3.1
(12)

Espiral - O Legado de Jogos Mortais
Original:Spiral: From the Book of Saw
Ano:2021•País:EUA. Canadá
Direção:Darren Lynn Bousman
Roteiro:Josh Stolberg, Pete Goldfinger
Produção:Mark Burg, Oren Koules
Elenco:Chris Rock, Max Minghella, Samuel L. Jackson, Marisol Nichols, Dan Petronijevic, Richard Zeppieri, Patrick McManus, Ali Johnson, Zoie Palmer, Edie InksetterK.C. Collins,

A principal armadilha criada por Leigh Whannell e James Wan foi armada contra o próprio espectador ao prendê-lo em uma situação de desespero, de praticamente obrigá-lo a acompanhar uma franquia de improváveis filmes. Imagina-se em 2004 uma TV sendo acionada com a aparição de um boneco em um triciclo e uma voz gutural ao fundo: “Olá, infernauta! Eu gostaria de propor um jogo. Você é fã de terror, de histórias surpreendentes, sangrentas, claustrofóbicas. Assiste a tudo simplesmente pela adrenalina de observar pessoas sendo perseguidas, torturadas e mortas. Pois agora é a sua vez de experimentar do seu próprio veneno. Serão lançados incontáveis filmes, uma parte com a linha narrativa presa ao genial JigSaw, enquanto também teremos outras que apenas irão se aproveitar do sucesso da fórmula, como uma espiral em constante movimento.“. No entanto, esta nova armadilha poderia também se armar contra seus realizadores, principalmente se a vítima, já calejada pela edição acelerada e o modus operandi de investigação policial e conspiração, não se surpreender com a revelação final. E foi o que aconteceu.

A ideia de lançar um novo filme da franquia Jogos Mortais surgiu, curiosamente, aqui no Brasil. Durante um casamento por estas bandas, Chris Rock teve um encontro com Michael Burns, executivo da Lionsgate, e demonstrou interesse em fazer um filme de terror, mas que também envolva sua veia cômica. O diálogo se estendeu aos filmes da franquia, um dos maiores sucessos comerciais da produtora, cujo CEO, Joe Drake, imaginou que os novos caminhos poderiam resgatar o que foi feito e, ao mesmo tempo, trazer sangue novo. Entre janeiro e abril de 2018, o longa começou a ganhar forma, com a rejeição no comando da dupla que compõe o the Spierig Brothers, responsável pelo último, Jogos Mortais: Jigsaw, mas com a proposta do roteiro entregue novamente às mãos de Josh Stolberg e Pete Goldfinger. O principal desafio era não apenas reviver o universo adormecido desde 2017, mas estabelecer uma conexão com a franquia, algo que parecia improvável sem a associação a John Kramer/Jigsaw e a algum personagem como o resistente Mark Hoffman (Costas Mandylor). Sem conseguir qualquer uma dessas possibilidades forçadas, veio então a ideia de algo completamente novo, com apenas o DNA do que fora feito, trocando vilão e até mesmo o famoso bonequinho Billy pelo Sr. Snuggles. E, então, a armadilha se voltou contra seus realizadores.

Lançado nos cinemas em diversos países na segunda quinzena de maio e no Brasil em 17 de junho, o filme logo se tornou disponível em plataformas de download. Assim, o orçamento, estimado em U$40 milhões de dólares, apenas se pagou, não se tornando o lucro esperado pelas distribuidoras; e o longa foi torturado por diversas críticas negativas, que o consideraram previsível, sem criatividade até mesmo nas armadilhas, e ainda houve uma brincadeira feita por Mick LaSalle, do The San Francisco Chronicle, que viu na nova voz do assassino uma relação com o Caco, o sapinho dos Muppets. Até os críticos que pegaram mais leve sentiram que havia um potencial ali, mas que fora desperdiçado por um elenco até bem escolhido, embora ainda seja muito complicado dissociar Chris Rock das comédias gritantes e físicas. E é exatamente essa a sensação transmitida por Espiral – O Legado de Jogos Mortais: um produto bem realizado, com o retorno à direção de Darren Lynn Bousman, mas com algumas deficiências que não podem ser ignoradas.

