Stranger Things – 3ª Temporada (2019)

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Stranger Things - 3ª Temporada
Original:Stranger Things - Season 3
Ano:2019•País:EUA
Direção:Matt Duffer, Ross Duffer
Roteiro:Matt Duffer, Ross Duffer
Produção:Rand Geiger
Elenco:Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Noah Schnapp, Sadie Sink, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery, Dacre Montgomery, Maya Hawke, Priah Ferguson, Cara Buono, Jake Busey, Joe Chrest, Catherine Curtin, Andrey Ivchenko, Michael Park

O súbito desaparecimento do pequeno Will Byers (Noah Schnapp) movimentou a sonolenta Hawkins, em Indiana, mas foi apenas o primeiro capítulo de uma série de acontecimentos estranhos que perturbariam um grupo de crianças e seus familiares. A busca por respostas traria ainda mais situações aparentemente isoladas como a chegada da poderosa Eleven (Millie Bobby Brown) e o interesse de cientistas na abertura de um portal de acesso ao apelidado “Mundo Invertido“. Stranger Things estreou em julho de 2016, na Netflix, com um alto índice de aprovação, com elogios ao elenco jovem, ao resgate da outrora “namoradinha da AméricaWinona Ryder, e principalmente pela ambientação nos anos 80, prometendo referências à década de ouro do cinema fantástico. O sucesso despertou a realização de produtos similares, incluindo no pacote a revitalização de It, Uma Obra-Prima do Medo na confecção do elogiado It – A Coisa, além de outras séries e filmes que tentaram recriar o período.

No ano seguinte, já viria a segunda temporada, feita às pressas para aproveitar a juventude dos astros, mas culminando em um trabalho desorganizado, cheio de furos e enfadonho. Em Stranger Things 2, Eleven estaria escondida sob os cuidados do policial Jim Hopper (David Harbour), enquanto Joyce (Ryder) engataria um relacionamento com o divertido Bob (Sean Astin) e os pequenos – Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin), Will (Schnapp) e o desdentado Dustin (Gaten Matarazzo) – apresentariam interesse na recém-chegada Max (Sadie Sink), com o irmão bad boy Billy (Dacre Montgomery). Atormentado por pesadelos que inclui um gigantesco monstro sobre a cidade, Will percebe que as portas para o Mundo Invertido possam ter sido abertas, enquanto mais do passado de Eleven é apresentado, além dos vorazes Demogorgons que parecem ter relação com a passagem.

Sem o mesmo carisma da primeira temporada, ainda que tenha bons momentos de tensão e humor, a segunda temporada serviu para esfriar as expectativas por uma continuidade, e fez os criadores, Matt e Ross Duffer, levarem um tempo maior para apresentar uma nova trama. Desta vez, o enredo poderia ser desenvolvido com mais afinco, sem se prender à necessidade de permanecer na infância dos jovens, explorando novos relacionamentos, referências bem contextualizadas e uma aventura ainda mais sinistra. Stranger Things 3 foi disponibilizado no dia da Independência Americana, 4 de julho, em oito capítulos, rapidamente devorados pelos fãs da franquia, e até mesmo por aqueles que torceram o nariz na segunda temporada, presos novamente ao universo oitentista. Mais dinâmica e interessante, a nova empreitada soube explorar melhor o período e trouxe subtramas mais divertidas e curiosas.

Em 1985, com a proximidade das comemorações da Independência Americana, a cidade de Hawkins é novamente palco de coisas estranhas. A primeira delas é a volta de Dustin, que estava em viagem por cerca de um mês, com a notícia de ter encontrado uma cara-metade, chamada Suzy. Estranhando a aparente desconsideração de seus amigos, Eleven usa seus poderes para movimentar os brinquedos do garoto para assustá-lo numa bela referência ao longa de Spierlberg Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Ele convence os amigos a uma tentativa de contato com a namorada, a partir de um aparelho que desenvolveu intitulado Cérebro. “Lá onde ela mora não tem telefone?“, questiona Max, agora namorada de Lucas. Também estão assumidamente namorando Mike e Eleven para a fúria de seu “paiJim Hopper, que pede distância de 8 centímetros e a ajuda de Joyce para dialogar com os jovens de maneira adequada.

