criatura, um imenso e cadavérico humanoide, com a pele alva e ausência de pelos, passa a se manifestar não somente na casa, mas por todos os lugares, atingindo a iluminação de prédios e soando alarmes de veículos.
As boas atuações, principalmente do garoto Robertson, são um ponto positivo no longa. É compreensível o estado em que a mãe se encontra, com as dificuldades em simplesmente conseguir que ele olhe nos olhos, ou se expresse normalmente, ainda mais em momentos de crise, o que permite enaltecer a atuação de Jacobs. Mas, todo o elenco está bem, até mesmo o de apoio como o jovem Byron (Winslow Fegley), além do angustiado pai, vivido por Gallagher Jr. Já os efeitos especiais, se não são um primor pelo exagero gráfico, pela pouca exposição e por se tratar de uma criatura oriunda do meio digital, até que funcionam bem.
Assim como O Babadook, Come Play também deixa claro que existe uma mensagem por trás, uma relação ao universo dos autistas e a dificuldade de socialização, ter amigos. Não é profundo e dramático como o longa de 2014, mas tem bons sustos, alguns arrepios e traz boas situações de desconforto. Ao final, aos que lidam com esse mundo mais de perto, a sensação de empatia com o garoto Oliver e sua mãe e a emoção de como tudo termina, são traduzidas em lágrimas.
Amei esse filme! Fez eu sentir um mix de emoções….. Senti medo, empatia, dó, ansiedade, tristeza e alegria….
Filme maravilhoso!
Esse foi um dos melhores, se não o melhor filme de terror do ano. Inclusive, fui assistir A Entidade (Que supostamente era pra ser o filme de terror mais assustador) uns dias depois de assistir esse, e a diferença é gritante. Apesar de ambos os filmes terem “baixo” orçamento, dá pra perceber que Come Play teve um cuidado maior de prender o público, assim como abordar o sobrenatural de forma instigante e criativa, sem precisar de um excesso de jump scares. Filme muito bom mesmo.