Os Novos Mutantes
Original:The New Mutants
Ano:2020•País:EUA Direção:Josh Boone Roteiro:Josh Boone, Knate Lee Produção:Simon Kinberg, Karen Rosenfelt, Lauren Shuler Donner Elenco:Maisie Williams, Anya Taylor-Joy, Charlie Heaton, Alice Braga, Blu Hunt, Henry Zaga, Adam Beach, Thomas Kee, Colbi Gannett, Happy Anderson |
Era óbvio que havia poucas chances de dar certo. Para um projeto que começou a ser desenvolvido pela Fox em 2014, com diversas trocas de roteiristas e envolvidos, até finalmente passar ao status de pré-produção no início de 2017, com as filmagens acontecendo entre junho e setembro desse mesmo ano para uma estreia sugerida para abril de 2018, e ele só chegar aos cinemas em 2020, é bastante estranho. Ainda mais quando, durante a pós-produção e análise das cenas feitas, percebe-se que o resultado está muito distante do aceitável no universo X-Men. Problemas com os efeitos especiais, com a escolha do elenco – e aqui inclui o ator brasileiro Henry Zaga -, e com algumas decisões do roteiro de Josh Boone e Knate Lee deram à produção o caráter de amaldiçoada. Essa era a ideia inicial de Boone mesmo, fazer uma versão X-Men de terror, a partir do sucesso de It – A Coisa, que impulsionou a produtora a cortar cenas e dar ao filme um tom mais sinistro, assustador, fazendo uso maior de efeitos práticos e acrescentar alguns jumpscares.
Assim, os cortes exigiram adições de cenas, uma vez que o trailer entregava realmente um filme de horror, o que empurrou Os Novos Mutantes para uma estreia em 2019. A Fox tratava o longa como uma mistura de O Clube dos Cinco com A Hora do Pesadelo 3, conforme sentenciou o CEO da produtora, Stacey Snider: “trata-se de um filme de casa assombrada com um bando de adolescentes hormonais“. Mais da metade do produto final, aquele que iria estrear em abril de 2018, precisaria ser refeito nessa perspectiva. Havia um receio de que esses adiamentos sugerissem que o filme está ruim, como aconteceu com a nova versão de O Quarteto Fantástico, embora a culpa deste tenha caído nos colos do diretor Josh Trank.
Quando a Disney comprou a Fox, mais um adiamento e sem data para as cenas que seriam refeitas. No entanto, Boone disse que não fora necessário voltar a gravar e que sua participação no estúdio foi somente para tratar dos efeitos especiais e da edição. Diferente da Fox, a Disney não se empolgou tanto com o material visto e não imaginava que poderia sair dali uma produção que traria retorno pela bilheteria, tanto que nem fez questão da especulada cena pós-crédito com o Sr. Sinistro, na interpretação sugerida de Antonio Banderas. Além dessa bagunça toda, ainda restava a questão sobre se devia ou não associar diretamente o filme ao universo X-Men, mas, de qualquer forma, era um terreno perigoso: dissociar poderia trazer reclamações de fãs dos mutantes; e uma associação exigiria um cuidado maior com as referências.
Dentro desta tempestade nos bastidores, o longa chegou aos cinemas brasileiros no dia 22 de outubro, em meio à pandemia. Difícil avaliá-lo (e qualquer outra produção) pela baixa bilheteria, mas as críticas espelharam todos os problemas. Se Os Novos Mutantes estivesse estreado lá nos confins de 2018, com essa produção atual, talvez pudesse empolgar mais. Anya Taylor-Joy já atrairia por seus papéis em A Bruxa, Fragmentado e O Segredo de Marrowbone; Maisie Williams ainda nem teria se encontrado com O Rei da Noite; Stranger Things ainda aparentava um inevitável sucesso com a primeira temporada; já Alice Braga é simplesmente Alice Braga em qualquer época. Porém, muitos destes, à exceção de Taylor-Joy, que está sensacional em O Gambito da Rainha, e a já mencionada Alice Braga, já enfraqueceram seus holofotes.