Ele começa como os demais filmes, com a tradicional armadilha de abertura. Nas comemorações do feriado de Independência, o detetive Marv Bozwick (Dan Petronijevic) persegue um ladrão pelas ruas até alcançar os túneis de trem. Ele é capturado por uma pessoa com uma máscara de porco, para logo depois acordar suspenso numa estrutura que o obriga a cortar a própria língua se quiser livrar as mãos e sobreviver antes de ser atropelado por um trem. É claro que ele será avisado pelo novo Bill, com uma voz que realmente causa um estranhamento para quem está acostumado com o estilo da franquia. E é claro também que aqui já se percebe algumas conveniências do roteiro: e se o detetive resolvesse não ir atrás do ladrão, uma vez que estava de folga? E se perdesse a pessoa de vista e desistisse da ação? E se ele resolvesse atirar no ladrão antes dele escapar? E se…

No dia seguinte, o detetive Zeke Banks (Rock) é apresentado pela Cap. Angie Garza (Marisol Nichols) ao seu novo parceiro, o detetive William Schenk (Max Minghella), apenas para ter aquela velha reclamação do “eu trabalho sozinho“, “falta experiência no rapaz” e por aí vai. A dupla é enviada para investigar uma morte no metrô e descobre evidências que conecta a vítima a Marv, além de semelhanças ao estilo Jigsaw de promover um fio de esperança pela vida desde que se submeta a um sacrifício físico. Uma outra armadilha é mostrada com o detetive Fitch (Richard Zeppieri) se vendo obrigado a cortar os próprios dedos para impedir uma eletrocussão, algo que novamente falha. As duas mortes e uma caixa recebida, endereçada a Banks, levam os agentes a perceber uma conexão com um fato ocorrido, envolvendo o abafamento de um crime, e a relação com o pai do detetive, o aposentado Marcus (Samuel L. Jackson).

Sim, você não leu errado. Aliás, já deve ter notado o nome dele e sua aparição nas prévias, sem que isso signifique alguma coisa. Na verdade, não significa nada. Samuel L. Jackson, o ator dos incansáveis “motherfucker“, tem uma participação que não deve durar cinco minutos, contando todas as suas cenas. Ele é importante para a proposta do vilão e ainda mais para os distribuidores, sem exigir muito além de sua tradicional fala e alguns breves momentos com o protagonista, embora não sejam suficientes para tornar a avaliação do filme melhor.

Seguindo o estilo de direção da franquia, Darren Lynn Bousman acelera as sequências que mostram as armadilhas em ação como um videoclipe, ainda que estas não sejam o principal atrativo do longa. Ele funciona mais como um thriller de investigação, com tons de vingança, mas distante do que fez David Fincher em 1995 e Russell Mulcahy em 1999. A identificação do vilão é extremamente óbvia, restando apenas ao infernauta aguardar sua motivação – e é somente esta que transforma o que seria um fiasco em uma produção mediana, com a possibilidade real de criação de uma nova franquia. Não que o impacto seja similar ao “Game Over” dito por Tobin Bell em 2004, que proporcionou ao público uma bocarra de surpresa.

Spoilers médios

Aliás, ainda sobre a identidade do vilão-mor, algumas perguntas que incomodaram Leigh Whannell e James Wan em 2004 retornam para os dois roteiristas, sobre o modo como o inimigo conseguira preparar armadilhas sofisticadas e ainda algumas ações que acontecem na fuça da polícia, envolvendo até mesmo a própria DP. A solução para a franquia original envolveu algumas ajudas, além do uso do tempo não cronológico, o que poderia exigir novos filmes. Sinceramente, prefiro que tais dúvidas se assumam como furos no roteiro.

Fim dos spoilers

Mesmo sem os méritos que iniciaram a franquia, Espiral pode abrandar a fome daqueles que ansiavam por mais jogos mortais, investigações criminais e a moral sendo ensinada pela dor e resistência. É bem realizado tecnicamente, com uma produção adequada e a câmera inquieta de Bousman, mas esteja consciente do que se trata ou a armadilha estará armada contra você.

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2 Comentários

  1. Pior que eu defendo esse filme pois eu o declaro um daqueles filmes tão ruins que são bons. Chris Rock é ao mesmo tempo a melhor e a pior coisa do filme kkkkk

  2. Vc foi generoso na nota Marcelo 😂😂😂
    Eu daria duas caveiras, só pelo esforço dos atores, pois o filme decepcionou.

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