4.9
(8)

The Power
Original:The Power
Ano:2021•País:UK
Direção:Corinna Faith
Roteiro:Corinna Faith
Produção:Rob Watson, Matthew James Wilkinson
Elenco:Mark Smith, Marley Chesham, Rose Williams, Diveen Henry, Amy Beth Hayes, Maria Major, Paul Antony-Barber, Robert Goodman, Nuala McGowan, John Mackay, Charlie Carrick

Quem costuma acompanhar minhas críticas de cinema, séries e literatura sabe que algo que considero primordial para o desenvolvimento de um enredo é o seu contexto. Não basta apenas fazer uso de monstros, assassinos mascarados e assombrações, mas colocá-las como ameaças que se unem ao contexto, seja este o mundo real ou um particular utilizado para a obra. Você pode se lembrar de muitas produções que fizeram sucesso com essa proposta como é o caso de A Noite dos Mortos-Vivos, de 1968. Não se trata apenas do primeiro filme a abordar zumbis comedores de carne humana, mas também uma representação absoluta do grau altíssimo de racismo que acometia os EUA, com a recordação recente do assassinato do ativista Malcolm X, poucos anos antes. Se a mensagem não ficar clara pelo protagonismo de Ben (Duane Jones) no confronto contra aqueles que querem destroçar sua pele, o epílogo é basicamente um tapa na cara. Quando o pano de fundo ajuda na construção de um cenário que ultrapassa camadas mais evidentes, o resultado é plenamente satisfatório. É o caso do pouco falado The Power.

Com direção e roteiro de Corinna Faith, o longa é ambientado em 1974, na Grã Bretanha na “noite do apagão“, quando mineiros em greve desligaram toda a energia elétrica como forma de protesto, afetando diversas localizações como Londres, onde se passa o filme. É claro que “a força” do título vai além desse contexto mas também uma manifestação sobrenatural que irá corromper a jovem enfermeira Val (Rose Williams). Excessivamente retraída, devido a um episódio ocorrido em seu passado, e adepta de Nossa Senhora da Graça, Val busca uma nova chance trabalhando no East London Royal Infirmary (Hospital Real de Londres) – e aqui se encerram as semelhanças com Santa Maud.

Aceitando facilmente as intimidações impostas pela Matrona (Diveen Henry), que a recorda a todo momento da hierarquia hospitalar, e mesmo temendo o escuro, Val é colocada para trabalhar no turno da madrugada. E é nele que ela conhece outros personagens que irão compor o seu terror particular como um zelador abusivo (Charlie Carrick), uma garota que é exatamente o seu oposto em atitudes (Emma Rigby), uma criança que enxerga mais do que devia e uma entidade que ronda os corredores para possuir pacientes enquanto tenta transmitir um importante recado. Simboliza a ideia que essa mensagem precisa ser transmitida dessa forma porque não há forças o suficiente para combater o Mal presente no lugar.

Assim, o terror se estabelece em um processo gradual, em longas caminhadas de Val pelo hospital, com o apoio de uma luminária, e nas manifestações, sendo que muitas delas somente testemunhadas pela jovem enfermeira, que teve uma experiência similar. Há, em dado momento da narrativa, uma sugestão de terror apenas psicológico, como se o passado da personagem tenha servido de trauma para suas visões, mostrando o quanto determinadas atitudes podem destruir a mente de uma pessoa. Se fosse essa a mensagem de Corinna Faith, também funcionaria muito bem, mas não é o caso. Val representa o “basta“, a força necessária para combater ou permitir que aquilo seja combatido.

Com uma mensagem significativa, The Power vai além de seu conceito assustador. Pelos passos lentos e pelo conteúdo que extravasa o gênero, poderia figurar nas prateleiras do pós-horror, mas não se engane: o terror aqui existe e irá se sobressair com uma força imensa no último ato como um incentivo para que a manifestação exista.

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Média da classificação 4.9 / 5. Número de votos: 8

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1 comentário

  1. Acabo de assistir o filme por recomendação do site, o contexto em si é incrível e atmosfera claustrofóbica por si só causa um terror notável. Apesar de achar tudo muito caricato o filme é pouco previsível o que ajuda a preender à atenção. Achei o tempo de filme ótimo e as atuações muito boas também a caricatura dos personagens se configura mais verossímel em decorrência do período tratatado. É de se pontuar que a diretora foge de sustos banais que um filme com essa temática poderia trazer e com isso só aumentando o ritmo de suspense. Porém, na minha opinião na segunda metade para o fim o filme se perde um pouco, a mensagem está ali e está bem clara, logo, não precisava ser tão “for dummies”, visto que o final perde-se em sua própria cafonice, mas não estragando a obra como um todo.
    Enfim, foram 1h30 mais ou menos muito bem “gastas”. Só sugiro ao site que tais filmes possam ter um alerta de gatilho na resenha, visto que algumas pessoas ao assistirem o filme e justamente por não terem um spoiler do que se tratam possam vir a ter gatilhos com a temática.
    De resto, ótima crítica sem ser longa, nem piegas e nem demonstrativa demais.

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