As Sombras do Mal: As Fitas de Blackwood – Vol. 1 (2021)

4.8
(6)
As Sombras do Mal: As Fitas de Blackwood – Vol. 1
Original:The Hollow Ones: The Blackwood Tapes – Book 1
Ano:2021•País:EUA
Autor:Guillermo Del Toro, Chuck Hogan •Editora: Intrínseca

Após o sucesso da Trilogia da Escuridão (adaptada pelo canal FX para uma série de 4 temporadas chamada The Strain), Guillermo Del Toro e Chuck Hogan se juntam mais uma vez para criar mais uma trilogia cheia de elementos macabros.

Antes de mais nada, o personagem principal é uma homenagem a um dos grandes nomes da literatura de terror, considerado um dos autores mais importantes de Weird Fiction e um dos melhores em escrever uma história sobrenatural consistente e misteriosa, além de grande entusiasta do ocultismo: O inglês Algernon Blackwood (1869-1951). Sua obra Os Salgueiros é nada mais, nada menos do que um dos livros favoritos – e também uma grande referência – de H.P. Lovecraft.

O livro narra acontecimentos de três períodos diferentes, e não necessariamente em ordem cronológica, e sim em ordem de importância conforme os fatos atuais vão se desenrolando.  Tudo está conectado.

Começamos em Newark, 2019. Odessa e Walt Leppo, dois agentes do FBI, estão jantando despreocupadamente em uma lanchonete local. Enquanto isso, a quilômetros dali algo estranho estava acontecendo: um roubo, mas não um roubo comum. Um jato particular estava sendo depredado e roubado, e o autor do crime possuía um olhar vidrado e sem emoções, alvejando duas pessoas durante o processo. Como se isso não fosse o suficiente, o homem parecia não ter controle da aeronave, voando baixo e aterrorizando cidadãos. Não demorou muito para o FBI receber um alerta de emergência, e menos ainda para perceberam que o avião roubado estava em nome de Cary Peters, investigado por corrupção justamente por Odessa e Leppo. Não foi um roubo, e um alucinado Peters está a caminho da casa de sua esposa, que acabara de pedir o divórcio.

Chegando ao local, já era tarde demais. Odessa avalia a situação e procura por sobreviventes, até que Cary Peters e Walt Leppo aparecem brigando em sua frente. Curiosamente, o criminoso, já desarmado, parecia estar se defendendo do agente. A agente não teve escolha a não ser abater Peters, eis que ouve uma voz. Um dos filhos sobrevivera à chacina, e estava pedindo por socorro. Leppo segurava uma faca no pescoço da menina, exibindo um olhar vidrado e desvairado. Cabe a Odessa descobrir o que aconteceu com seu parceiro e o que foi aquele cheiro de pasta de solda que permeou o ar após a desgraça acontecer.

Agora somos transportados para Delta do Mississipi, ano de 1962. O agente Earl Solomon, um dos primeiros negros a integrar o FBI, foi enviado para solucionar o linchamento de um homem branco que aconteceu sob circunstâncias misteriosas, com elementos de algum ritual ocultista encontrados na cena. Imediatamente ao chegar, Solomon conversa com a comunidade local sobre o ocorrido, e recomendam que ele visite a casa de alguém. Um garoto de apenas seis anos anda exibindo um comportamento atípico e, ao checar o local, se depara com uma criança acorrentada exibindo um olhar vidrado de loucura, exigindo apenas uma coisa: Que Hugo Blackwood fosse até lá.

Por último, e o que vai dar sentido para toda a história, conhecemos a Londres de 1582. John Dee era filósofo, ocultista e conselheiro real. Sua fama e influência eram inquestionáveis, sendo o responsável por escolher a data de coroação da rainha Elizabeth por anos a fio. Porém, sua sorte estava para mudar. Suas previsões não eram mais certeiras, a magia elemental agora era ridicularizada e não mais caminhava de mãos dadas com a ciência. Desesperado, Dee foi atrás de uma liga ocultista clandestina, se aliando a Edward Talbot. Enquanto realizavam um ritual de invocação, havia mais uma pessoa na sala. Aparentemente era o advogado de John Dee, mas o motivo de estar ali, naquele momento, continuava obscuro. Seu nome é Hugo Blackwood, e algo deu terrivelmente errado no ritual, algo que não foi percebido imediatamente por nenhum dos presentes.

Como é típico de Del Toro e Hogan, nos é jogado um evento grandioso e peculiar logo no começo, seguido de muita tensão e mistério nas páginas seguintes. Ao invés das coisas se esclarecerem, parece que vão ficando cada vez mais complicadas e desconexas, mas vale lembrar que esse é só o primeiro volume. Conforme avançamos, o que estava desconexo começa a se encaixar, o que parecia não fazer sentido tem ligação com algum acontecimento de anos atrás até que, finalmente, tudo fica perfeitamente interligado. Não há coincidências, não há informações jogadas sem propósito, tudo está ali, e tudo se encaixa, mas não quer dizer que as coisas fiquem menos curiosas.

Caso As Sombras do Mal fosse volume único, a história teria fechado de modo bastante eficaz, com um final que poderia ser interpretado tanto como aberto quanto como um encerramento satisfatório. Porém, não é. O que significa que, essencialmente, a totalidade do que nos foi apresentado não é nem a ponta do iceberg.

A leitura é rápida e fluida. Apesar das coisas não fazerem sentido logo de cara, é escrito de tal modo que nos incentiva a continuar. O oculto sempre é algo que desperta muito interesse devido a sua aura macabra e desconhecida, imagine uma investigação sobrenatural com diversas chacinas sem explicação, cujos autores são, essencialmente, pessoas em posição de poder.

As Fitas de Blackwood tem uma característica inusual de inovar, criar uma narrativa intensa e inserir com naturalidade um tema um tanto batido, que é o sobrenatural, tal qual os autores fizeram em Trilogia da Escuridão ao pegar raízes antigas dos vampiros e jogá-los no mundo atual, o que nos leva a crer que As Sombras do Mal terá uma trama que promete ser grandiosa, complexa e sinistra.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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