Ao tentar a comunicação com a aparelhagem, Dustin capta mensagens em russo e pede ajuda de Steve (Joe Keery) para decifrá-la. Trabalhando numa sorveteria no shopping, ao lado da ácida Robin (Maya Hawke), ele e a garota o auxiliam no mistério, com a perspectiva de que a mensagem codificada possa indicar um ataque dos russos à América. Enquanto isso, Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton), funcionários do jornal local, iniciam uma investigação devido ao comportamento esquisito dos ratos, que se alimentam de fertilizantes e produtos químicos; e Joyce pede o apoio de Hopper para entender por qual razão os imãs estão perdendo sua força magnética, o que pode indicar alguma movimentação no laboratório local.

Como é de praxe na série, os personagens se dividem em pequenos núcleos investigativos como segmentos de uma antologia, até as narrativas se unirem nos capítulos finais. Desta vez, os subplots funcionam de maneira satisfatória, tendo como fio condutor as ações de uma criatura que começa a ganhar corpo, com o domínio sobre Billy. Remetendo ao clássico Invasores de Corpos, aos poucos, o rapaz começa a formar um grupo de possuídos, contando com o apoio de militares russos como o soldado Grigori (Andrey Ivchenko), que faz a referência a Exterminador do Futuro na caçada ao policial intrometido. E as brincadeiras do enredo dos Duffer continuam ao lembrar os fãs de horror do hospital atacado por Michael Myers, em Halloween 2; nas viagens da mente de Eleven que trazem A Hora do Pesadelo à lembrança ou a citação direta ao clássico Dia dos Mortos, de George Romero, e até o debate sobre O Enigma de Outro Mundo ser melhor que o original.

É claro que a série também tem seu lado adolescente, o que pode incomodar alguma parte do público. Namoricos, diálogos sobre amadurecimento no abandono de tradições e jogos “infantis” e a força da amizade são exploradas na produção. Os acréscimos de Robin e da “nerdErica (Priah Ferguson) ao elenco principal tornaram os episódios mais bem-humorados e possibilitaram ao espectador sensações de empatia inesperadas: ora, sabemos que dificilmente os principais serão mortos, mas personagens secundários podem ser vítimas das circunstâncias como foi o caso de Barb e Bob, nas temporadas anteriores. Sem a pirotecnia exagerada da anterior, a série se conclui em um episódio grandioso (77 minutos, incluindo uma cena pós-créditos), com excelentes efeitos especiais e novas referências como a do clássico Guerra dos Mundos, com a busca de tentáculos por um ambiente.

Há muito mais a ser explorado nessa terceira temporada, incluindo eater eggs espalhados nas conversas e ações. A trilha sonora mais uma vez permitiu uma imersão ainda mais intensa à época, como o uso da bem escolhida “Rock This Town“, do Stray Cats. Vale mencionar também a boa direção da dupla, a fotografia impecável e os efeitos visuais. Talvez cortar alguns excessos, como diálogos que não levam a lugar algum, e cenas desnecessárias poderia levar a temporada a uma avaliação absoluta, colocando-a como um dos melhores lançamentos de 2019.

Se você também não gostou muito da segunda temporada, saiba que os acertos foram maiores nesta. Dê mais uma chance para os cidadãos de Hawkins na investigação de coisas estranhas que andam acontecendo numa época que sempre vale a pena retornar.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Stranger Things – 3ª Temporada (2019)

  • 08/09/2020 em 23:01
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    As temporadas anteriores foram ótimas, mas essa terceira, vou te dizer…
    Os personagens cresceram, mas ficaram mais bobos, os adultos histéricos e exagerados, com destaque para o casal policial/mamãe discutindo desnecessariamente sobre TUDO. Sem contar o esforço também desnecessário pra dizer a todo instante que eram os anos 80 no excesso de referências e coloridos.
    Bem… os efeitos de cgi foram bons

    Resposta

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