Após algo poderoso e devastador destruir a tribo de Dani Moonstar (Blu Hunt, de Os Originais) e matar seu pai – em uma participação ruim de Adam Beach -, ela é recolhida pela Dra. Reyes (Braga) a uma instalação isolada, um antigo hospital, junto com outros jovens considerados especiais. Com câmeras em todos os cômodos, chega a ser estranho o ambiente não possuir outros funcionários além da doutora, que o protege com um escudo de energia para evitar fugas. Os pacientes dessa clínica secreta possuem poderes e personalidades distintas. Além de Dani, que ainda precisa descobrir o seu diferencial através de testes e coletas de sangue, há ali a licantropa Rahne (Williams), que terá uma boa relação com a nova participante; a intragável e habilidosa Illyana (Taylor-Joy), cujo braço direito se transforma numa fonte de poder; o ferido e voador Sam (Charlie Heaton, de Stranger Things); e o tocha-humana Roberto (Zaga).
Participando de sessões em grupo para que consigam controlar seus poderes, com a promessa de que a estadia ali é temporária até estarem aptos a fazer parte da sociedade, aos poucos o grupo de jovens apresenta seus problemas particulares, envolvendo episódios traumáticos que trazem ao roteiro de Josh Boone e Knate Lee outros subtextos como pedofilia, obsessão religiosa e tortura física e psicológica. É claro que são esses distúrbios que justificam a presença deles ali, mas acabam dando à trama muita gordura, sem a chance de explorar devidamente todos. Pode-se citar como exemplo o passado, com marcas profundas, de Rahne, que, embora compreensível, não é suficientemente apresentado.
Esta mesma que, em dada cena, está assistindo a série Buffy, a Caça-Vampiros na sequência em que a bruxinha Alyson Hannigan beija Amber Benson, como se o filme precisasse justificar o interesse futuro da garota por Dani – dependendo do modo como você interpreta isso, há grande chances que você identifique sinais de homofobia no roteiro: ora, “ela beijou a garota nova porque aprendeu na TV.“. Já a relação com a pedofilia é trazida na pele de homens risonhos que atacaram Illyana e a fizeram ser amarga ao ponto de promover uma vingança contra os interesses de Roberto, o que não justificam a raiva visível por Dani. Podia ser até o oposto pois antes de Dani evidenciar seus poderes, Roberto havia insinuado que ela pudesse ser ninfomaníaca. E esse roteiro, de mensagens sociais contra a pedofilia, estranhamente traz sequências em que as jovens – consideradas adolescentes de 16 anos – são vistas no chuveiro, envoltas pelo vapor, com a simples desculpa de mostrar a marca que Rahne possui nas costas. Questionável.
O grande vilão de Os Novos Mutantes, além de 70% do roteiro e da afirmação falsa de uso de efeitos práticos, é um imenso urso místico. Vem no rótulo do produto com aquela história de que cada pessoa possui dois ursos dentro de si e tal (tiraram os lobos do ensinamento original). No entanto, na verdade, apesar de sua imponente ameaça no último ato, o animal camufla o real inimigo do longa, que são os próprios internos. Com seus passados traumáticos, de assassinatos e violência, eles confrontam seus medos encarnados pelos poderes de Dani até o embate contra o dela. É o principal ponto positivo do enredo e que funciona na teoria, descartando a realização psicotécnica exagerada do final.
Com tudo isso, vem a questão: e o horror prometido? Os Novos Mutantes não é assustador para ser um filme de terror e nem tem ação suficiente para um de heróis. Esse conflito de identidade é mais um paciente da clínica da Dra. Reyes, que sofre de personalidade dissociativa, sem a possibilidade de realmente se definir. Dentro desse cenário assustador, constrói-se uma incógnita produção repleta de falhas, cujo passado de traumas incorrigíveis conduziu a uma inevitável longa problemático.
O filme atira pra todos os lados e não acerta o alvo principal que é cativar o espectador, se tivesse ido pelo lado do terror puro talvez fosse bem melhor, o diretor queria, mas a fox cortou as asas dele já no começo.
Não é um filme coeso, parece mais uma colcha de retalhos , feito bem nas coxas como dizia minha avó,
Os diálogos são sofríveis e a ação e morna, os efeitos do filme até que não são ruins, diria que são aceitáveis, se levar em conta que já era uma produção b pela fox, na disney acredito que fosse visto como uma produção c .
No cinema não valeu o ingresso e nem o risco infelizmente.
Acho que os dois ursos que vivem dentro de mim são o Ursulino e o Ursulao, la do Pica Pau … um mais burro que o outro!